15 de Abril, 2014por Sónia Balasteiro
© José Sérgio
Crocante no início e fundente do fim, deliciosa, fácil de transportar e rica em compostos fenólicos e antioxidantes, que ajudam a combater o envelhecimento. É da pêra rocha do Oeste que se fala, a campeã das peras portuguesas. Amada pelos estrangeiros, que "adoram a sua textura crocante", assevera Armando Torres Paulo, que dedica 60 dos seus 72 hectares de pomares à produção do fruto, produzindo cerca de duas mil toneladas de pêra por ano. É uma excepção, numa zona em que a maioria dos pomares não tem mais de quatro hectares. "Cerca de 85% é para exportação, sobretudo para o Reino Unido, que absorve 50% das exportações; para o Brasil, Singapura, Hong Kong…", conta o responsável.
Produzir peras não é pêra doce: "O pomar entra em produção aos quatro ou cinco anos; no repouso procede-se às podas; em Março/Abril os pomares entram em floração, havendo as regas, fertilizações, tratamentos, que vão desde a fase de vingamento e crescimento do fruto, até à colheita", explica Aristides Sécio, presidente da Associação Nacional dos Produtores de Pêra Rocha.
Armando especifica os momentos cruciais da vida deste fruto, resistente ao manuseamento: "A Primavera, entre finais de Março e início de Abril, é o chamado período crítico, porque é quando se dá a floração e o vingamento, ou seja, se define se aquela flor se transforma em fruto".
Para a floração são essenciais as colmeias, por isso não se admire se vir abelhas num pomar. Estão a fazer o seu trabalho. Tão importante como elas só o clima, de cujo humor depende o êxito da produção.
Durante três semanas de Agosto, dá-se a colheita, que emprega, na Quinta de Cadaval, cerca de 180 pessoas. Mas antes é necessário verificar se as pereiras estão demasiado carregadas. "Podem não ter nutrientes suficientes para todos os frutos, é necessário deitar alguns para o chão", explica Armando Paulo. Os clientes da pêra rocha do Oeste gostam de frutos grandes, sobretudo os portugueses.
Seguem para a Frutus, uma das organizações que recebem dos produtores - e de que Armando Paulo é responsável -, que conservará as peras em condições ideais antes de irem para os mercados. "São mantidas em câmaras frigoríficas e vendidas ao longo de todo o ano. Na verdade o processo é semelhante ao dos ursos, que hibernam no Inverno. Retiramos-lhes o oxigénio e ficam com o metabolismo mais lento".
Só da Frutus serão 18 mil toneladas das 210 mil produzidas na zona Oeste, que fazem de Portugal o quinto maior produtor de pêra do mundo. Mais de 50% destina-se à exportação. "Na Irlanda, só gostam da pêra rocha do Oeste", garante Armando. Brasil, Reino Unido, França, Federação Russa, Marrocos, Irlanda, Polónia e Alemanha são os maiores amantes desta pêra, que movimenta um volume de negócios entre 180 e 200 milhões de euros.
Por cá, abundam as parcerias: o McDonald's, a Compal, a Frubaça, a Cisterdoce e a Frutaformas são algumas das empresas a utilizar exclusivamente a pêra rocha do Oeste, que se vende essencialmente entre Setembro e Março.
O segredo está no clima do Oeste. Próximo do mar, é coberto de neblina e humidade pela manhã, exactamente como a pêra gosta. E há o saber fazer: "Criámos um nome para nós: somos pericultores", explica Armando.
Existem cerca de cinco mil produtores deste fruto, que chega a exigir "cerca de 13 mil pessoas durante o mês da colheita", diz Aristides Sécio. E peras também há muitas: "Se pusesse as peras produzidas num ano em fila indiana, chegavam para percorrer meia distância da Terra à Lua e para dar 12 voltas à Terra", comenta Armando Paulo.
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