O Alentejo destacou-se pelo crescimento em dois anos consecutivos de
crise. Em 2011, a região joga tudo para atrair mais turistas.
Conceição Antunes (www.expresso.pt)
18:30 Quinta feira, 6 de Janeiro de 2011
As migas chegam a fumegar à mesa, onde já repousam os pezinhos de
coentrada e o lacão assado, carne da perna de porco que se desfaz ao
toque do garfo. Aqui, na aldeia de Urra, o restaurante O Álvaro é um
dos baluartes da boa gastronomia do Alentejo - um dos trunfos da
região, que se destaca pelo crescimento do turismo em 2009 e 2010.
"É algo inédito em dois anos de crise, e sobretudo quando outras
regiões desceram", salienta António Ceia da Silva, presidente da
Entidade Regional do Turismo do Alentejo. "Podemos garantir que 2010 é
o nosso melhor ano turístico de sempre, e temos a expectativa de
continuar a subir em 2011".
As dormidas no Alentejo cresceram para 1100 mil em 2009, e já quase
atingiam este valor até final de outubro de 2010, cifrando-se em mais
13,3% face ao ano passado. Estes números não refletem o turismo em
espaço rural, porque este não é quantificado pelo Instituto Nacional
de Estatística. "E o Alentejo é a região com maior procura de turismo
rural do país", nota o presidente do Turismo do Alentejo, que em
janeiro vai lançar um Observatório para avaliação do turismo rural na
região.
Porco preto a património da humanidade
Face ao sucesso dos últimos anos, o Alentejo multiplica-se em projetos
turísticos para 2011. O mais relevante é a candidatura do montado
alentejano a património da humanidade. "O montado alentejano é único
no mundo, é o que verdadeiramente marca a personalidade e o carácter
da nossa região", frisa Ceia da Silva, referindo que esta candidatura
à UNESCO envolve tudo o que está associado ao montado, desde a
paisagem rural dos sobreiros, azinheiras ou a cultura de porco preto,
ao seu património milenar, artesanato e cozinha típica, como enchidos,
castanhas, açordas e migas. "A gastronomia alentejana está claramente
ligada à terra, em particular ao montado", refere Ceia da Silva. "Já
temos a comissão executiva formada para avançar com esta candidatura,
que pode ser o toque distintivo e trazer um selo de qualidade à
região, valorizando a sua força interior".
Consciente de que este processo irá demorar uns dois anos, o
presidente do Turismo do Alentejo quer começar já em 2011 a usar a
temática do montado como marketing. "Queremos abrir as herdades do
Alentejo, mostrar como se tira a cortiça ou como se faz a ceifa",
adianta Ceia da Silva, citando o exemplo da herdade do Freixo do Meio
em Montemor-o-Novo, que recebe 20 mil visitas por ano. Neste âmbito,
vai "desafiar os operadores nacionais a criarem pacotes turísticos com
base no montado".
Outro objetivo é fazer o levantamento do património encerrado e
promover a sua abertura ao público com horários uniformes. "Há hoje n
igrejas e monumentos em todo o Alentejo que não estão disponíveis para
fruição turística, e vão passar a estar", promete. Duas novas rotas,
dos mármores e do turismo mineiro, irão juntar-se em 2011 às
existentes. "Fizemos um roteiro das paisagens megalíticas. Pensámos em
usar a figura do Obélix, mas a ideia acabou por morrer", refere.
O turismo interno, já com um peso superior a 70%, foi o grande
responsável pelo crescimento de dormidas no Alentejo. "Tem sido um
mercado muito dinâmico, levou a que o território não tivesse entrado
em depressão", sublinha Ceia da Silva. Os espanhóis, seguidos dos
alemães, destacam-se entre os estrangeiros que mais visitam a região,
onde também ganham expressão crescente "turistas brasileiros e de
mercados do oriente, como chineses ou japoneses". Para estes mercados
distantes, "estamos em contactos com a Andaluzia e a Extremadura para
estruturar programas que juntem as ofertas turísticas portuguesa e a
espanhola", avança.
"O Alentejo faz bem"
"Alentejo, património do tempo", é um dos motes da nova marca da
região, que em 2011 conta com verbas globais de €5 milhões para
promoção. A campanha "O Alentejo faz bem" tem como foco os seniores
ativos. "Queremos que as pessoas venham ao Alentejo, em vez de tomar
comprimidos para a depressão", explica Ceia da Silva. Frisa que "num
esforço enorme para conquistar novos mercados", também os casais,
famílias ou turistas "de mochila às costas" são vistos como alvos.
"Vamos ter oferta para estes segmentos todos, com guias específicos,
incluindo parques naturais e turismo de natureza".
O problema continua a ser a média de permanência dos turistas: 1,7
dias. "Há a ideia que não há muito que fazer no Alentejo, e não é
verdade", afirma Ceia da Silva, referindo que a oferta se estende a
windsurf ou desportos radicais. "Pode-se fazer tudo no Alentejo, não
se sabe é onde porque a informação não está sistematizada". Adianta
que em 2011 "toda esta informação vai estar disponível em telemóvel" e
que em março o Alentejo vai ter "um portal interativo com ligações às
redes sociais".
"Fazemos como as formigas: preparamo-nos antes da tempestade", resume
o presidente do Turismo do Alentejo. "A oferta do Alentejo faz-se de
tudo: tasquinhas e restaurantes de luxo, hotéis de cinco estrelas e
casas de campo. Têm todos é de ter uma excelente qualidade".
Texto publicado no caderno de Economia do Expresso de 30/12/2010
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