domingo, 21 de julho de 2013

"Berçário" da Quercus criou 100 mil novas vidas para salvar espécies ameaçadas

Lusa20 Jul, 2013, 10:04

A Quercus criou no último ano mais de 100 mil peixes e mexilhões
naquela que é a única estação aquícola no país que reproduz espécies
ameaçadas, disse à Lusa um dirigente nacional da associação
ambientalista.

O mais recente projeto da Quercus na quase desertificada aldeia de
Campelo, em Figueiró dos Vinhos, permitiu a reprodução de 85.248
mexilhões-de-rio-do-norte, que possuem igualmente um papel essencial
na regeneração das águas dos rios, salientou Paulo Lucas.

Mais de quatro anos após o início do projeto, o dirigente da Quercus
assinala a obra singular que está a ser realizada, mas admitiu que a
proteção das espécies mantém-se um problema, apesar dos resultados
obtidos neste "berçário" de água doce, tanto "pela poluição como pela
proliferação de peixes exóticos e lagostins" em Portugal.

"Há muito trabalho para fazer e não se pode dizer que estas espécies
de água doce tenham ficado menos ameaçadas. Antes pelo contrário",
admitiu.

O ambientalista salientou que "o grau de ameaça mantém-se" nos rios
devido à intervenção humana.

"Temos, neste momento, problemas de poluição que continuam a existir,
temos introdução de espécies exóticas" e persiste "a destruição da
vegetação ribeirinha porque não há cuidado com a agricultura",
especificou Paulo Lucas.

Para além do ruivaco-do-Oeste, boga-portuguesa e do sudoeste, e
escalos do Arade e do Mira, identificados como "criticamente em
perigo" - que a partir de março foram morar em rios e ribeiras
nacionais que constituem o seu habitat natural -, a aposta mais
recente da estação aquícola passa pela reprodução em cativeiro de duas
espécies de mexilhões.

Tal como aconteceu com os peixes, que foram "semeados" nos rios
Sizandro e Alcabrichel, Mira e Arade, respetivamente nos distritos de
Lisboa, Beja e Faro, a Quercus pretende repetir a "migração" dos
mexilhões.

O rio Paiva, em Castro de Aire, no qual está identificada uma
população envelhecida, já foi reservado como a próxima morada da
espécie Margaritifera margaritifera e será aí que se vão comparar as
taxas de crescimento que ocorrem no meio natural com as obtidas em
cativeiro e, assim, aferir qual o método que permite obter os melhores
resultados.

Sobre os bivalves pesa a ameaça de extinção, sobretudo "devido ao
desaparecimento das populações de peixes hospedeiros como o salmão e a
truta-de-rio, à existência de poluição orgânica das águas, à
modificação dos cursos de água com deposição de detritos no leito e à
construção de barragens e açudes", segundo a Quercus.

Até 2016, o projeto prevê reabilitação dos bosques de amieiros no rio
Paiva e na ribeira do Torgal (Odemira), bem como a reprodução na
estação de Campelo de outro mexilhão-de-rio, o Unio tumidiformis,
local onde já nasceram 25.686 exemplares.

Esta é a primeira vez que é feita a reprodução deste bivalve de água
doce em Portugal, um sucesso alcançado no âmbito do projeto Life+
Ecótono, dinamizado pela Quercus com o cofinanciamento do programa
Life da União Europeia, da Agência Portuguesa do Ambiente e do
Município de Castro Daire, com a colaboração também do município de
Figueiró dos Vinhos.

http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=668045&tm=8&layout=121&visual=49

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