sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Rios ainda cortam estradas e inundações já fizeram estragos na agricultura, no Oeste

PÚBLICO 12/02/2014 - 13:05
À espera de tréguas no fim-de-semana, muitos portugueses fazem as contas aos prejuízos do mau tempo

 
chuva dos últimos dias aumentou caudal de muitos rios e ribeiros, provocando cheias e consequentes inundações RENATO CRUZ SANTOS

Mais de 50 estradas e caminhos estavam às 07h30 de hoje cortadas em Portugal continental devido ao mau tempo, de acordo com a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC). Na Zona Oeste, muitos agricultores continuam com as terras alagadas e parte da produção de hortícolas stá comprometida.

Segundo a ANPC, estão cortadas 58 estradas e a circulação está condicionada noutras três devido ao mau tempo que se tem feito sentir por todo o país nos últimos dias. No distrito de Santarém estão cortadas 23 estradas, devido a inundações: duas no concelho de Almeirim, uma no de Benavente, seis no da Golegã, cinco no de Santarém, duas no do Cartaxo, duas no de Alpiarça, três no de Coruche, uma no do Entroncamento e uma no de Abrantes. No mesmo distrito há ainda duas estradas, no concelho de Alpiarça, onde a circulação está condicionada devido a inundações.

Além das estradas, a ANPC salienta que a povoação do Reguengo do Alviela, no concelho de Santarém, está isolada.

No distrito de Coimbra há dez estradas cortadas, sete (quatro no concelho da Figueira da Foz, uma em Montemor-o-Velho, outra em Mira e ainda outra em Soure) devido a inundações e três (nos concelhos de Miranda do Corvo, Penela e Coimbra) por causa de desmoronamentos.

Em Leiria estão cortadas nove estradas -- oito devido a inundações, nos concelhos do Bombarral (três), Alcobaça, Caldas da Rainha (duas), Leiria e Peniche, e uma devido a deslizamento de terras, em Pedrógão Grande. Neste distrito, está ainda condicionada a circulação numa estrada do concelho de Alcobaça.

No distrito de Aveiro estão cortadas oito estradas, devido a inundações, todas no concelho de Águeda. No distrito de Lisboa está cortada apenas uma estrada, no concelho de Torres Vedras, devido a inundação. O mesmo acontece em Viseu, distrito onde está cortada uma estrada no concelho de São Pedro do Sul, mas neste caso devido à “queda de inertes”.

Há ainda seis estradas cortadas nos distritos de Castelo Branco e da Guarda devido à queda de neve.

Culturas do Oeste muito afectadas
As culturas de hortícolas na região Oeste, onde se localiza mais de metade da produção nacional, ficaram perdidas em cerca de 30% em resultado das cheias ocorridas na terça-feira, estimou hoje a Associação Interprofissional de Horticultura do Oeste (AIHO).

António Gomes, presidente da AIHO, disse à agência Lusa que “cerca de 30% das culturas que estão nos terrenos perdeu-se” por terem ficado submersas devido a cheias provocadas pelos rios Sizandro e Alcabrichel, em Torres Vedras, e pelo Rio Grande, na Lourinhã.

Nos concelhos de Torres Vedras, Lourinhã e Peniche é onde se localiza grande parte da produção de hortícolas, sobretudo couves, nesta época do ano. O dirigente adiantou que, “mesmo nas encostas, os terrenos estão saturados de água e estão a afectar estas culturas”, admitindo que o problema poderá conduzir, nos mercados, a uma maior escassez de produtos e ao consecutivo aumento dos preços.

Em Torres Vedras, os rios Sizandro e Alcabrichel atingiram o seu caudal máximo e alagaram as suas várzeas, sobretudo junto às localidades de A-dos-Cunhados, Sobreiro Curvo, Maceira, Ramalhal, Bordinheira, Fonte Grada, Paúl, Ponte do Rol e Ribeira de Pedrulhos. Em Paúl, Bordinheira e Ribeira de Pedrulhos, houve casos em que a água esteve a dois metros de entrar nas habitações.

A água cobre os terrenos agrícolas em mais de meio metro de altura, numa extensão calculada pela associação em cerca de 500 hectares, cerca de metade da área hortícola do concelho. Situação semelhante ocorreu na Lourinhã, onde o Rio Grande deixou submersas as várzeas agrícolas nas zonas de Nadrupe e Ribeira de Palheiros e saturou de água as restantes.

Em toda a região Oeste, as estradas voltaram hoje a ser reabertas com a descida das águas. Apenas a Linha do Oeste se mantém fechada à circulação ferroviária entre Torres Vedras e Caldas da Rainha devido a um aluimento de terras, estando a ser efectuado o transbordo dos passageiros, de acordo com fonte da Refer.

O caudal do Douro inunda há seis dias o cais fluvial de Peso da Régua, estando as autoridades permanentemente a monitorizar a oscilação do rio que tem como principal causa as águas provenientes de Espanha. O Douro galgou o cais fluvial já na quinta-feira, subindo entretanto até a um máximo de cerca de quatro metros.

O 1.º tenente Fernandes Vitorino, da Delegação Marítima da Régua, explicou que durante a noite se verificou “uma ligeira diminuição dos caudais” mas, no entanto, já ao início da manha ocorreu um “agravamento embora pouco significativo”. E tem sido assim durante toda a semana. O Douro vai subindo e descendo consoante a pluviosidade e, principalmente, as águas debitadas por Espanha.

“Continuam a ser os caudais provenientes de Espanha, o factor que mais está a influenciar o caudal de todo o rio Douro”, salientou Fernandes Vitorino. O responsável referiu que a “água proveniente de Espanha tem que ser acomodada no rio Douro” e que “essa gestão é feita pelos serviços da EDP através da operação de telecomando da barragem de Bagaúste, da forma mais confortável possível no que diz respeito ao impacto para as populações”. “Por enquanto julgo ainda não estarmos a falar de cheias. Trata-se de uma inundação que se sente essencialmente no Peso da Régua, mas estamos a receber água de Espanha num valor já significativo”, acrescentou.

Durante a manhã, a barragem de Bagaúste estava com um débito aproximado dos 3.400 metros cúbicos por segundo. Vitorino Fernandes referiu que as previsões são feitas apenas a “algumas horas”, não sendo possível fazer previsões a longo prazo. Por isso mesmo, o comportamento do rio é monitorizado permanente, num trabalho que é feito pela Autoridade Marítima, protecção civil municipal e distrital, GNR e bombeiros. A todas estas entidades cabe “acompanhar de forma mais amiúde a situação por forma a prevenir a salvaguarda de pessoas e bens”.

Ao galgar o cais fluvial, o rio inundou os dois estabelecimentos comerciais ali localizados, uma loja de artesanato e um bar, tendo chegado ao telhado desse mesmo bar. No entanto, os equipamentos e bens dos dois estabelecimentos comerciais já foram retirados em Dezembro, na primeira vez que o caudal do Douro subiu este inverno.

A subida das águas até ao cais e aos dois estabelecimentos comerciais é uma situação considerada normal, já que estão construídos em leito considerado de cheia. Manuel Saraiva, da protecção civil municipal de Peso da Régua, referiu que, de momento, o rio não representa riscos para as populações. Para afectar, segundo acrescentou, o caudal terá que subir “mais três metros”, cenário em que atingiria a avenida do Douro, no lugar da Barroca, uma situação que já não se verifica desde 2006.

Estragos nas termas de Monte Real
O espaço que alberga as termas de Monte Real, no concelho de Leiria, inundou na terça-feira à noite, provocando “muitos estragos” que ainda não estão quantificados, disse à agência Lusa fonte da empresa.

“A parte do SPA e termas inundou devido ao rebentamento da margem do rio Lis, provocando muitos estragos que ainda estão por contabilizar, porque, por questões de segurança, as pessoas não podem aceder ao seu interior”, disse a mesma fonte.

Esta responsável esclareceu que quando o espaço foi requalificado, em 2009, “houve a preocupação de o executar acima da cota do nível máximo de cheias registado naquela zona”, mas que “foi ultrapassado esta noite”, provocando danos. “Com excepção do SPA e termas, toda a unidade hoteleira está a funcionar”, garantiu a mesma fonte, nada adiantando sobre a previsão de reabertura do espaço inundado.

À agência Lusa, o comandante municipal da protecção civil, Artur Figueiredo, adiantou que “a mota do rio, junto ao açude da Carreira, cedeu, tendo provocado uma inundação da margem esquerda do rio”. “A partir daí, a zona ficou toda inundada, tendo as águas chegado à zona das termas de Monte Real, inundando as instalações”, declarou Artur Figueiredo, esclarecendo que a situação terá ocorrido pelas 20h30 de terça-feira.

As termas de Monte Real começaram a ser exploradas de forma profissional em 1926 por Olímpio Duarte Alves, em cuja família permaneceram até Março de 2005, data em que foram adquiridas pelo Grupo Lena.

Espectáculos cancelados em Miranda do Corvo
O município de Miranda do Corvo anunciou na terça-feira à noite o cancelamento dos próximos espectáculos, devido a infiltrações de água no edifício. A Câmara “viu-se obrigada a encerrar a Casa das Artes e a cancelar os espectáculos agendados, devido à falta de condições mínimas de salubridade e conforto”, explicou um comunicado da autarquia.

“Durante os últimos dias, observou-se a entrada generalizada de águas pluviais junto ao fosso de orquestra, assim como no ‘foyer’, paredes e vãos de acesso exteriores, que impede o funcionamento normal da sala de espectáculos”, referia a nota. A construtora da Casa das Artes de Miranda do Corvo, inaugurada em agosto de 2013, disse hoje à agência Lusa que existe um problema na cobertura do edifício que motivou as infiltrações de água verificadas no seu interior.

Mar ainda algo agitado
Seis barras marítimas estão hoje fechadas à navegação e outras três condicionadas devido à previsão de forte agitação marítima, de acordo com a informação disponível na página da Marinha Portuguesa na Internet. A Marinha indica que as barras de Caminha, Póvoa do Varzim, Douro, Esposende e São Martinho do Porto estão fechadas devido à agitação marítima.

As barras de Aveiro e da Figueira da Foz estão fechadas a embarcações de comprimento inferior a 15 e 35 metros, respectivamente. No que diz respeito à barra de Vila do Conde, a Marinha aconselha que as embarcações até 12 metros de comprimento ou/e calado inferior a 2 metros devem praticar a barra no período compreendido entre as três antes e três horas depois da preia-mar. Para as embarcações com comprimento superior a 2 metros e/ou calado superior a 2 metros apenas podem praticar a barra no período da preia-mar.

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