sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Floresta, a mina de diamantes de Portugal

Poucas coisas têm tanto valor em tão diversas frentes. A floresta tudo
dá – gera riqueza, pincela paisagens únicas, alberga um sem-número de
vidas, limpa os ares, purifica águas, protege o solo, dá emprego,
deslumbra turistas e ainda enriquece a gastronomia. Dá resposta a cada
um dos três pilares do desenvolvimento - economia, sociedade e
ambiente. A sua evolução entrelaça-se com a de Portugal, nas suas
estórias e na sua História. Como o faz no presente e promete no
futuro.

Portugal tem mais de um terço do seu território coberto com florestas
e bosques. Este é um dos maiores e mais importantes recursos naturais
do país e tem dado provas disso. Desde sempre. Do fogo, abrigo e
alimentação com que protegia as gentes de outrora, à pasta de papel ou
à cortiça que hoje alimentam uma fatia importante da economia
nacional, a floresta deu o material que levou os portugueses a outras
paragens ou que permitiu que a ferrovia assentasse carris pelo país
fora.

Peso das exportações das principais fileiras florestais nas
exportações nacionais, em % das exportações nacionais

FONTE: Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento
do Território

Em tempos remotos, eram os Quercus que imperavam. De seu nome comum,
os carvalhos, os sobreiros e as azinheiras. Ancestrais são também os
castanheiros, as cerejeiras-brava, os loureiros, os teixos, as
bétulas, os salgueiros, os amieiros ou os freixos, entre muitos
outros.

A necessidade de terras aráveis e pastos deu a primeira machadada
nessas florestas. Ao longo da História do país, a paisagem sofreu
tremendas mudanças, ora porque se abriam clareiras para agricultura e
pastagens, ora porque os recursos florestais eram necessários, como
foi o caso da navegação ou das traves para os caminhos-de-ferro. No
início do século XIX, a floresta já cobria apenas 10% do país.

Nesse meio tempo, a floresta alimentou, tanto com as espécies que
acolhia como com os seus frutos e bagas, iluminou, aqueceu, abrigou e
deu rendimento às famílias.

Hoje continua a fazê-lo, embora as protagonistas sejam outras. Uma há
que resiste há séculos: o sobreiro, uma espécie de extraordinária
generosidade. Nela assenta uma das mais importantes indústrias
nacionais, a Amorim, mas o montado é muito mais que cortiça. É
paisagem, é biodiversidade, é protecção do solo, é sumidouro de
carbono, e mais, muito mais.

Como contribuintes para um sector que representa quase 10% das
exportações do país e que dá emprego a 1,8% da população activa,
outras espécies recém-chegadas ao país alimentam duas das indústrias
mais importantes no tecido empresarial português.

A mais antiga destas novatas – que pode até nem ser desconhecida no
país como referem alguns estudos arqueológicos – é o pinheiro-bravo,
campeão das campanhas de florestação do século passado. No Norte e
Centro do país acabou por dominar boa parte da paisagem, alimentando
serrações, oferecendo a resina cujo uso acabou por cair em desuso e
potenciando o aparecimento de uma empresa que hoje é das mais
importantes do país – a Sonae Indústria (empresa do grupo que detém o
PÚBLICO).

Durante anos, liderou a tabela das espécies predominantes no país. Mas
é uma espécie hoje em declínio, sobretudo devido aos incêndios que
encontram na sua resina um combustível de excelência e na continuidade
das plantações o pasto ideal para ganhar velocidade e força.

Acabadinho de chegar ao primeiro lugar das árvores com maior presença
em Portugal está o tão mal-afamado eucalipto, estrangeiro dos quatro
costados e que ainda hoje é visto como uma maldição. Acusado de mil e
uma tropelias, o seu maior defeito é o que os homens fazem dele. Ou
mais concretamente, onde e como o plantam. Manchas contínuas em locais
inapropriados é receita certa para o disparate. Tal como o foi no caso
do pinheiro-bravo.

Indiferente à terrível fama que carrega, o eucalipto é a base da
empresa de capitais portugueses que mais exporta, a Portucel, que só
por si assegura cerca de 3% do total de bens exportados e representa
perto de 1% do PIB nacional.

Silvicultura e indústrias florestais, em % do PIB Março 2012

FONTE: Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento
do Território

Mas se a floresta é de facto fundamental para três das maiores
empresas nacionais, assim como outras nos mesmos sectores, a
mais-valia económica da floresta não se reduz à equação
papel-cortiça-madeira.

Há todo um mundo diversificado que tem, como principal vantagem, a
oferta de respostas para muitas comunidades que ainda persistem nos
meios rurais. Alguns exemplos: o tão suculento porco preto depende da
bolota da azinheira, o pinhão está em crescimento, a castanha também
assim como o medronho. O mel, os cogumelos ou a caça são outras das
oferendas das florestas nacionais.

A floresta é também o território de excelência para o turismo, outra
das mais produtivas indústrias nacionais. Das paisagens que mudam a
cada curva nas serranias do Gerês ou de Montesinho à deslumbrante
simplicidade do montado.

A riqueza não se esgota aqui, nos empregos, nas exportações, nas
vendas, no lazer. Aliás, só agora começa. Não é por acaso que Portugal
tem uma das maiores percentagens de território classificado como
excepcional a nível europeu. A biodiversidade que a Rede Natura
encerra, grande parte inscrita em zonas florestais, é reconhecida como
única.

Peso da fileira florestal no emprego em percentagem, Março 2012

FONTE: Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento
do Território

São aves, são plantas, são zonas excepcionais que transformam Portugal
num país riquíssimo.

A acrescer a já tão grande espólio, acresce o sequestro de carbono, a
protecção do solo, a regulação da qualidade da água e do ciclo
hídrico.

Estamos longe de uma floresta dominada por Quercus, como era no
passado. Já passámos pela quase desolação, assistimos às monoculturas
e hoje vemos muitas das espécies ancestrais a recuperar terreno.
Sofremos com a factura de decisões erradas, como atestam os fogos,
naturais no nosso clima, mas agora mais atiçados pelo desordenamento.

Já muito se errou, já muito se corrigiu e há ainda muito a aprender.
Falamos de um terço do território de Portugal. Da nossa mina de
diamantes.

http://publico.pt/floresta-em-perigo/floresta

2 comentários:

Anónimo disse...

Excelente artigo, pena não começarem a olhar para o diospireiro, como a próxima árvore do futuro. Porque, essa sim, é por si só uma verdadeira árvore de diamantes, garantindo elevada rentabilidade, dá-nos comida, energia, protege o ambiente, embeleza as paisagens outonais e enriquece os solos, com as suas grandes folhas caducas.

Anónimo disse...

Artigo de um puro cinismo. Que o digam as dezenas de milhar de proprietários florestais que todos os anos são expoliados do seu rendimento e da mais valia do seu património pela ganância insaciável da indústria e do lobbie do fogo, e que este Governo de vigaristas se prepara para expoliar com um aumento brutal de IMI sobre os prédios rústicos.

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