TERESA FIRMINO
05/08/2013 - 13:08
Carne artificial poderá tornar-se uma alternativa sustentável à
produção de gado.
Este é um pedaço de carne produzida em laboratório HO/AFP
O primeiro hambúrger-proveta vai ser cozinhado e comido esta
segunda-feira à tarde em Londres, por dois corajosos voluntários que
vão descobrir a que sabe a carne artificial. O hambúrger foi criado
por uma equipa de cientistas holandeses com células estaminais de
vaca. Os seus 140 gramas custaram, até agora, qualquer coisa como 250
mil euros, o valor gasto neste projecto de investigação.
As células estaminais têm a capacidade de dar origem a várias células
do organismo. Neste caso, a equipa de Mark Post, da Universidade de
Maastricht, utilizou células estaminais extraídas do músculo de vacas
– ou seja, que iriam originar células do músculo. No laboratório, os
cientistas cultivaram-nas depois usando nutrientes e substâncias
químicas promotoras de crescimento – e, algumas semanas depois, elas
multiplicaram-se em milhões e milhões de células.
Na fase seguinte, essas células foram colocadas em placas com pequenos
buracos em forma de anel. Ficaram aí a formar pequenas tiras de tecido
de músculo, com cerca de um centímetro de comprimento e alguns
milímetros de espessura, refere uma notícia da BBC online.
Essas tiras de tecido de músculo foram congeladas, em seguida
descongeladas e amalgamadas numa pasta, prontas para serem cozinhadas.
Por enquanto, esta carne artificial é esbranquiçada, o que é algo
distante de um suculento pedaço de carne vermelha, porque, entre
outras coisas, lhe falta o sangue.
Para que a experiência não seja sensaborona, o hambúrger que vai ser
cozinhado hoje em Londres será tingido com sumo de beterraba, para se
assemelhar a um pedaço de carne convencional, acrescentando-se ainda
pão ralado, caramelo, açafrão para dar sabor.
Experiências iniciais realizadas pela equipa sugeriram que o hambúrger
não tinha um grande sabor, admitiu Mark Post à BBC online, mas que era
"suficientemente bom".
O que dirão os dois voluntários? Pelo menos em 2010, um jornalista
russo que visitou o laboratório de Mark Post aventurou-se a provar a
carne artificial e o seu relato da experiência, segundo o cientista
holandês citado numa notícia da revista Nature na altura, o músculo in
vitro era "difícil de mastigar" e "sem sabor".
A equipa está a tentar resolver a parte do aspecto: Helen Breewood,
que trabalha com Mark Post, tem feito experiências que procuram
conferir um aspecto vermelho à carne artificial, estimulando a
produção de mioglobina, a proteína que contém o ferro e transporta o
oxigénio no sangue. Por outro lado, para fazer pedaços de carne
maiores, será preciso um sistema circulatório artificial que distribua
oxigénio e nutrientes aos tecidos.
Para quê tudo isto? Porque a produção de carne vai tornar-se
insustentável, com uma procura cada vez mais crescente à medida que a
população global aumenta, com custos ambientais, ao nível do consumo
de energia, de água e de emissões de gases com efeito de estufa
resultantes da criação de gado.
"As pessoas podem achar que é uma maneira louca produzir carne. Mas a
maneira de produzir carne agora não é sustentável. Não é bom para os
animais, para o ambiente", disse à BBC Mark Post. "Esta é uma das
alternativas e pode ser, na verdade, a alternativa."
A tornar-se uma realidade, os consumidores ainda terão de esperar
daqui dez a 20 anos, diz a equipa, para se cruzarem com um naco de
carne artificial nos supermercados.
A experiência pode ser vista aqui, pouco depois das 13h (hora de Lisboa).
http://www.publico.pt/ciencia/noticia/o-primeiro-hamburgerproveta-vai-ser-cozinhado-e-comido-em-londres-1602252
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