sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Bruxelas renuncia a seguir o rasto de animais clonados para não aborrecer os EUA

AFP

18/12/2013 - 17:05

Os descendentes de animais clonados para fins alimentares humanos são
uma realidade, em particular nos Estados Unidos, na Argentina, no
Brasil e no Uruguai.

De que animais vem exactamente a carne que comemos é a grande questão
FERNANDO VELUDO/NFACTOS

A Comissão Europeia propôs nesta quarta-feira a proibição da clonagem
animal para fins alimentares, mas renunciou a banir a venda de carne e
de leite de descendentes de animais clonados para não indispor os seus
parceiros comerciais, nomeadamente os Estados Unidos.

"A Comissão propõe interditar a técnica da clonagem em animais de
pecuária e a importação de animais clonados para a União Europeia",
anunciou o comissário europeu da Saúde, Tonio Borg, durante uma
conferência de imprensa. "Propomos interditar a técnica da clonagem
para fins alimentares e a importação de animais clonados", insistiu.

"Mas não propusemos a etiquetagem" para a carne fresca de bovinos
descendentes de animais clonados, acrescentou Tonio Borg, dizendo que
o assunto foi falado durante a reunião da Comissão Europeia.
"Discutimos todas as possibilidades, incluindo a etiquetagem da carne
fresca de bovinos descendentes de animais clonados, e considerámos que
é preciso proceder a uma análise profundada."

"Compete agora ao Conselho [de ministros da União Europeia] e ao
Parlamento Europeu discutirem e lançarem o debate", concluiu Tonio
Borg. "O Parlamento Europeu vai-nos saltar em cima", antecipa a
Comissão Europeia, uma vez que a França e a Alemanha, defensores
declarados do seguimento do rasto histórico dos produtos clonados,
deverão passar ao contra-ataque.

"Os nossos pratos não devem tornar-se uma lixeira"
"Esta proposta é um insulto ao Parlamento Europeu e aos cidadãos que
representa", insurgiu-se, num comunicado, a eurodeputada ecologista
francesa Sandrine Bélier, do grupo dos Verdes.

"A prontidão dos negociadores americanos e europeus em ver concluído o
novo acordo transatlântico de livre comércio coloca em cima da mesa
uma proposta que o Parlamento Europeu tinha claramente rejeitado. As
negociações comerciais não devem ser um cavalo de Tróia para medidas
não democráticas e contrárias aos valores da União Europeia",
acrescentou a eurodeputada ecologista.

"Os nossos pratos não devem tornar-se uma lixeira. Não abramos a caixa
de Pandora da manipulação dos animais vivos", advertiu, por sua vez, o
eurodeputado ecologista francês José Bové, também do grupo dos Verdes.
Este grupo decidiu batalhar no Parlamento Europeu contra esta proposta
da Comissão Europeia.

Na União Europeia, a clonagem animal para fins alimentares só se
pratica na Dinamarca. A carne dos clones não é comida, devido ao preço
muito elevado dos exemplares. Mas os seus embriões e sémen são
comercializados e exportados e os seus descendentes são criados, em
particular, nos Estados Unidos, na Argentina, no Brasil e no Uruguai.

Todos os anos, a União Europeia importa entre 300.000 a 500.000
toneladas de carne de bovino dos Estados Unidos e da Argentina, países
que autorizaram a clonagem para fins comerciais mas sem nenhum sistema
que permita seguir o rasto dos animais.

A Comissão Europeia, o Parlamento Europeu e os governos falharam em
entender-se, uma primeira vez, em 2011 sobre um enquadramento da
questão. Após três anos de negociações infrutíferas, os
Estados-membros consideraram exageradas as exigências dos
eurodeputados relativas a um sistema de rastreabilidade.

O Parlamento Europeu exigia um sistema de rastreabilidade bastante
avançado, para informar os consumidores de toda a carne oriunda de
animais clonados remontando a várias gerações. Isto iria impor aos
Estados Unidos e à Argentina controlos que eles não querem fazer, e a
União Europeia seria obrigada a bloquear as importações, arriscando-se
a uma nova guerra comercial semelhante à provocada pela proibição da
carne com hormonas dos Estados Unidos. A União Europeia está a
negociar com os Estados Unidos um acordo de livre comércio.

http://www.publico.pt/ciencia/noticia/bruxelas-renuncia-a-seguir-o-rasto-de-animais-clonados-para-nao-aborrecer-os-eua-1616797

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