ANA GERSCHENFELD
23/05/2013 - 19:04
Não é uma boa notícia: cientistas afirmam que o novo vírus da gripe
das aves recentemente detectado na China poderá desencadear uma
pandemia humana, se nada for feito para o impedir de evoluir nesse
sentido.
A gripe das aves provocada pelo vírus H7N9 tem condições para se
tornar uma gripe humana REUTERS/INA FASSBENDER
O "resumo numa frase" dos resultados publicados esta quinta-feira por
cientistas chineses no site da revista Science não podia ser mais
claro: "O vírus emergente da gripe humana H7N9 é infeccioso e
transmissível entre mamíferos."
Foi a 31 de Março deste ano que se registou o primeiro caso humano de
gripe aviária H7N9 na China. Embora menos letal do que o temível H5N1
(gripe aviária mais rara que mata 60% das suas vítimas humanas), a
expansão do novo vírus foi inicialmente explosiva: segundo a
Organização Mundial da Saúde, o H7N9 infectou, em pouco mais de um
mês, 131 pessoas, das quais 36 morreram. Actualmente, porém, graças em
grande parte às restrições entretanto impostas aos mercados de aves
vivas naquele país, não tem havido novas infecções humanas pelo H7N9
registadas desde 8 de Maio.
Tanto quanto se sabe, até agora não se verificou qualquer caso de
transmissão directa entre seres humanos do H7N9: as vítimas humanas
foram infectadas por terem estado em contacto com aves de capoeira.
Ora, para este vírus ter potencial pandémico na espécie humana, teria
de conseguir passar directamente de uma pessoa para outra, requisito
que o H7N9 ainda não preencheu.
Todavia, certas características genéticas deste novo vírus da gripe
das aves fazem os especialistas recear que isso possa acontecer no
futuro. Em particular, o H7N9 apresenta mutações que sugerem que está
mais bem adaptado aos mamíferos do que seria desejável (ver Ninguém
sabe de onde veio o vírus H7N9 (nem para onde vai), PÚBLICO de
24/04/2013).
Foi por isso que Huachen Zhu, da Universidade de Shantou, e colegas
decidiram testar a transmissibilidade de H7N9 entre furões,
considerados como o melhor modelo animal para estudar as gripes
humanas.
Os cientistas inocularam em seis furões, por via nasal, vírus colhidos
numa das primeiras vítimas humanas mortais do H7N9 e começaram por
constatar que esses animais tinham efectivamente sido infectados mesmo
antes de manifestarem sintomas da doença. Já agora, isto sugere que
poderá de facto haver muitos mais casos de infecção humana (a partir
das aves) do que os oficialmente diagnosticados, hipótese que também
tem preocupado as autoridades chinesas e internacionais de saúde.
As experiências com resultados mais preocupantes vieram a seguir,
quando os cientistas expuseram furões não infectados aos furões
doentes. Por um lado, para avaliar a transmissibilidade do vírus por
contacto directo, introduziram um furão saudável em cada uma das três
gaiolas onde pares dos seis furões infectados estavam alojados. Por
outro lado, para monitorizar a transmissibilidade por via aérea do
H7N9, colocaram mais três gaiolas, com um furão não infectado dentro
de cada uma, a uns dez centímetros de distância das primeiras.
Resultado: passados três dias, os três furões a conviver em contacto
directo com os casais de animais doentes começaram a espirrar, a
tossir, a pingar do nariz e a ficar apáticos. Quanto aos outros três
animais isolados nas suas gaiolas individuais, apenas um manifestou
sintomas de doença, enquanto os outros dois permaneceram livres de
vírus. "Portanto, os furões infectados pelo [vírus] conseguem
transmiti-lo através de contactos directos e por via aérea, embora
esta segunda forma de transmissão seja menos eficiente", escrevem os
cientistas na Science.
Numa segunda série de experiências, quiseram ver se o mesmo tipo de
transmissibilidade se verificaria com porcos, na medida em que estes
animais são o principal hospedeiro dos vírus da gripe humana com
potencial pandémico. Mas quando expuseram porcos e furões não
infectados a quatro porcos infectados por inoculação nasal, os porcos
não conseguiram transmitir o H7N9 aos animais saudáveis.
Porém, esta situação poderia vir a alterar-se. "Se este vírus vier a
adquirir a capacidade de se transmitir eficientemente de humano para
humano", alertam os autores, "a sua extensa disseminação poderá ser
inevitável, dado que as medidas de quarentena ficarão sempre aquém da
velocidade de difusão do vírus". Para impedir que o vírus evolua nesse
sentido, concluem, pode ser indispensável repensar cabalmente a gestão
dos mercados de aves vivas, em especial nas áreas urbanas.
http://www.publico.pt/ciencia/noticia/virus-h7n9-transmitese-entre-furoes-por-contacto-e-as-vezes-pelos-espirros-_nao-publicar-1595318
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