Várias dezenas de hectares de montado nos concelhos de Odemira,
Santiago do Cacém e Sines estão a ser afectadas por uma praga de
lagartas-do-sobreiro, que impede que a cortiça seja extraída das
árvores.
António Oliveira, proprietário da Herdade da Moitinha (Odemira), é um
dos prejudicados, pois terá de deixar, nos seus sobreiros, entre 1.500
e 1.700 arrobas de cortiça em condições de ser comercializada.
O produtor decidiu "não descortiçar" as árvores, para não as debilitar
mais, embora não tivesse recebido aconselhamento dos serviços
florestais nesse sentido. Para António Oliveira, trata-se de um
prejuízo "grande", já que "o dinheiro fica a fazer falta para o
maneio".
No final do mês de Maio, o produtor detectou lagartas nas árvores, as
quais, "rapidamente e sem explicação", deram origem a uma praga.
"Passados alguns dias, já isto era como fogo", descreveu.
Francisco Félix, técnico agrário e produtor de sobreiros, disse que se
trata de uma "lagarta que danifica muito o sobreiro": "Comem a folha e
depois o sobreiro fica como se tivesse passado um incêndio. Não há
vegetação na árvore, a árvore não cresce, a cortiça não engrossa e a
produção de lande não existe. A lagarta come tudo", resumiu.
Também Teresa Varela, proprietária de mais de cem hectares de montado
de sobreiro naquela região, deu conta desta praga que foi inicialmente
detectada numa área de cerca de 1.200 hectares de sobreiro, mas que,
em meados de Junho, estava já em 3.000 hectares.
No início de Junho, Teresa Varela tentou organizar os proprietários
com áreas afectadas pela praga para que, em conjunto, se candidatassem
a um financiamento do ProDeR (Programa de Desenvolvimento Rural), que
financia 80 por cento dos custos do combate da praga a partir dos
5.000 euros.
No entanto, explicou, "há proprietários que não tem dimensão para se
candidatarem ao apoio do ProDeR, outros não quiseram candidatar-se
seja porque razão for e isso inviabilizou a candidatura, enquanto
grupo".
Teresa Varela, que tem mantido contactos com o Ministério da
Agricultura, contou ainda que este ano não foi possível avançar com a
candidatura ao ProDeR com os 19 proprietários afectados, mas disse que
é importante que, para o ano, já seja possível formalizar uma
candidatura com todos os proprietários afectados, "que serão já cerca
de 50".
Fernando Rei, da Universidade de Évora, explicou agência à Lusa que "a
dimensão dos estragos associados a insectos que atacam as folhas e
depende muito da dimensão das suas populações presentes nas árvores" e
que "à medida que essa presença se intensifica, maior será o consumo
das folhas, contribuindo para o enfraquecimento das árvores, reduzindo
o seu crescimento e a produção de cortiça e bolotas".
No entanto, acrescentou o professor, "a morte das árvores atacadas só
ocorrerá sob grandes ataques da limantria e à posterior acção de
outras pragas e doenças".
O Ministério da Agricultura, por seu lado, explicou que se trata de
uma praga endémica nos montados portugueses cujas populações aumentam
em anos como o de 2012, "em que ocorreu um período de seca intenso
durante os meses de Janeiro, Fevereiro e Março, tornando mais visíveis
os seus ataques, assim como mais graves os danos que causam".
No entanto, esclarece a tutela, não se trata de um organismo nocivo de
quarentena, "pelo que não existe uma obrigação legal para implementar
um plano de contenção". Aquilo que o ministério tem feito é "prestar
apoio de aconselhamento técnico a quem o solicita".
Fonte: Lusa
http://www.agroportal.pt/x/agronoticias/2012/07/02b.htm
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