terça-feira, 3 de setembro de 2013

Monte Velho: quando um vinho barato é bem feito nem o tempo se atreve a criar-lhe rugas

Não é comum um grande produtor convidar jornalistas para uma prova
vertical de uma sua entrada de gama. Pois foi isso que a Herdade do
Esporão fez recentemente, com o pretexto de apresentar as suas mais
recentes colheitas de Monte Velho, branco e tinto de 2012.

João Roquete e David Baverstock, respectivamente administrador e chefe
de enologia da empresa não tiveram medo de mostrar a sua marca de
combate (mais de cinco milhões de garrafas vendidas anualmente), das
quais cerca de metade no mercado estrangeiro, tendo como principais
mercados Angola, Brasil e Estados Unidos da América, onde acabam de
firmar um contrato com uma cadeia que tem mais de 400 lojas.

Quando David Baverstock chegou ao Esporão, em 1992, já havia em
depósitos o que haveria de ser a primeira produção de Monte Velho,
lançado no mercado no final desse ano. Foi um sucesso imediato e nos
anos que seguiram passou quase a ser sinónimo de vinho do Alentejo. A
procura foi tal que as uvas de produção própria não chegavam e a ida
ao mercado também não foi a solução ideal. A Finagra, proprietária do
Esporão, avançou com a compra da Herdade dos Perdigões. Hoje, também
essas uvas já são suficientes, existindo um contrato com cerca de duas
dezenas de produtores que praticam uma viticultura integrada, com
processos naturais e a proibição de utilização de alguns produtos
químicos.

"Foi o Monte Velho que nos deu o impulso para crescer, para encarar o
futuro com outros olhos, pensar noutros projectos e ter outras
ambições", disse João Roquete.

Mas pode um vinho que se quer de consumo rápido aguentar a passagem do
tempo com alguma tranquilidade? Para além das novidades de 2012
provámos os 2008, 2010 e 2011 brancos e 2004, 2007, 2008, 2009, 2010 e
2011 tintos. Os que mais surpreenderam foram o branco de 2008 e o
tinto de 2007, este último a mostrar uma graciosidade totalmente
inesperada num vinho deste patamar de preço e com quase sete anos de
garrafeira. Mas também o 2004 surpreendeu pela forma elegante como
evoluiu e como se apresenta quase uma década decorrida depois da
vindima.

As garrafas da colheita de 2012 apresentam novos rótulos com a
indicação das castas utilizadas e também são menos pesadas, factor a
ter em conta quando se procura ter uma atitude amiga do ambiente,
neste caso com a diminuição, em toda a linha, da pegada de carbono.

David Baverstock era um homem feliz no final do almoço. Afinal quem
sabe fazer deliciosos topos de gama também mostra a sua mestria em
vinhos ao alcance de todas as bolsas. Chama--se a isso talento.

MONTE VELHO BRANCO 2012 - 3,80€ Vinho bem feito, de perfil moderno,
com boa acidez, médio de corpo e de aromas (algum vegetal e notas
citrinas). Revela-se uma boa companhia para o dia-a-dia.

MONTE VELHO TINTO 2012 - 4,50€ Um vinho jovem, alegre com aroma de
fruta madura. Os taninos são firmes, por isso é um vinho que pede
comida a condizer, naturalmente pratos de panela (guisados e
estufados) e também assados com alguma gordura.

http://www.ionline.pt/artigos/mais-igastronomia/monte-velho-quando-vinho-barato-bem-feito-nem-tempo-se-atreve-criar-lhe

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