António Carneiro, RTP05 Jun, 2013, 11:37 / atualizado em 05 Jun, 2013, 11:51
REUTERS/Jason Lee
A China lançou esta quarta-feira uma investigação contra a prática de
dumping e subsídios a vinhos importados da Europa, numa aparente
retaliação contra Bruxelas, que ontem impôs uma taxa sobre os painéis
solares fabricados na China. O aumento das tensões comerciais entre a
China e a União Europeia tem como pano de fundo as queixas das
indústrias locais, que se dizem prejudicadas por práticas ilegais.
As taxas anunciadas na terça-feira pela União Europeia incidem sobre
as importações de painéis solares chineses que, segundo os fabricantes
europeus, beneficiam de subsídios do governo de Pequim e são
"despejadas" nos mercados abaixo do preço do custo para "estoirar a
concorrência" (dumping).
A China é o maior exportador mundial de painéis solares e a Europa
representa cerca de três quartos do mercado fotovoltaico global. O
comissário europeu do Comércio, Karel De Gucht, disse ontem que o
preço dos painéis solares chineses vendidos na Europa deveria ser
superior em 88 por cento ao atualmente praticado.
Um comunicado da Comissão Europeia explica que os produtores europeus
de painéis solares, incluindo a Solarworld AG, que é o principal
fabricante de tecnologia para energias renováveis da Alemanha,
sofreram "prejuízos consideráveis" devido à prática de dumping nas
importações chinesas.
25 mil postos de trabalho em risco
Bruxelas estima que cerca de 25 mil postos de trabalho possam ser
perdidos nas fábricas de painéis solares europeias, se não forem
aplicadas taxas às importações chinesas.
A decisão de aplicar as taxas não foi consensual entre os Estados
europeus, muitos deles receosos de perder os seus mercados na China,
pelo que os valores que vão ser aplicados acabaram por ser muito
inferiores ao inicialmente previsto.
Assim, a taxa inicial sobre os painéis solares chineses é de 11,8 por
cento e será aplicada durante seis meses, podendo ser prolongada por
mais cinco anos.
China rejeita "taxas injustas"
A China diz "opor-se completamente" às taxas "injustas" aplicadas pela
UE e reagiu com o lançamento de uma investigação própria aos vinhos
europeus. Pequim alega também aqui suspeitas de prática de dumping e
subsídios.
"O governo e a indústria chineses demonstraram grande sinceridade e
realizaram grandes esforços em resolver esta questão através do
diálogo e de consultas", disse o Ministério do Comércio Chinês numa
declaração.
"Esperamos que o lado europeu demonstre mais sinceridade e
flexibilidade em encontrar uma solução que seja aceitável pelos dois
lados, através de consultas", acrescentou.
Vinhos europeus na mira de Pequim
Numa declaração separada, o Ministério do Comércio anunciou a
instauração de um inquérito antidumping e anti-subsídios aos vinhos da
UE, feita a pedido dos produtores de vinho chineses.
"O Ministério do Comércio já recebeu um pedido formal da indústria
nacional dos vinhos, que acusa os vinhos provenientes da Europa de
entrarem no mercado da China através de práticas comerciais abusivas,
como o dumping e os subsídios", disse o Ministério.
"Isto tem impacto sobre a nossa indústria vinícola e [eles] pediram ao
Ministério para dar início a uma investigação", acrescentou aquele
órgão do governo chinês.
"Temos constatado um rápido aumento das importações de vinho da UE em
anos recentes e vamos conduzir a investigação de acordo com a lei",
concluía o comunicado.
China é destino "prioritário" para vinhos portugueses
Segundo os números das alfandegas chinesas, a China importou 430
milhões de litros de vinho no ano passado, dos quais mais de dois
terços provenientes da UE.
No caso de Portugal, a China é cada vez mais um destino prioritário
para os produtos vinícolas nacionais. Nos primeiros cinco meses de
2012, a exportação de vinhos portugueses para aquele país cresceu 62
por cento, sendo que a China é já o quinto maior mercado fora da
Europa, logo a seguir a Angola, Estados Unidos, Brasil e Canadá.
Bruxelas tem em curso, neste momento, 31 investigações de práticas
comerciais abusivas, 18 das quais envolvem produtos chineses. A maior
de todas refere-se precisamente aos 21 mil milhões de euros em painéis
solares, baterias e materiais semicondutores importados da China.
A União Europeia é o mais importante parceiro comercial da China,
enquanto que, para os europeus, o mercado chinês é apenas ultrapassado
pelo dos Estados Unidos. As importações europeias de bens chineses
para a Europa totalizaram 290 mil milhões de euros em 2012, enquanto
as exportações dos 27 para a China totalizaram 144 mil milhões de
euros.
http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=656891&tm=6&layout=121&visual=49
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