segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Futuro da água mais dependente do uso ecológico

22h16m

EDUARDA FERREIRA

Onze peritos em áreas que confluem na análise dos problemas do acesso à água foram convidados pela Fundação Gulbenkian a estabelecer cenários para 2050. Hoje, segunda-feira, tiveram a sua primeira reunião de trabalho em Lisboa e falaram do projecto numa sessão pública.

"Nunca deixaremos de ter água, porque esta é na maioria renovável", lembrou um dos membros do Think Tank Gulbenkian Sobre a Água e o Futuro da Humanidade. Mas Peter Gleick, presidente do Pacific Institute (Califórnia) advertiu logo: "Teremos, isso sim, grandes dificuldades nas reservas de água não-renovável". E estas são sobretudo constituídas pelos aquíferos subterrâneos, de recarga muito lenta e nos quais assenta uma parte significativa do consumo humano (Portugal incluído).
Gleick é de opinião de que em muitos pontos da Terra já foi atingido o limite de exploração. Segundo ele, em relação ao recurso água raras vezes tomamos em conta problemas como a salinização dos aquíferos ou a perda dos eco-sistemas.


"Chegamos a um ponto em que aquilo que retiramos de água como recurso acaba por prejudicar-nos mais ecologicamente do que nos favorece", alertou o conferencista, indicando como exemplos os impactos nas pescas. Gleick citou, ainda, o caso extremo de exploração a que foi sujeito o grande rio Colorado: já nem tem um fio a desaguar no Golfo do México, sujeito que está a múltiplos restrições por barragens.

O trabalho de prospectiva que os peritos convidados pela Gulbenkian vão fazer sobre a disponibilidade de água terá em conta, por exemplo, a questão da segurança alimentar, sabendo-se que a agricultura consome quase 80% dos recursos hídricos. Jan Lundqvist, conselheiro do Instituto Internacional da Água de Estocolmo, recorreu a números para mostrar que, se o abastecimento alimentar aumentou 5% em 2007-2008, em simultâneo aumentou em 150 milhões o número de pessoas sub-alimentadas.

"O aumento de produção não garante equidade", concluiu, lembrando que essa tendência remonta a 1994. A questão, referiu ainda Landqvist, está em saber como se irão produzir alimentos com recurso continuado à água se a população mundial passar, como dizem as estimativas, para nove mil milhões de pessoas em 2050 (mais quase três mil milhões do que actualmente) e ainda para mais concentradas nas cidades.

O coordenador deste grupo de reflexão considera que "as crises da água resultam mais de uma governância inadequada do que da escassez". Para Luís Veiga da Cunha, que há décadas se dedica ao estudo deste recurso,  "com a crise financeira varreu-se para debaixo do tapete as outras componentes que interagem com essa crise". Entre outras, as vertentes sociais e ambientais . Sobre o recurso água, admitiu que no futuro a tendência será para "um agravamento global da situação".

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