sexta-feira, 31 de maio de 2013

Alto Minho com meia centena de lobos mas metade das alcateias são frágeis

Lusa29 Mai, 2013, 18:44

O Alto Minho contará atualmente com seis alcateias, metade destas
frágeis, e cerca de 50 lobos, o que leva um investigador a defender
uma maior aposta em medidas de proteção do gado.

"Os proprietários pecuários, muitas vezes, já estão um pouco
desabituados do lobo, não aplicam as medidas de minimização mais
convenientes e isso acaba por resultar num impacto de predação
bastante grande", explicou hoje à Lusa o investigador Francisco
Álvares.

Aquele biólogo integra o Centro de Investigação em Biodiversidade e
Recursos Genéticos da Universidade do Porto e há cerca de 20 anos que
monitoriza a presença do lobo na região do Parque Nacional da
Peneda-Gerês (PNPG).

No distrito de Viana do Castelo, acrescentou, existirão nesta altura
três alcateias estáveis, na zona do PNPG e cada uma com dez a doze
indivíduos, distribuídas entre as serras do Soajo e de Castro
Laboreiro.

Acrescem outras três alcateias, estas "mais frágeis" e com apenas
cerca de cinco indivíduos cada, na zona mais próxima o litoral, entre
Paredes de Coura e a serra d`Arga.

"Mas estas muito mais instáveis e sujeitas à forte perseguição humana,
sem uma reprodução regular", sublinhou o investigador.

Com estes números, mais do que o "necessário" pagamento "atempado" das
indemnizações compensatórias dos ataques do lobo a animais de criação,
previstas na lei e recorrentemente alvo de críticas das populações
devido ao atraso, Francisco Álvares defende um investimento em medidas
preventivas e no reforço da reintrodução de presas silvestres como o
corso e javali.

Com a utilização de cães de gado e cercas elétricas, assim como a
presença física de pastores, garante ser possível "diminuir os
prejuízos" destes ataques e evitar o pagamento de indemnizações por
parte do Estado, que anualmente ascendem a mais de 700 mil euros.

"Por estranho que pareça, há rebanhos sem pastores e isso é algo que
não é normal", acrescentou Francisco Álvares, à margem de um colóquio
sobre a presença do Lobo no Alto Minho, realizado hoje em Arcos de
Valdevez.

O evento pretendia sensibilizar a população para o tema, sobretudo
face à "complexa relação" mantida no terreno entre o Homem e aquela
espécie, e foi organizado pela Associação de Conservação do Habitat do
Lobo Ibérico (ACHLI), tendo reunido mais de meia centena de pessoas,
nomeadamente presidentes de Juntas de Freguesia da região.

Segundo dados avançados à Lusa, em março último, pelo Instituto da
Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), durante o ano de 2012
foram contabilizados oficialmente 58 animais atacados por lobos só nos
concelhos de Paredes de Coura e Arcos de Valdevez.

Em todo o continente nacional, o Lobo Ibérico, espécie protegida em
Portugal desde 1988 e considerada em risco de extinção desde 1990,
contará com 63 alcateias e 300 indivíduos.

No entanto, recorda Francisco Álvares, estes números têm perto de dez
anos e durante este período, à exceção do programa de monitorização no
Alto Minho, não foi realizado qualquer censo nacional à presença do
lobo em Portugal.

Na PNPG, uma das principais áreas de concentração da espécie em
Portugal, menos de 10% dos criadores de gado registaram ataques dos
lobos nos últimos anos, indicam os dados mais recentes divulgados
neste colóquio.

http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=655180&tm=8&layout=121&visual=49

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