sábado, 29 de junho de 2013

A propósito da “diabolização do eucalipto”

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Paulo Pimenta de Castro

Atuais responsáveis políticos criaram recentemente o conceito de
"diabolização do eucalipto". O discurso parece ter pegado, não se
confinando a personalidades do poder executivo. Confesso que fico
curioso por saber ao que se referem. É certo que não são especialistas
da área, um deles é até novo nas lides, o que aguçou ainda mais a
minha curiosidade.

Será que se referem às atuais tomadas de posição das ONG do Ambiente
sobre a esta cultura? Mas a abordagem atual das ONGA está longe de ser
a mesma da do final da década de 80. Longe disso, tem sido suportada
por profissionais da engenharia florestal e especialistas em ciências
agrários com provas dadas ao longo de várias décadas e reconhecidas a
nível nacional e internacional. A época de acorrentamento às máquinas
de florestação está muito distante, muito embora tenha à época
impedido muitos desvarios das empresas ligadas à lenhicultura do
eucalipto. Hoje, as posições têm suporte técnico e científico,
designadamente as publicamente assumidas pela LPN e Quercus,
baseando-se em dados concretos, facilmente percetíveis, designadamente
no que respeita aos critérios e indicadores da gestão florestal,
desejavelmente sustentável, em cuja formulação participaram a par dos
representantes da produção e da indústria.

Não sendo pelo posicionamento das ONGA, terá sido o conceito de
"diabolização do eucalipto" criado para mascarar:

O crescente abandono da gestão dos eucaliptais, evidenciado nas
últimas revisões do Inventário Florestal Nacional, com destaque para
as regiões de minifúndio, regiões essas onde está associado o maior
risco de incêndio? Risco esse associado ao aumento do desinteresse
pelo negócio da produção de lenho para trituração, fruto da quebra do
rendimento junto dos produtores.

A ausência de consultoria técnica disponibilizada aos produtores,
particularmente em regiões de minifúndio? Ou mesmo a discutível
qualidade técnica de várias obras associadas a povoamentos de
eucalipto, com impacto na própria certificação florestal? Fazendo jus
à mais valia da certificação de 200 mil hectares de área de eucaliptal
gerido pela industria, porque não criam as empresas dias abertos à
sociedade para a visitação a tais áreas? Eu próprio estaria
interessado em participar, desde claro que pudesse opinar sobre os
locais a visitar.

A ausência de regulação do mercado do lenho de eucalipto, onde impera
o desequilíbrio na transmissão de valor ao longo da cadeia produtiva?
Impacto esse negativo para os produtores.

A miserável produtividade média nacional associada aos eucaliptais, a
de hoje que não difere da registada em 1928?

A distribuição de dividendos entre acionistas, sem acautelar a
sobrevivência do próprio negócio no plano nacional? Ou aguarda-se que
essa sobrevivência ocorra a custas dos contribuintes? Ou estará para
breve a deslocalização de unidades fabris para Sul?

O decréscimo acentuado do peso do Valor Acrescentado Bruto da
silvicultura no VAB nacional, apesar da duplicação no mesmo período da
área de eucaliptal,

A queda do peso na floresta, mais acentuado ainda na indústria
florestal e, consequentemente, do próprio setor no PIB? Isto apesar do
aumento das exportações de produtos transformados de base florestal.

Ou, à cedência do Governo, sem contrapartidas de extensão florestal e
de acompanhamento dos mercados de produtos florestais, aos anunciados
15 mil postos de trabalho em troca de 40 mil hectares de eucalipto?

Será que não estamos perante um conceito criado para dissimular o
fomento de "diabinhos"?

Usam-se as exportações imediatas de pasta celulósica e papel para
justificar o fomento desorientado da espécie, mas qual será o preço a
pagar no futuro próximo por esta desorientação orientada (incêndios
florestais, pragas e doenças, erosão, qualidade da água, perda de
biodiversidade, êxodo rural, desertificação)?

Quanto à árvore em si e às suas potencialidades, estranho que o
Governo não crie incentivos à diversificação das opções de mercado
para a madeira de eucalipto, como alternativa à produção de rolaria,
designadamente em produções de maior valor acrescentado, como madeira
para serração, para a construção ou mesmo para mobiliário, p.e. de
cozinha. Desta forma, para além do aumento do VAB da silvicultura,
poder-se-ia incrementar o aparecimento ou a reestruturação de muitas
PME de base local e regional, com a promoção de emprego e o combate ao
êxodo rural, bem como com a redução das importações de madeira
serrada. Outra alternativa, para algumas regiões do País, poderia ser
o fomento da biomassa dedicada a partir do eucalipto, quer na produção
de eletricidade, quer para a produção de calor, com a redução das
importações de combustíveis fósseis, designadamente de carvão mineral,
isto inclusive com recurso a fundos do primeiro pilar da PAC. Ou
ainda, para a eventual produção de bioetanol a partir da celulose
proveniente do eucalipto, aqui também com potencial impacto na redução
das importações de petróleo. Bom, talvez um Ministério protecionista
de certas empresas industriais de base lenhosa não esteja para ai
virado.

Paulo Pimenta de Castro
Engenheiro Florestal

http://www.agroportal.pt/a/2013/pcastro4.htm

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