Polícia
2010-12-06
ALEXANDRA SERÔDIO
foto HENRIQUES DA CUNHA/GLOBAL IMAGENS
O sargento Sérgio Malacao, da GNR de Coruche, mostra pinhas apreendidas
É um negócio de milhares que alimenta um mercado paralelo, e que está
longe de ser conhecido. Depois de anos de denúncias, a GNR montou uma
operação e durante um mês apreendeu mais de 50 toneladas de pinhas
mansas. Há mais de 35 arguidos constituídos.
São ágeis, têm entre os 18 e os 50 anos, a maioria dos assaltantes são
desempregados e vivem do subsídio de inserção social e têm cadastro
por furtos, e trepam a um pinheiro com enorme facilidade.
Pela calada da noite, munidos de uma pequena lanterna colocada na
cabeça, uma escada de ferro e uma vara, retiram em poucos minutos
milhares de pinhas mansas.
"Muitas vezes, nem os vemos. Estão escondidos entre a caruma e só
tiram as pinhas localizadas no centro da árvore" assegura o comandante
do posto da GNR de Coruche, que durante um mês colocou em curso uma
verdadeira caça aos "assaltantes das pinhas".
O projecto do Comando Territorial da GNR de Santarém e desenvolvido em
todo o distrito pelo SEPNA, permitiu a apreensão de mais de 50
toneladas de pinhas, sendo que 90% ocorreram no concelho de Coruche. A
vasta mancha florestal e o rendimento apurado com este tipo de delito
é, segundo as autoridades, "a razão para que muitos corram o risco",
havendo até "quem tire férias nesta altura só para se dedicar ao furto
das pinhas".
"Este ano, excepcionalmente, a apanha da pinha é permitida entre 1 de
Dezembro e 1 de Abril, mas aqui no concelho houve muitos que começaram
antes de tempo", frisa o primeiro-sargento Sérgio Malacão, lembrando
que a lei proíbe não só a apanha, como também o transporte e o
armazenamento.
Segundo o responsável, nos últimos dias da operação, "a GNR ainda
apreendeu uma carrinha com mais de quatro toneladas de pinhas". Ao
preço de 70 cêntimos o quilo, valem 3150 euros.
O negócio vale 3,5 milhões de euros e corresponde a 150 milhões de
quilos de pinhões produzidos em Portugal. "É um autêntico inferno"
assegura Hélio Cecílio, o empresário que vê serem retirados dos seus
pinhais mais de 100 toneladas de pinhas por ano.
Proprietário da única fábrica de pinhão de Coruche, diz que as verbas
envolvidas neste negócio "cria apetite aos ladrões". E lembra que "o
que é furtado entra no mercado paralelo, prejudica os produtores,
desestabiliza todo o sistema". É que "quem rouba vai vender a um preço
elevado, e alguns que compram não passam documentos, prejudicando uma
fileira importante que dá trabalho a muita gente", diz.
"É muito difícil de controlar" assegura o presidente da Associação de
Produtores Florestais de Coruche, garantindo que "15 a 20% da produção
de pinhas é furtada". António Gonçalves Ferreira admite que os furtos
de pinhas "são muito graves e preocupantes" no concelho e considera de
"muito útil" a acção da GNR.
http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Policia/Interior.aspx?content_id=1728020
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