Joaquim Valente
A floresta portuguesa está a desaparecer engolida pelas chamas dos
incêndios! Dói ver assim a nossa paisagem!
De acordo com o último inventário da Autoridade Florestal Nacional, a
ocupação florestal do território teve um crescimento de 3% nos últimos
10 anos, com subidas nas áreas do pinheiro manso, carvalho e eucalipto
e descidas no castanheiro e azinheira, e mais de um terço do
território português está coberto com florestas e bosques constituindo
um importante recurso natural, representando ainda uma fatia
considerável da economia nacional.
Com uma implantação plurissecular os "quercus" (carvalhos), sobreiros,
azinheiras e castanheiros eram as espécies florestais dominantes, e
com o sucessivo desenvolvimento da agricultura e das pastagens foram
sendo abertas clareiras com o consequente aproveitamento dos recursos
florestais, como a madeira, a cortiça e outros.
A floresta dá tudo, dá riqueza, alberga toda a espécie de vida animal
e vegetal, purifica a atmosfera, preserva a biodiversidade, regula o
ciclo hídrico, é factor de desenvolvimento, de empregabilidade, âncora
do nosso turismo.
Na Beira Interior, na área do Parque Natural da Serra da Estrela, o
coberto florestal remonta ao repovoamento populacional, levado a cabo
por D. Sancho I, num trabalho de muito esforço do poder instituído e
da comunidade local ao longo de muitas dezenas, mesmo centenas de
anos, com um trabalho árduo e com recursos limitados em termos de
meios mecânicos e do pessoal, onde os arroteamentos eram difíceis e
com grande parte da área da serra da Estrela coberta de grande
quantidade de castanheiros, uma riqueza económica de grande impacto
para a região, presente na toponímia local, como sejam Soito da
Quinta, Soito da Borralheira ou Soito do Bispo. Por isso quando estas
espécies ardem, desaparecem valor material mas também o valor
espiritual de uma população.
A degradação do solo florestal começou com a exploração intensiva do
eucalipto, espécie exótica, e aproveitada para a pasta de papel,
ocupando hoje um total de cerca de 700 mil hectares, a mesma área dos
sobreiros e que a coloca como causadora de vários problemas
ambientais, dado que consome demasiada água, esgotando os nutrientes
do solo empobrecendo-o.
Com os incêndios e as suas graves consequências assistimos à
destruição maciça de zonas florestais, que no mês de Agosto se revelou
particularmente dramática, com o cenário de destruição e mortes
humanas, demasiado numerosas em tão pouco tempo, o que nos leva a
dizer que algo está profundamente errado nas políticas florestais ou a
ausência delas, o que conjugado com outros factores como sejam o
aumento da temperatura global, os períodos prolongados de seca, a
desertificação da propriedade agrícola e a falta de ordenamento,
constituem ingredientes explosivos.
É urgente que todos os cidadãos se envolvam, para que se aposte
prioritariamente na prevenção dos fogos florestais, com medidas que o
Governo central deve desde já tomar, pois se o não fizermos já, no
próximo verão continuaremos a assistir ao mesmo cenário, com os mesmos
debates, e com a pesada factura a ser paga pelos Bombeiros Voluntários
que são os menos responsáveis pelo estado a que a floresta chegou em
Portugal.
O concelho da Guarda, infelizmente também foi fustigado por um
incêndio que devastou uma das áreas mais férteis do Vale do Mondego,
com enormes prejuízos, e a "má sorte" também atingiu três bombeiros de
uma corporação de uma das nossas freguesias.
http://www.asbeiras.pt/2013/09/opiniao-os-incendios-florestais/
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