HUGO TORRES
18/07/2013 - 22:31
Multinacional com controversa estratégia de expansão global retirou
pedidos de autorização de cultivo de organismos geneticamente
modificados no espaço comunitário.
O milho MON810 é o único transgénico que a Monsanto está autorizada a
plantar na UE PHILIPPE HUGUEN/AFP
A plantação de novos transgénicos na Europa não tem interesse
comercial. O argumento é da Monsanto, que decidiu desistir dos pedidos
de autorização que tinha pendentes em Bruxelas para cultivar
organismos geneticamente modificados. O que não significa que os
transgénicos da multinacional norte-americana fiquem do lado de fora
da União Europeia (UE).
O presidente e director-geral da Monsanto na Europa, Jose Manuel
Madero, explicou à Reuters que é vontade da empresa pedir autorização
para importar para a UE as espécies transgénicas que já planta nos EUA
e na América Latina. Para investir na nova estratégia deixam cair a
anterior, que pretendia cultivar alguns desses transgénicos na Europa.
"Vamos retirar os pedidos de aprovação nos próximos meses", revelou
Madero, nesta quarta-feira. O responsável da Monsanto falou por
telefone com a Reuters, que confirmou a intenção da empresa junto da
Comissão Europeia, já informada da decisão. São cinco pedidos para o
cultivo de milho geneticamente modificado, um para soja e outro para
beterraba-sacarina.
A frustração com o processo de aprovação está a ser apontada como a
causa para a renúncia da empresa, que tem uma estratégia de expansão
agressiva por todo o mundo. No documentário Le monde selon Monsanto
("O mundo segundo Monsanto", numa tradução livre), de 2008,
Marie-Monique Robin denuncia os contratos com que a multinacional
tolhe a acção dos agricultores, assim como as consequências nefastas
que a plantação das sementes geneticamente modificadas está a ter nos
solos das Américas, de África e da Índia.
Os ambientalistas defendem também que o consumo de transgénicos, a
longo prazo, é prejudicial para a saúde – o que a Monsanto contesta.
Algo que este recuo não resolve, uma vez que a empresa planeia
importar estes mesmos produtos para o espaço comunitário. De resto, a
Monsanto continuará a cultivar o único organismo geneticamente
modificado a que está autorizado na UE: o milho MON810. Plantado
sobretudo na Península Ibérica, o MON810 está, apesar da autorização
de Bruxelas, banido na Alemanha, em França e em Itália.
A Greenpeace Europa considera que, apesar de tudo, "são boas notícias
para a ciência e a investigação europeias". Um consultor da
organização ambientalista para a política agrícola sustentável, Heman
Van Bekkem, sublinhou que "os produtos geneticamente modificados
provaram ser uma tecnologia ineficaz e impopular, com riscos
inaceitáveis para o nosso meio ambiente e a nossa saúde". "O recuo da
Monsanto pode finalmente criar espaço para a agricultura europeia se
concentrar em práticas e tecnologias modernas que oferecem avanços
reais para a produção alimentar e as comunidades rurais."
No ano passado, a alemã BASF, autorizada a cultivar um tipo de batata
geneticamente modificada nos solos da UE, decidiu trasladar todas as
operações relacionadas com transgénicos da Europa para o outro lado do
Atlântico. São já duas vitórias do género para os ambientalistas. O
que não impede que a UE continue a ser um dos maiores importadores de
transgénicos do mundo.
http://www.publico.pt/economia/noticia/monsanto-desiste-de-cultivar-novos-transgenicos-na-uniao-europeia-1600665
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