quarta-feira, 16 de abril de 2014

O que é que a framboesa tem


15 de Abril, 2014por Sónia Balasteiro

© José Sérgio
Tem mimo como ninguém. Abençoadas pelas abelhas que cirandam pelas estufas e se deleitam com o pólen dos arbustos, as framboesas da herdade da Fazenda Nova, em Olhão, serão grandes, encarnadas e saborosas. Precisamente como os nórdicos, principais clientes da Hubel, gostam.
Foram plantadas em 2013, em 10 hectares de estufas de alta tecnologia, num total de 26,5 hectares por quatro quintas, preparadas para resistir a intempéries e a ventos de 140 km por hora.

Abril e Maio são meses mágicos por aqui, quando sairão das herdades da Hubel cerca de 530 toneladas do pequeno fruto. Destas, 485 são para exportação. Através da reputada Driscoll's, com a qual a Hubel estabeleceu uma parceria estratégica, entrarão no mercado holandês e, daí, seguirão para os restantes países da Europa, como Suécia, Finlândia, Dinamarca, Alemanha, Reino Unido e França.


A produção de pequenos frutos, que ganhou expressão nos últimos anos, não era o principal negócio da Hubel quando foi criada, em 1982. Nessa altura, dedicava-se ao fornecimento de sistemas de bombagem de água. A empresa ganhava dimensão ao introduzir no país a hidroponia, um sistema em que as plantas são alimentadas através da água, sem solo. A partir dos "campos de experimentação mantidos pela empresa", já nos anos 90, explica Tiago Andrade, director executivo da Hubel Agrícola, surgiu o interesse em explorações próprias, que foram ganhando importância.

A empresa pertence hoje a uma organização de produtores, actualmente com 60 hectares de frutos vermelhos no Algarve.

A Hubel Agrícola está em expansão, com investimento em novas áreas de produção, tendo tido no ano passado um volume de negócios de cerca de três milhões de euros, que representam 15% do volume de negócios do Grupo Hubel. "Mas este ano esperamos chegar aos seis e, dentro de dois anos, aos 12".

Tudo devido a "uma janela de oportunidade interessante". Graças ao sol algarvio, "produzimos de Fevereiro a Maio 70% das nossas framboesas", revela Tiago Andrade. Precisamente a época em que nenhum outro país europeu está a produzir. Em Abril, o pico, empregam cerca de 400 pessoas só para colher as framboesas. Delicadas, exigem ser colhidas à mão.

E estes não são, nem de perto, os únicos cuidados. Exigem sistemas de sombreamento em estufas de grande dimensão, que permitem conservar temperaturas ao longo de 24 horas, equipamentos de fertirrega que dão à planta exactamente o que ela necessita, em receitas previamente preparadas, controlo da rega em função do sol e das sondas que indicam a humidade dos vasos, redes que drenam a água excedente para canais, abelhas, um sem-fim de mimos. Nas estufas mais antigas é ainda necessário caiar os tectos no Verão para arrefecerem.

Nas herdades do Cercado e da Moita Redonda, bem próximas da Fazenda Nova, a azáfama é grande. Só hoje, são colhidos cerca de 300 quilos de framboesa e os 80 trabalhadores na colheita não têm mãos a medir. Mas nota-se que a produção não está no auge, diz Tiago: "Geralmente são três toneladas por dia entre morango e framboesa". E os responsáveis sabem sempre o que está a acontecer, em tempo real. Cada responsável de equipa coloca online o que cada trabalhador colheu, o que permite também saber exactamente qual é a produção e os rendimentos de colheita individual de cada trabalhador - este é outro dos pontos em que a Hubel é inovadora.

De regresso à Fazenda Nova, João Caço, da Hubel Verde, que presta apoio técnico à Hubel Agrícola e representa nove milhões de euros no volume de negócios do grupo, junta-se à conversa. E explica: "Aqui os solos são susceptíveis à lixiviação, daí a importância de fazer a cultura em substrato".

Com o know-how das culturas hidropónicas adquirido desde 1992, a Hubel Verde resolveu "aproveitar esse conhecimento forte em explorações próprias", apresenta o responsável.

À medida que avança por entre as plantas, fala também da luta biológica, fundamental para conseguir a qualidade desejada: "Como utilizamos os insectos auxiliares na luta contra as pragas, não temos de usar pesticidas". E volta a referir a importância das abelhas. "Sem elas nada disto existiria, simplesmente".

Na casa da rega da herdade, vêem-se as unidades doseadoras dos adubos, que colocam as quantidades ideais de cada um e são monitorizadas através do computador. Para que cada framboesa receba exactamente os mimos de que precisa.


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