02.07.2012
Helena Geraldes
Portugal tem as condições necessárias para reduzir em 60% as suas
emissões de gases com efeito de estufa até 2050, revela o Roteiro
Nacional de Baixo Carbono, apresentado nesta segunda-feira pelo
Ministério do Ambiente.
O estudo, que levou ano e meio a ser elaborado, baseou-se em dois
cenários para concluir que o país pode reduzir entre 50% a 60% as suas
emissões de gases com feito de estufa (GEE) até 2050, em relação aos
dados de 1990, numa trajectória custo-eficiente. Este poderá ser o
contributo português para o esforço da União Europeia, que quer
conseguir uma redução de 85% a 90% das emissões até 2050. Estas metas
são necessárias se o mundo quiser limitar aos 2ºC o aumento da
temperatura global até ao final do século.
Todos os sectores de actividade têm potencial de redução de emissões,
revela o roteiro, mas a produção de electricidade, os edifícios e
transportes são aqueles que poderão dar um maior contributo.
Os transportes representam um dos maiores potenciais de redução de
emissões. Este sector pode reduzir entre 64% e 85% os seus GEE até
2050, nomeadamente através da mobilidade eléctrica e dos
biocombustíveis. O roteiro refere também o sector de produção de
electricidade, capaz de reduções entre os 71% e os 82%, sobretudo
graças à maior aposta nas energias renováveis, e a indústria, com
reduções de 33% a 35%. A análise feita pelo roteiro, documento
previsto numa Resolução de Conselho de Ministros de 26 de Novembro de
2010, diz ainda que o sector dos resíduos tem um potencial de redução
das emissões de 39% a 53%, isto se acabar a deposição do lixo nos
aterros em 2030 e se forem concretizados modelos para valorizar os
detritos do país.
Segundo Nuno Lacasta, presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, a
redução das emissões em nome de uma economia mais eficiente – que
produza mais gastando menos recursos – terá impactos económicos que,
"regra geral, serão pouco significativos". As análises do roteiro
mostram que, para o sector energético, os custos adicionais do baixo
carbono, por ano, e em média a 40 anos, são de 70 a 380 milhões de
euros, com uma meta de redução de 60% de emissões. A maior parte deste
montante corresponde a novos investimentos (média anual de 28 a 253
milhões de euros). "Estes custos incluem investimentos inevitáveis
(...) sem os quais poderá haver perda de competitividade", refere o
roteiro.
Além disso, Nuno Lacasta lembrou que o país "não parte do zero porque
conseguiu reduções [de emissões] superiores a 20%" e acrescentou que
uma economia de baixo carbono trará benefícios como a melhoria da
qualidade do ar e a criação de empregos "verdes".
Para o secretário de Estado do Ambiente, Pedro Afonso de Paulo, esta é
"a visão para 2050 do desenvolvimento de Portugal", um país
"especialmente exposto às alterações climáticas, de que são provas a
seca e a erosão das zonas costeiras". Por isso, disse, "precisamos
preparar a transição das nossas economias o quanto antes", até porque
"já existem as tecnologias, faltam é políticas públicas alinhadas".
"Este é um caminho que acreditamos ser possível e este estudo
demonstra isso", disse a ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente
e do Ordenamento do Território (MAMAOT), Assunção Cristas, na
cerimónia de apresentação do documento, na representação da Comissão
Europeia em Portugal. Ainda assim, "é um caminho exigente, que implica
a mudança de paradigmas".
Segundo Assunção Cristas, este roteiro – que entra agora em discussão
pública – é apenas um trabalho de projecções e cenários que aponta o
caminho a seguir. Mas lembrou que já estão no terreno medidas
concretas, nomeadamente na área da eficiência no uso da água e na
eficiência energética. "O que vai acontecer agora é que vamos
intensificar os nossos esforços em outras áreas, no contexto deste
roteiro".
http://ecosfera.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1553027
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