Factor humano é uma das maiores limitações
Os pontos fortes
O sector leiteiro Portugal não só é capaz de produzir o leite que
consome como ainda dispõe de uma ligeira margem para exportar. Mais:
num sector aberto ao investimento estrangeiro, as marcas nacionais
continuam a dominar o mercado. O sucesso do sector resulta em grande
parte do trabalho da rede de cooperativas do Norte e do Centro do país
que se uniram para criar o gigante Lactogal. A concorrência e a
procura da eficiência afastaram dezenas de milhar de pequenos
produtores do negócio e, nos dias de hoje, a redução dos preços está a
causar ameaças aos que restam. Mas, numa área difícil, a agricultura
nacional saiu-se bem.
Azeite É talvez o mais fulgurante caso de sucesso dos últimos anos.
Por volta de 1960, a produção de azeite foi ameaçada pelos incentivos
políticos concedidos aos óleos vegetais. Quando entrou na CEE,
Portugal importava mais de três quartos das suas necessidades, embora
reexportasse uma parte. A cultura caiu no esquecimento, mas uma série
de investimentos espanhóis, nota Sevinate Pinto, "ensinou-nos como se
faz". Ainda que tenhamos de comprar quase metade das nossas
necessidades, na última década fez-se o maior olival do mundo, a área
cresceu 10 mil hectares entre 2005 e 2009 e quando os jovens olivais
entrarem em produção Portugal pode ficar perto da auto-suficiência.
Frutas e legumes Há anos que se anunciava o potencial nacional para as
frutas e legumes e agora esse potencial começa a dar frutos. No ano
passado, as exportações do sector ficaram quase 200 milhões de euros
acima das do vinho. Sem alarido, nas zonas do Oeste ou no vale do
Mira, jovens empresários, voltados para o mercado e abertos à
exportação começaram a tornar o sector num caso sério. Portugal é
excedentário em legumes, mas, apesar do lento salto na produção de
fruta, ainda depende em 35 por cento do que consome do exterior. O
país está ainda a ganhar fôlego em novas produções, com o destaque
para o kiwi.
Vinhos Os vinhos portugueses ganham cada vez mais prémios
internacionais, mas, se não fosse a expressão do vinho do Porto, que
vale quase metade dos 594 milhões de euros exportados em 2009, o
desempenho externo do sector seria duvidoso. Ainda assim, a
viticultura e a enologia deram saltos para níveis internacionais, há
empresas com músculo (a Sogrape tem propriedades na Argentina e na
Nova Zelândia) e mercados que começam a ficar consolidados, como o do
Brasil ou de Angola. No ano passado, as exportações cresceram 17 por
cento.
Os pontos fracos
Cereais Em 1990, a agricultura produziu 44,2 por cento das
necessidades de consumo de cereais; em 2008, já só respondia por 25,3
por cento. Durante os primeiros anos da PAC, os preços altos ou os
subsídios foram mantendo o nível produtivo; quando, depois de 2005, as
ajudas da PAC começaram a ser pagas sem qualquer ligação às
sementeiras ou às colheitas, os agricultores fizeram as contas e
concluíram que a venda de grão não dava em muitos casos para compensar
os gastos com adubos ou mão-de-obra. Metade da área foi retirada da
produção e em muitos casos transferida para pastagens, nota António
Serrano. As condições do solo e do clima nacionais não tornam a
produção competitiva.
PAC A arquitectura da PAC foi feita a pensar no Norte da Europa e não
no Mediterrâneo. Por exemplo, os cereais ou a carne bovina são
altamente subsidiados, mas as frutas e os legumes não. E como o valor
dos subsídios se associa aos índices históricos de produtividade, uma
agricultura atrasada como a nacional ficou condenada a ser uma espécie
de parente pobre . Depois de 2005, a PAC mudou e cristalizou este
modelo, concedendo um "pagamento único" por exploração com base nesses
índices. Ao permitir que o agricultor escolha o que fazer nas terras,
promoveu o abandono de áreas menos competitivas. A nova PAC, prevista
para 2013, corrigirá esta situação.
Perfil dos agricultores Há 30 anos, um milhão de portugueses
trabalhava na agricultura (nem todos a full-time); em 2009, resistiam
540 mil. Quem ficou? Os mais velhos. Quase 45 por cento têm mais de 65
anos. Nem um por cento tem formação agrícola completa, contra 8,7 por
cento da média europeia. Alguns, poucos, lideram empresas, que
representam dois por cento das explorações. Não há um retrato padrão
dos agricultores, mas sabe-se que, na maior parte dos casos, estão
longe de ser capazes de responder à competição actual.
Manuel Carvalho
http://jornal.publico.pt/noticia/08-03-2011/o-mais-e-o-menos-do-portugal-agricola-21502318.htm
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