O engenheiro da área florestal acentuou que "não há forma de aplicar
diretamente as medidas de limpeza, controlo e ordenamento florestal
por uma questão financeira"
O especialista na área de engenharia florestal José Marques Aranha
referiu hoje que a "questão financeira" impede a limpeza de matas e
florestas, ação que considera ser fundamental para prevenir a
ocorrência de incêndios.
José Marques Aranha, docente na Universidade de Trás-os-Montes e Alto
Douro e da Ordem dos Engenheiros - Região Norte, sublinhou à agência
Lusa que "há legislação suficiente" em Portugal de defesa da floresta
contra incêndios, mas assinalou que "não existe aplicação concreta no
terreno".
O engenheiro da área florestal acentuou que "não há forma de aplicar
diretamente as medidas de limpeza, controlo e ordenamento florestal
por uma questão financeira".
"Temos gabinetes técnicos, florestais e a Proteção Civil a preparar
devidamente a época de incêndios, a fazer os planos municipais de
defesa contra incêndios e a calcular o perigo de incêndio, mas, depois
de estar tudo desenhado e programado, não existe aplicação concreta no
terreno", vincou.
O especialista notou que se tem negligenciado a obrigação legal de
fazer cumprir o Plano Municipal de Defesa das Florestas Contra
Incêndios e asseverou que "vai ser muito difícil aplicar a lei".
"Enquanto não se valorizar a biomassa florestal, de forma a que o
resultado das limpezas das matas e florestas tenha algum valor
económico, e enquanto isto for só uma despesa que é atribuída à
autarquia local, vai ser muito difícil fazer cumprir os planos de
defesa da floresta que são feitos todos os anos", disse.
Por isso, José Marques Aranha considerou que é preciso "ter uma
atitude mais física e responsável e programar atempadamente a limpeza
dos terrenos urbanos no limite de confronto entre a situação urbana ou
agrourbana e a situação florestal e proceder a essas limpezas durante
o inverno".
"O que acontece é que, muitas vezes, são feitas as limpezas no fim da
primavera, por o tempo atmosférico estar melhor, e continua a haver
acumulação de biomassa entre essa franja limite dessas zonas urbanas,
no interior do país", observou.
Com o registo de ocorrência de mais de 3.400 incêndios em matas e
florestas nos últimos 15 dias, e com a perda de cinco vidas humanas,
José Marques Aranha admitiu que é primordial uma nova
consciencialização para uma nova política de defesa da floresta.
"Era preciso que houvesse uma ação continuada entre as ações da
proteção civil, do ponto de vista de fazer o ordenamento dessa franja,
dos serviços florestais, para fazer o ordenamento das matas, e haver
um efetiva frequência de operações para proteger as pessoas e bens e
evitar que haja incêndios florestais", declarou o docente
universitário.
O responsável da Ordem dos Engenheiros - Região Norte salientou que
"faz falta uma política florestal adequada", porque, frisou, "uma
percentagem considerável dos incêndios em Portugal poderia ser evitada
se a floresta não tivesse sido relegada para segundo plano pelos
vários governos que temos tido".
Acusou ainda a "falta de articulação entre os comandos locais, os
distritais e a direção nacional", sustentando que "os serviços estão
demasiados centralizados e, depois, não há uma boa cadeia operativa
eficiente desde a chefia máxima até à local".
Os incêndios florestais em Portugal durante o mês de agosto já
consumiram uma área superior a 60 mil hectares, segundo dados do
Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS).
*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico
aplicado pela agência Lusa
http://www.ionline.pt/artigos/portugal/questao-financeira-impede-limpeza-matas-florestas-diz-especialista
Sem comentários:
Enviar um comentário