sábado, 25 de maio de 2013

Projecto cria plástico biodegradável adaptado à agricultura em Portugal

RICARDO GARCIA

23/05/2013 - 17:20

Produto biodegradável é alternativa ao plástico.

Actualmente o plástico é reciclado, enterrado ou queimado ENRIC VIVES-RUBIO


O agricultor ficou maravilhado. "Isto é mágico, o plástico desaparece.
É um milagre", disse à investigadora.

O "milagre" é um produto biodegradável, feito de amido de milho, que
pode ser uma alternativa aos plásticos cada vez mais em voga na
agricultura em Portugal e no mundo. É o resultado de um projecto de
investigação e inovação financiado pela Comissão Europeia, liderado
por uma empresa portuguesa, e cujos resultados foram apresentados esta
semana.

O uso de plásticos na agricultura tem crescido de tal forma, que já há
um termo novo para designar a combinação de ambos: plasticultura. Além
de cobrirem estufas, embalarem fardos ou acomodarem plantas em
viveiros, os plásticos são cada vez mais empregues directamente no
solo, para proteger determinadas culturas. É uma forma de isolar as
plantas de ervas daninhas e de controlar a humidade e a temperatura,
aumentando a produtividade.

Mas uma vez utilizado, o plástico – normalmente feito de polietileno,
um derivado do petróleo – torna-se um problema. A melhor hipótese é
reciclá-lo. Mas muitas vezes é enterrado no solo ou mesmo queimado.

"O plástico biodegradável é a solução do futuro", afirma Paulo
Azevedo, coordenador do projecto e director-geral da Silvex, empresa
de Benavente que fabrica filmes plásticos e que lidera a iniciativa. A
empresa desenvolveu um produto próprio, a partir de uma matéria-prima
já existente no mercado, à base de amido de milho.

O plástico é aplicado sobre as culturas e, depois da colheita,
misturado à terra, acaba por decompor-se ao longo de alguns meses,
digerido por microorganismos. "É incorporado no solo, junto com o que
resta das culturas. Não há qualquer impacto ambiental", afirma a
investigadora Elisabeth Duarte, do Instituto Superior de Agronomia,
uma das entidades que também participaram do projecto.

A existência de um filme plástico biodegradável para a agricultura não
é novidade em si. "A novidade é que tentámos adaptá-lo às condições de
Portugal e Espanha", diz Elisabeth Duarte. Não só há diferenças óbvias
de clima entre pontos distintos da Europa, como a composição do solo é
muito variável – normalmente com mais matéria orgânica no Norte e
menos no Sul.

No projecto Agrobiofilm, foram estudadas várias formulações para o
plástico e o produto foi aplicado em ensaios experimentais ao longo de
três anos, em culturas de melão, morango e pimento, com resultados
satisfatórios. Também foi testado em vinhas, que revelaram crescer
mais depressa, se plantadas com o filme biodegradável do que em solo
nu.

Um dos objectivos centrais do projecto é quebrar as barreiras
comerciais ao plástico biodegradável, que responde actualmente por
apenas 1% do total utilizado na agricultura. "Até agora, não se
conseguiu impor, porque está pouco divulgado", diz Paulo Azevedo. Um
dos problemas é o preço, dado que as matérias-primas são mais caras do
que o petróleo. O director-geral da Silvex chama a atenção, porém,
para a existência de uma comparticipação de um terço dos custos com os
plásticos biodegradáveis, numa linha de apoio europeia dirigida a
organizações de produtores.

O projecto Agrobiofilm envolveu também empresas, instituições de
investigação e agricultores da Noruega, França, Espanha e Dinamarca.
"É o primeiro projecto de grande dimensão a nível mundial nessa área",
diz Paulo Azevedo.

http://www.publico.pt/ecosfera/noticia/projecto-cria-plastico-biodegradavel-adaptado-a-agricultura-em-portugal-1595313

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