sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Líderes mundiais alertam para riscos da crise alimentar

Por Sérgio Aníbal
Com a instabilidade social a ressurgir no Globo, políticos e
empresários discutem em Davos como evitar a subida de preços dos
alimentos
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Com a confiança dos empresários em alta e as maiores economias do
planeta a darem sinais de retoma, as preocupações dos líderes
políticos e empresariais mundiais está já a centrar-se no regresso da
crise do mercado das matérias-primas.
Ontem, em Davos, no segundo dia do encontro organizado pelo Fórum
Económico Mundial, quase todos estiveram de acordo relativamente aos
riscos que o mundo enfrenta devido à escalada dos preços dos alimentos
que tem vindo a registar-se nos últimos meses. Não se chegou a
consenso, contudo, no que diz respeito à solução ideal para fazer face
ao problema.

Os maiores avisos vieram dos países emergentes e em vias de
desenvolvimento, aqueles onde já se sente um regresso ao clima de
instabilidade social verificado em 2008, o ano em que os preços dos
alimentos atingiram os seus máximos históricos. Agora, disse ontem em
Davos o Presidente da Indonésia, Susilo Yudhoyono, estamos a entrar
novamente numa situação em que "a próxima guerra económica ou conflito
podem ser por causa da corrida por recursos escassos, se não
conseguirmos resolver este problema depressa".
Nicolas Sarkozy, que ontem, com uma série de intervenções arrojadas,
conseguiu ser mais uma vez uma das estrelas da edição de Davos,
repetiu a ideia que tinha apresentado no início da semana, apelando a
uma regulação mais forte que evite a especulação e a volatilidade nos
mercados de matérias-primas. "Deixemos aqueles que compram grandes
quantidades de matérias-primas comprometer-se com um depósito de parte
do dinheiro usado nessas matérias-primas", sugeriu o Presidente
francês, que irá liderar os trabalhos do G20 durante este ano.
No entanto, algumas vozes em Davos, especialmente do meio empresarial,
defenderam que não são os movimentos especulativos que explicam a
totalidade da subida de preços e pediram para que não houvesse
excessos de regulação. O presidente do maior grupo alimentar do mundo,
a Nestlé, disse que grande parte da responsabilidade pela actual crise
está no incentivo à utilização dos biocombustíveis. "Exite uma solução
muito simples: não à troca de alimentos por combustíveis", disse Peter
Braback.
Do lado do Banco Mundial, Ngozi Okonjo-Iwela também fez um aviso
contra a aposta excessiva na regulação, preferindo que se faça um
investimento forte na agricultura em África. E Pascal Lamy, da
Organização Mundial do Comércio, defendeu que uma abertura dos
mercados dos países desenvolvidos aos produtos dos países mais pobres
também poderia ajudar.
Jean-Claude Trichet, do BCE, também participou no debate, não para
sugerir uma solução para o problema, mas para avisar que o banco
central terá de actuar (previsivelmente com subidas de taxas) para
evitar que o aumento dos preços dos alimentos crie uma espiral
inflacionista na Europa.
Promessa de defesa do euro
Mas, ontem, não foi só do risco de uma crise alimentar que se falou. O
euro e os problemas dos países periféricos em financiar-se também
dominaram os debates. Sarkozy, mais uma vez, tentou assumir a
liderança, garantido que, se depender dele, a zona euro vai
ultrapassar os problemas. "A sr.ª Merkel e eu não iremos nunca - ouçam
bem, nunca - deixar o euro cair", afirmou na sua intervenção na sessão
plenária do segundo dia do evento.
Ainda assim, vários economistas presentes em Davos, antes e depois
desta promessa de Sarkozy, traçaram cenários de sérias dificuldades
para a moeda única e os seus membros. O investidor internacional
George Soros disse que uma reestruturação da dívida soberana
irlandesa, da Grécia e, "provavelmente", de Portugal dificilmente pode
ser adiada. com agências
http://jornal.publico.pt/noticia/28-01-2011/lideres-mundiais-alertam-para-riscos-da-crise-alimentar-21151063.htm

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