A produção de cana-de-açúcar no arquipélago da Madeira, cultura que remonta ao século XV, deve atingir as seis mil toneladas em 2014, estimou o diretor regional de Agricultura, Bernardo Araújo.
«Os contactos preliminares feitos junto dos engenhos [unidades de transformação da cana] da região permitem concluir que será assegurado o total escoamento da produção de 2014, estimada em cerca de 6.000 toneladas», disse o diretor regional de Agricultura à agência Lusa, quando começa mais uma época de laboração nestas fábricas.
Luís Camacho, sócio-gerente da centenária Fábrica de Mel de Cana do Ribeiro Seco, perspetivou que neste ano possa vir a moer cerca de 1.100 toneladas de cana-de-açúcar, «mais sete toneladas do que no ano passado, que não foi um ano muito bom porque foi seco e a cana precisa de água e sol».
Esta unidade industrial projetou produzir cerca de 100 mil litros de mel, uma espécie de xarope fruto de vários processos de cozedura e filtração, empregue na doçaria, nomeadamente nos bolos e broas de mel que a fábrica também produz.
Como forma de assegurar a fidedignidade dos produtos derivados do mel de cana e garantir o seu escoamento, Luís Camacho defendeu que o "Selo de Garantia", ostentado na doçaria, deveria ser distribuído pelas próprias casas produtoras de mel «como forma de garantir que aquele produto é efetivamente fabricado com mel e não com melaço e, assim, era defendida a qualidade do bolo de mel e das broas e o consumidor».
Para Luís Camacho, o melaço - mais barato, com menos qualidade e proveniente da América Latina - «devia ser taxado para proteção da indústria local, dos agricultores e dos trabalhadores das respetivas fábricas».
Já o administrador da Sociedade de Engenhos da Calheta, Carlos Bettencourt, disse esperar receber cerca de 2.600 toneladas de cana que serão direcionadas para o fabrico de mel, rum e aguardente.
«Escoa-se mais a aguardente do que o mel, mas também empregamos este para fabricar bolos e broas que vendemos com a nossa chancela», adiantou.
Por seu turno, Luís Faria, gerente da Companhia dos Engenhos do Norte, datada do século XIX e única na Europa a trabalhar a vapor, espera adquirir cerca de 2.100 toneladas de cana-de-açúcar para uma produção equivalente a 120.000 litros de aguardente.
«O engenho está a ser recuperado respeitando a traça e a maquinaria original e continuará a trabalhar a vapor», assegurou.
Celso Olim, responsável pelo Engenho Novo Madeira, criado em 2006, conta manipular cerca de 1.500 toneladas de canas para uma produção de 30 toneladas de mel e 90.000 litros de aguardente.
Os empresários são unânimes ao saudarem a criação do selo de garantia, por imprimir «alguma confiança» nos produtos, mas também defendem uma «boa fiscalização» para que, nos meses de safra, de março a abril, «se continue a ver, alinhados, desde madrugada, à porta dos engenhos, os camiões carregados de canas-de-açúcar».
Face às condições favoráveis do solo, a cultura da cana-de-açúcar tem cruzado séculos de história da ilha. Os insulares extraíram num primeiro momento o açúcar, que ficou conhecido como "ouro branco" e, depois, com a decadência da indústria açucareira nos finais do século XVI, a aguardente e o mel.
De acordo com a Direção Regional de Agricultura (DRA), a produção de cana-de-açúcar passou de 2.871 toneladas em 2000 para 5.824 toneladas em 2013.
Nesse período, o valor total pago à produção do setor aumentou de 387.585 para 1.572.480 euros.
Segundo a DRA, o rendimento médio por produtor (719 produtores de cana em 2013) subiu igualmente nesse período, passando de 594 para 2.187 euros.
A área de canaviais é relevante sobretudo na costa sul da Madeira, nomeadamente na Ponta do Sol, Calheta, Ribeira Brava e Câmara de Lobos.
Diário Digital com Lusa
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