sexta-feira, 18 de março de 2011

S.O.S. para o mundo rural - Sustentabilidade ameaçada

A Comissão Parlamentar de Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas
da Assembleia da República, no seu périplo junto de alguns
representantes do sector produtivo agrícola das zonas do Barroso e do
Alto Tâmega, constatou que o mundo rural está a ficar esquecido pelo
Poder Central. Todos os representantes das forças políticas nacionais
ficaram preocupados com o êxodo rural, e com a diminuição dos apoios e
incentivos, nomeadamente na área da pecuária, florestal, vinho, batata
e produtos de denominação de origem protegida
17:24 Quinta feira, 17 de Março de 2011
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No início desta semana, dez deputados, representativos dos vários
grupos parlamentares da Assembleia da República (AR), visitaram os
concelhos de Chaves, Vila Pouca de Aguiar, Boticas, Valpaços e
Montalegre, onde sentiram o eco das dificuldades do sector associativo
e prometeram que irão levar a debate nos vários órgãos da AR a crise
de sustentabilidade que afecta o sector agrícola em Trás-os-Montes.
Na segunda-feira, nas instalações da Cooperativa Agrícola de Boticas,
o deputado Pedro Soares, do Bloco de Esquerda (BE), falou sobre as
dificuldades que atravessa o sector pecuário, que não consegue
comercializar, nem escoar os seus produtos. Alguns dos intervenientes
foram incisivos e pediram a intervenção urgente do Governo em algumas
matérias. Luís Lopes, em representação da Associação do
Maronês/Cooperativa Agrícola de Vila Real, defendeu uma maior
valorização da carne e a criação de uma rede comercial que valorize e
garanta o escoamento do produto. Ao mesmo tempo, falou na necessidade
de mais apoios sustentáveis ao criador da raça maronesa, deixando um
alerta: "Há produtores que são tentados ao cruzamento com outras raças
para alcançar mais ganhos em termos de mercado. Facto que pode colocar
em perigo a pureza da raça, no futuro". Este dirigente assumiu também
uma "rede de comercialização mais consentânea".
No mesmo sentido, Xavier Barreto, produtor da raça barrosã, focou a
questão do perigo do cruzamento de raças e na consequente perca da sua
identidade, o fim de apoios ao regime 'Qualidade' e a diminuição de
prémios à produção. No sector da raça barrosã, foram revelados alguns
números que são bem claros quanto à sua regressão. "No início de séc.
XX, no Barroso, havia cerca de 220.00 animais. Em 1975, existiam 30
mil, hoje apenas há um efectivo de 7.500 cabeças".
Albano Alvares, presidente da Capolib, aproveitou para tecer duras
críticas ao Ministério da Agricultura e ao Governo, pela falta de
políticas de apoio ao associativismo. Deixou ainda no ar que "se tudo
a continuar assim, as cooperativas acabarão e a actividade agrícola
será muito penalizada". "Nos últimos sete anos não houve nenhum
projecto de um jovem agricultor, isto é sintomático e mostra como o
mundo rural está a desaparecer".
"As políticas públicas de apoio nem sempre têm funcionado bem"
Pedro Soares, presidente da Comissão, sintetizou as preocupações
ouvidas e reconheceu dificuldades na sobrevivência do mundo rural. "De
facto, o mundo rural precisa de um S.O.S. Acompanhamos com muita
atenção as preocupações dos diversos sectores da produção agrícola,
nomeadamente da castanha, da batata, das raças autóctone e do vinho
(Valpaços). Também noto a vontade e o esforço de todos os actores em
investir na agricultura e combater o êxodo rural". Há problemas
comuns, como os preços à produção que "são muito baixos e há um
esmagamento de preços por parte da distribuição". "As políticas
públicas de apoio também nem sempre têm funcionado bem. Este tipo de
questões tem de ser resolvidas". "De um lado, temos os produtores
agrícolas a fazerem um enorme esforço para que haja um aumento de
produção, para manter os sectores em actividade e proporcionar a
fixação dos mais jovens. Por outro lado, temos as políticas públicas
que nem sempre correspondem a este esforço".
Pedro Soares sublinhou que a Comissão veio ouvir e inteirar-se dos
problemas para ter uma melhor percepção das dificuldades que existem
no terreno nas áreas do interior, para levar estas preocupações à
Assembleia da República e ao Governo. "Esperamos que, por iniciativa
dos grupos parlamentares, existam mudanças no sentido de dar de facto
uma nova vida ao mundo rural e à produção agrícola. O país não é só
constituído pelas grandes áreas metropolitanas. Todas as regiões do
interior têm de manter as suas populações e sem rendimento, nem
riqueza, será muito difícil que as populações se mantenham".
Preocupações com a Casa do Douro
Confrontamos Pedro Soares sobre o "dossier" da Casa do Douro, numa
perspectiva parlamentar. O deputado voltou a insistir na defesa de um
organismo público e com funções dirigidas para os viticultores e
produtores. "Estamos muito preocupados com a situação da Casa do
Douro. Há poucos dias, tivemos uma reunião com o senhor ministro da
Agricultura que nos informou que já há uma evolução relativamente ao
problema do pagamento do IRC, no plano de recuperação financeira da
Casa do Douro. A Casa do Douro continua à espera da confirmação dessa
possibilidade de acordo e, por isso, ainda estamos neste impasse. De
facto, também não existe nenhuma referência escrita quanto a este
consenso. Por outro lado, continuamos a pensar que o Governo está a
ter uma atitude penalizadora relativamente à CD, procurando sobretudo
transferir competências para o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto,
e para outros organismos, desprotegendo a Casa do Douro, que é uma
organização fundamental para milhares de viticultores da região
duriense. Quero salientar o seguinte: Sem uma Casa do Douro forte, que
não tenha funções públicas para servir os próprios agricultores, irá
abrir-se portas ao avanço desregrado da distribuição e da grande
comercialização, que vão impor aos viticultores, como se tem registado
noutros sectores. Assim, iremos observar o esmagamento dos preços dos
vinhos junto dos produtores, e é precisamente isto que temos de
evitar. Será este o mote para continuar o combate pela defesa da Casa
do Douro".
http://aeiou.expresso.pt/sos-para-o-mundo-rural=f638282

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