Publicado às 09.47
MIGUEL GONÇALVES
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As autoridades aeronáuticas estão a investigar um incidente ocorrido
com um helicóptero Kamov, em agosto, que poderá ter resultado de falha
humana e irá custar mais de um milhão de euros aos contribuintes.
No dia 28 de agosto, 35 segundos após descolar do heliporto de Santa
Comba Dão, um helicóptero Kamov, da EMA (Empresa de Meios Aéreos,
detida pelo Estado), que se preparava para combater incêndios, teve
uma inesperada falha de motor. A tripulação, de acordo com o relatório
do Gabinete de Segurança de Voo, demorou 15 segundos a reagir - "tempo
demasiado longo", na opinião de especialistas ouvidos pelo JN - e terá
"forçado" de tal maneira o segundo motor que, quando o aparelho
aterrou, em Viseu, já não levantou mais voo. Uma caixa de transmissão
e um motor novos custam mais de um milhão de euros.
O relatório sumário do incidente (RSI), a que o JN teve acesso, elogia
a forma expedita como o piloto e o copiloto conseguiram conduzir o
Kamov, quase 19 minutos, até à pista de Viseu, aterrando em segurança.
Mas, por outro lado, revela medidas adotadas pela tripulação que,
conforme explicaram ao JN alguns pilotos seniores e com milhares de
horas de voo, poderão ter sido motivo de "problemas graves" que se
vieram mais tarde a detetar numa análise ao motor e à caixa de
transmissão.
"O que o RSI demonstra é que, ao ser surpreendida com a falência de um
dos dois motores, a tripulação, porventura algo nervosa, aumentou a
velocidade e terá havido excesso de pedido de potência ao motor que
estava bom. Este terá dado o máximo que pôde e acabou por sofrer danos
que o impedem agora de voar, de acordo com o que os técnicos apuraram
ao ler o FDR (Flight Data Recorder)", disse, ao JN, um piloto de topo
de carreira.
Este mesmo piloto e um outro também sénior asseguram que "a leitura do
RSI demonstra que os procedimentos da tripulação terão sido feitos ao
contrário".
"É minha convicção de que estiveram no limiar de uma catástrofe, de se
despenharem", afirma o primeiro piloto. Já o segundo lembra que a
saída do heliporto de Santa Comba Dão fica a escassos metros da feira
local. "Se fosse em dia de feira e a coisa tivesse dado para o torto,
era uma tragédia", sublinha.
Segundo apurou o JN, o comandante do Kamov de Santa Comba Dão
ultrapassou, três dias antes do acidente, o limite das oito horas de
voo diário permitido por Lei. "Poderia estar cansado e com excesso de
fadiga", admitiu, ao JN, um prestigiado piloto, muito experiente no
combate a fogos, razão pela qual vinca que "trabalhar oito horas a
combater incêndios é muitíssimo mais desgastante do que fazer o mesmo
tempo, por exemplo, a transportar doentes". Por outro lado, o
comandante da aeronave, apesar de atualmente ser diretor de formação e
treino, não terá voado muito regularmente durante os cerca de 18 anos
em que foi inspetor do Instituto Nacional de Aviação Civil.
Já sobre o copiloto há uma outra questão que pode suscitar críticas. É
que este terá estado mais de dois anos sem voar. "É um major que vem
fazer umas horas à EMA porque no Exército não têm helicópteros",
explicou uma fonte da Empresa de Meios Aéreos.
A EMA e o ministro da Administração Interna escudaram-se no "segredo
da investigação em curso" para não responderem às questões do JN: qual
o valor da reparação do helicóptero e quem a vai pagar? A tripulação
vai ser alvo de inquérito disciplinar?
Já o Instituto Nacional da Avião Civil optou por não dar qualquer resposta.
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=3466306&page=-1
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