20 de Março, 2011Por Joana Ludovice de Andrade
A plantação de pinheiros permitiu fixar campos agrícolas no litoral.
Hoje, a sua capacidade de regeneração é testada nos incêndios.
Já no século XIII, D. Afonso III usava o pinheiro bravo para fixar
dunas e proteger campos agrícolas, mas há dois mil anos que a
importância das oliveiras é indiscutível.
«As árvores usadas há mais tempo em Portugal continental são as
oliveiras, uma vez que a produção e o consumo de azeite são referidos
desde os romanos», diz ao SOL José Tadeu Aranha, do departamento de
Engenharia Florestal da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
(UTAD).
O castanheiro e a azinheira também tiveram um papel essencial na
cultura portuguesa: «As castanhas eram usadas como alimento e com as
bolotas fazia-se farinha e, posteriormente, pão».
Mas foi o pinheiro que ganhou notoriedade com a plantação do pinhal de
Leiria. Francisco Castro Rego, do Instituto Superior de Agronomia
(ISA), chama-lhe «a primeira intervenção florestal», num momento em
que «se tentava ter mais agricultura nas zonas costeiras».
Só que o pinhal acabou por servir outros propósitos - tornou-se o
maior fornecedor de matéria-prima para as embarcações dos
Descobrimentos. «O pinheiro bravo é uma árvore de crescimento rápido
mas não de grande qualidade. Quando era essa a preocupação,
escolhia-se a madeira dos sobreiros», conta o especialista do ISA.
Mas a sua importância manteve-se até ao séc. XIX, quando houve um
aumento da florestação para acompanhar o desenvolvimento da indústria.
Naquela época, os pinheiros serviam as serrações e os eucaliptos -
trazidos da Austrália - alimentavam a indústria do papel.
A velha oliveira
Os apelidos mais comuns em Portugal são também eles prova de que o
país está enraizado nas árvores. José Tadeu Aranha conclui que os
nomes Carvalho, Castanheira, Teixeira e Pinheiro representam «as
espécies mais antigas».
Mas, em termos de longevidade, «é sem dúvida a oliveira a espécie que
mais anos vive, sendo vários os exemplares com mais de dois mil anos»,
a crescer em conventos e adros de igrejas. Seguida de alguns
castanheiros com vários séculos.
Os carvalhos não têm uma longevidade tão grande, porém, ainda há
«povoamentos ou bosquetes com exemplares destas árvores com séculos de
vida». Exemplo disso é o carvalhal da Albergaria, no Gerês.
Nas ilhas dos Açores e da Madeira, o seu isolamento e o facto de só
terem sido ocupadas há cerca de 500 anos permitiram que a floresta que
as ocupa seja muito próxima da vegetação original. Como a laurissilva,
na Madeira, com uma história «de 60 milhões de anos».
Para o especialista da UTAD, trata-se de «uma relíquia do passado»,
quando a Europa e a África eram ocupadas por densas florestas
tropicais.
Por esta razão, as árvores mais antigas de Portugal são mesmo as que
constituem este tipo de floresta: o barbusano, o til, o loureiro e o
vinhático. Às quais se tem de acrescentar o dragoeiro.
Em vésperas do Dia Mundial da Árvore e quando se assinala o Ano
Internacional das Florestas, importa repensar «uma melhor gestão
florestal», que Francisco Castro Rego considera ser a mais adequada
para combater os incêndios.
«Mais do que intervir com sementeiras, é preferível esperar para ver
como as árvores se regeneram naturalmente», sugere o especialista em
Silvicultura do ISA.
É certo que um pinheiro adulto ardido (com dez a 12 anos) «mantém a
semente viável para a sua regeneração».
joana.andrade@sol.pt
http://sol.sapo.pt/inicio/Vida/Interior.aspx?content_id=14598
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