JOSÉ AUGUSTO MOREIRA
19/05/2013 - 00:00
Concurso Nacional de Vinhos quer contribuir para aumentar a
visibilidade externa.
Mais de mil vinhos e dezenas de provadores estrangeiros. Pela primeira
vez o Concurso Nacional de Vinhos realizou-se com o propósito
declarado de piscar o olho aos principais mercados de exportação,
tendo contado, por isso, com a participação de jurados oriundos de
vários países. Especialistas no sector, mas sobretudo influentes
críticos e fazedores de opinião que são, como é sabido, o melhor
veículo para levar a mensagem até ao consumidor final.
Apesar de os números não serem ainda de molde a impressionar, tanto
produtores como as autoridades do sector acreditam que há espaço e
caminho para fazer crescer as exportações. Num mercado onde o
crescimento tem sido dominado pelos produtores de fora da Europa,
Portugal registou um crescimento sustentado nos últimos três anos,
tanto em valor como volume de vendas. Outro aspecto a ter é conta é o
que resulta do facto de o nosso país ser agora o 10.º país no ranking
de exportações de vinho, sendo o 12.º produtor a nível mundial.
O grande problema é que as exportações, sobretudo nos vinhos de mesa,
assentam ainda numa estrutura de baixos preços. É que enquanto o vinho
francês é exportado por um valor médio por litro acima dos seis euros,
os vinhos portugueses não chegam sequer ainda aos 1,5 euros, abaixo de
países como Nova Zelândia, Chile ou África do Sul (ver infografia).
Apesar de tudo a tendência tem sido de crescimento, embora muito
ligeiro, mas ao contrário daquilo que se passa com a generalidade dos
produtores europeus, com excepção da França. Na vizinha Espanha, que
se tornou no segundo exportador mundial, ultrapassando a França e só
atrás da Itália, o preço por litro parece cair nos últimos anos na
proporção em que aumenta o volume de vendas.
Quer isto dizer que os espanhóis necessitam de vender uma cada vez
maior quantidade de vinho ao exterior para arrecadar o mesmo nível de
receita.
Um fenómeno que se reflecte também nas nossas vendas para o país
vizinho. Nos últimos três anos a exportação de vinho português para
Espanha mais que quintuplicou (de 43.771 para 229.375 hectolitros, ao
mesmo tempo que o preço caía de 2,64 euros para apenas 88 cêntimos por
litro). Trata-se sobretudo, como está bom de ver, da venda de vinhos
de granel, que os agentes do sector querem ver cada vez mais
restringida em favor dos vinhos engarrafados de qualidade, sobretudo
os de denominação de origem protegida (DOP).
É neste tipo de vinhos que assenta a promoção internacional, com
resultados que se têm revelado bastante satisfatórios. Nalguns
mercados os valores/litro aproximam-se até dos vinhos da França e da
Nova Zelândia, que são os mais valorizados no mercado internacional, e
ultrapassam até os valores médios da Itália.
Oriente a crescer
Muito estimulante é olhar para o que se passa com a exportação de
vinhos DOP portugueses para o Oriente, onde atingem já hoje valores
muito interessantes. O mais alto (6,85 euros/litro) verifica-se em
Hong-Kong, logo seguido por Macau (5,15) e China (4,26).
Se a isto associarmos o potencial de crescimento que esta região
representa, então forçoso será concluir que o futuro se apresenta como
prometedor para os vinhos de qualidade produzidos no nosso país. Entre
os cinco destinos que mais valorizam os vinhos DOP, seguem-se a
Alemanha (3,67 euros/litro) e a Áustria (3,33).
Por quantidades exportadas, os EUA lideram a compra de vinhos DOP,
seguindo-se Angola, Alemanha, França e Brasil.
É sobretudo neste tipo de vinhos que tem consistido a aposta de
promoção da associação interprofissional do sector vitivinícola, a
ViniPortugal, entidade que organizou o Concurso Nacional de Vinhos que
decorreu ao longo desta semana.
Além de dar a provar centenas de vinhos aos jurados que vêm dos
principais mercados, a ideia passa também por dar mais visibilidade
externa aos vinhos, como explicou o presidente da ViniPortugal, Jorge
Monteiro. Em paralelo com o concurso, os jurados internacionais
tiveram também oportunidade de participar eventos especiais dedicados
a vinhos Alvarinho, Touriga Nacional e ainda outro apenas com vinhos
portugueses com idade. Visitaram também produtores de zonas menos
conhecidas como a Vidigueira ou Serra da Estrela.
O concurso contou com o número recorde de 1004 vinhos em prova, a
maioria tintos, que teve também a novidade de terem desta vez
participado a generalidade dos grandes produtores nacionais.
Os mais de 30 jurados estrangeiros, provenientes de nove países,
fizeram parte do júri que durante quatro dias analisou e classificou
os vinhos, atribuindo as habituais medalhas de bronze, prata e ouro.
Coube depois ao grande júri, presidido por Luís Lopes, director da
Revista de Vinhos, e constituído ainda pelos especialistas Tom Firth
(Canadá), Mary Ewing Mulligan (EUA), Jorge Carrara (Brasil), e David
Schwarzwalder (Alemanha) seleccionar os grandes medalhas de ouro
(apenas de entre os vinhos anteriormente classificados com o grau
Ouro). Destes, sai o vencedor absoluto.
Os prémios só serão anunciados no próximo dia 7 de Junho, numa
cerimónia a ter lugar no lisboeta Pátio da Galé, onde a ViniPortugal
espera contar com algumas das mais altas figuras públicas.
http://www.publico.pt/economia/jornal/vinhos-portugueses-lancamse-a-conquista-do-mundo-atentos-ao-preco-26550750
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