MERCADO DE TRABALHO
por Cláudia Garcia, Publicado em 26 de Janeiro de 2011 | Actualizado
há 16 horas
Faltam 70 mil engenheiros por ano no Brasil. Portugal compete por vagas em civil
Fotografia
"No Brasil está a chover muito e Portugal fabrica guarda-chuvas." A
metáfora serve neste caso para ilustrar a realidade dos dois países e
o interesse de cada um. Por ano, formam-se cerca de 30 mil engenheiros
no Brasil, mas são precisos mais de cem mil. Portugal quer colmatar a
falta de 70 mil profissionais licenciados, particularmente em
engenharia civil, e aumentar o número de arquitectos, para trabalharem
nas obras e nos projectos do Campeonato do Mundo em 2014 e os Jogos
Olímpicos em 2016.
O bastonário dos engenheiros portugueses, Carlos Matias Ramos, revelou
ao i que tem sido contactado por muitas empresas e profissionais
portugueses "no sentido de agilizar o processo e encurtar os tempos"
de transferência para o Brasil. "Há engenheiros que querem ir
trabalhar para empresas brasileiras, outros para sociedades restritas
de empresas portuguesas e ainda em parceria."
As principais áreas previstas no protocolo assinado em 2000 entre a
ordem e o CONFEA(Conselho Federal de Engenharia, Arquitectura e
Agronomia) do Brasil, e que está na iminência de ser reformulado, são
"engenharia civil, mecânica, química, electrotécnica e agrónoma".
No entanto, o presidente do CONFEA, Marcos Túlio de Melo, lembra que
as áreas com mais procura e necessidade urgente de know-how envolvem
"os sectores estratégicos do petróleo, gás e construção civil". "Com
um crescimento de 7% do PIB ao ano, há uma necessidade muito grande de
profissionais que o próprio mercado e sistema educativo brasileiro não
suportam porque não se prepararam com a devida antecedência", nota.
A integração de mão-de-obra portuguesa especializada no mercado
brasileiro também está a ser tratada pelas autoridades nacionais. O
embaixador de Portugal em Brasília tem-se multiplicado em encontros
para acelerar o processo de exportação e aumentar o número de
protocolos em diferentes áreas. Recentemente, João Salgueiro almoçou
com o presidente da Câmara Brasileira da Indústria e Construção Civil
(CBIC) e o principal assunto em cima da mesa foi precisamente este,
disse ao i fonte da embaixada.
As intenções são claras de ambas as partes. Os encontros entre o
presidente do CONFEA e o bastonário dos engenheiros são cada mais
frequentes e "a relação é privilegiada", comenta Matias Ramos. O
CONFEA tem registo de 1445 engenheiros portugueses que exercem
legalmente no país. No entanto, o presidente Marcos Túlio de Melo
equaciona que o número real seja muito maior, porque alguns
engenheiros estão a desempenhar funções sem estarem inscritos na
entidade.
O interesse e a motivação dos engenheiros portugueses por trabalharem
no país é "muito recente", sublinha o bastonário. Matias Ramos frisa
que o ano com maior representatividade foi 2010. Agora Portugal quer
ser o principal parceiro na exportação de mão--de-obra qualificada,
tanto a nível individual como empresarial.
Em contrapartida, para o Brasil colaborar com este processo, encurtar
os tempos e inserir profissionais no mercado, o CONFEA quer um acordo
bilateral a médio--longo prazo. "Quando o mercado europeu estava em
ascensão, não houve nenhuma flexibilização e tivemos muita
resistência. Queremos discutir com as organizações dos dois países, e
com o governo, uma abertura de Portugal, e da Europa em geral, quando
retomarem o crescimento."
Carlos Matias Ramos, que tem sido uma das vozes mais sonantes em
matéria de exportação de engenheiros para o Brasil, teme apenas que
Portugal perca grande parte deles. "Não gosto da emigração de
engenheiros, porque perdemos todo o investimento que foi feito",
aponta. Para o bastonário, a exportação pode privilegiar uma parceria
entre os dois países que "mantenha os engenheiros ligados a Portugal".
Além dos engenheiros, o mercado brasileiro começou a atrair
arquitectos portugueses. Neste momento são cerca de 200, mas "estamos
numa fase inicial", frisa o bastonário dos arquitectos, João Belo
Rodeio. O mercado nacional está "estagnado, há falta de encomenda e há
um estrangulamento dos arquitectos". Belo Rodeio explica ao i que os
"eventos desportivos dos próximos anos" são o principal motivo de
interesse.
Há cerca de ano e meio, a Ordem dos Arquitectos portuguesa e o IAB
(Instituto dos Arquitectos do Brasil) assinaram um protocolo que
abrange "todo o tipo de projectos" desenvolvidos nos dois países. Os
mais jovens responderam em força, mas "há cada vez mais arquitectos
portugueses com know-how e estrutura" a apostarem no Brasil. "O Estado
português não está a investir, não há projectos novos, corre-se o
risco de os ateliês fecharem", alerta Belo Rodeia. No Brasil há
arquitectos portugueses que vão trabalhar para ateliês, há ainda os
que têm escritório cá e criam outros no Brasil e os que estão
associados a construtoras. Belo Rodeia espreita novas oportunidades
para os arquitectos portugueses e vai já no primeiro semestre a São
Paulo e ao Rio, onde tem vários encontros marcados com entidades
brasileiras, embaixadores e cônsules portugueses.
Em contrapartida, Brasil quer que a Europa lhe abra os braços quando
passar a crise
http://www.ionline.pt/conteudo/100606-portugal-exporta-engenheiros-e-arquitectos-o-brasil
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