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João Dinis
A edição deste ano da Feira Nacional da Agricultura ( FNA), entre 8 e
16 de Junho, encheu o olho mas não (nos) aqueceu o coração…
À vista desarmada, foi um certame que apareceu vistoso, diversificado
e concorrido.
E, na verdade, já tínhamos visto Feiras Nacionais da Agricultura
anteriores bastante menos participadas e a todos os níveis.
A Comunicação Social divulgou-a "intensivamente" pelo que lhe
potenciou muito o impacto junto da opinião pública.
Ou seja, dir-se-á que esta edição da FNA ( e do Ribatejo) foi um
grande sucesso e que reflecte o apregoado "sucesso" da Agricultura
Nacional.
Bem, esta FNA reflectiu a presença do grande agro-negócio, de tipo
capitalista - hipermercados incluídos - da indústria agro-alimentar
super-intensiva e até de sectores da Banca que tanto têm explorado a
Lavoura.
Esta FNA continuou a não reflectir ( ou reflectiu no mínimo dos
mínimos) a dura realidade vivida pelos pequenos e médios
Agricultores-cultores-do-agro, pela pequena e média agro-indústria
nacional, pelo agro-comércio que não seja o dos hipermercados ( e
mesmo entre estes há diferenças). E são estes sectores que mais têm a
ver com a realidade genuinamente nacional que não é de "levante" ao
sabor da localização do lucro e das respectivas taxas. São estes
sectores que mais mexem com as Pessoas concretas, que poderiam
contribuir mais e melhor para a produção, para a qualidade alimentar
das portuguesas e dos portugueses, caso as políticas agrícolas e de
mercados - definidas e aplicadas pela União Europeia e por sucessivos
(des)governos - tivessem em conta os verdadeiros Agricultores e as
populações em geral e não fossem prioritariamente definidas "a mando"
das multinacionais e de outras grandes empresas do agro-negócio e do
lucro também este multinacional.
Aliás, os recursos públicos aplicados no agro-alimentar, desde
subsídios directos a isenções fiscais de todos os tipos, são
canalizados de forma sócio-económica verdadeiramente "criminosa" (até
sem a obrigatoriedade de produzirem…) para os bolsos dos grandes
"beneficiários" do nosso dinheirinho público -- as maiores empresas,
as multinacionais e os maiores proprietários absentistas -- e que,
depois, "roncam grosso" a auto-intitularem-se de "competitivos"…
Nesta edição da FNA, de facto também lá vimos coloridos "stands" com
associações, empresas, produtores-comerciantes individuais que não são
propriamente grandes empresas capitalistas do agro-negócio. Porém,
interessante seria fazer-se um "tac" à situação desses
"empreendedores" que estão a arriscar trabalho e investimentos. Para
sabermos quanto devem à Banca e em que condições; como vão sobreviver
aos preços especulativos dos factores de produção e aos preços baixos
que lhes pagam (quando pagam) pelas respectivas produções. Nos tempos
que correm, também estão sujeitos à concorrência mais do que desleal
dos hipermercados que esmagam em baixa os preços à (boa) Produção
Nacional.
Portanto, que elucidativo seria que a organização da FNA divulgasse as
listas desses "empreendedores" que estiveram em Santarém na edição de
há cinco anos atrás e que estiveram nesta edição de agora… Para se
poder vir a comparar com a lista daqueles que estiverem na FNA daqui
a…três anos, por exemplo…
Ainda por cima, quem faz projectos de investimentos de pequena e média
dimensão (sem isenções fiscais…) no agro-rural, está agora sujeito,
sem grandes hipóteses de fuga, às taxas e aos impostos especulativos.
Por exemplo, um Agricultor a título individual vê 75% do total da
ajuda pública financeira ao seu projecto de investimento ser
tributável em IRS ! Um autêntico roubo fiscal ! Ou seja, um Agricultor
instala-se hoje…e desinstala-se amanhã também por causa dos impostos
que o obrigam a pagar…sobre projectos de investimento em princípio
para produzir mais e melhor…
Eis porque não devamos embarcar, feitos "borboletas", na "onda"
colorida do "sucesso" da Agricultura e da Alimentação nacionais. Seria
bom, seria bom, que assim fosse de facto. Mas não é ! E não o será por
muita propaganda que faça a FNA, em conjunto com a propaganda fácil do
Presidente da República, seguidos pela ministra Assunção Cristas, pelo
"ex-agricultor" Paulo Portas…e por uma certa empresa de hipermercados
"assessorada" (entre outras) pela Câmara Municipal de Lisboa e pela
Televisão Pública…
Sim ! São necessárias outras políticas agro-rurais !
Sim! É necessário outro governo capaz de as definir e aplicar !
17 de Junho de 2013
João Dinis
http://www.agroportal.pt/a/2013/jdinis4.htm
Publicado em 17/06/2013
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