Biocombustíveis (act.)
Ana Maria Gonçalves
06/01/14 00:05
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John Cooper, director para a Estratégia Europeia de Biocombustíveis.
A BP defende que os biocombustíveis, negócio em que é um dos líderes mundi ais, terá um papel chave na descarbonização dos transportes e na redução da dependência do petróleo. Mas para atingir estes objectivos, o sector precisa de uma visão de longo prazo e o apoio político duradoiro, quer da Comissão Europeia, quer dos Estados-membros. Em entrevista ao Diário Económico, o director para a Estratégia Europeia de Biocombustíveis fala dos desafios com que a actividade se debate.
Há uma forte pressão em Bruxelas para se alterar a política energética, incluindo os biocombustíveis...
O desenho da política de biocombustíveis europeu foi feito numa altura em que a Europa se sentia mais forte. Surgiu por volta de 2003 e começou com governo nacionais que desejavam dar um incentivo à produção local para encontrar um mercado nos combustíveis, promover uma indústria. Foi em 2007/2008 que a Europa começou a apoiar activamente os biocombustíveis através da directiva das energias renováveis. A ideia fundamental, embora não expressa claramente, era de que uma procura forte de biocombustíveis na Europa iria impedir a necessidade de armazenar quantidades grandes de cereais, como forma de manter os preços altos dos produtos agrícolas. Havia também um objectivo ambiental, de redução das emissões de CO2. Mas é importante relembrar que os biocombustíveis surgiram como um apoio aos agricultores e do desejo dos países de ser mais independentes em termos de combustíveis fósseis. Nas últimas duas décadas o preço do crude passou de 10 dólares para cerca de 140 dólares. A atitude para com os biocombustíveis pode muito ser influenciada pelo preço que pensamos que o petróleo possa atingir. É importante ainda realçar que na altura em que a directiva foi renegociada a directiva comunitária, o crude atingiu os 147 dólares. Havia uma verdadeira preocupação com os preços do petróleo. Havia previsões que apontavam para 200 dólares. Isso fazia com que o preço do etanol fosse muito atractivo, independentemente dos objectivos ambientais. Os preços do petróleo desceram e pelos preços praticados no mercado verifica-se que os biocombustíveis são 20% mais caros que os combustíveis fósseis.
Quais são as mudanças em cima da mesa?
A Comissão Europeia anunciou, no ano passado, que ia rever a directiva das energias renováveis. A directiva entrou em vigor em Janeiro de 2012 e foi, nessa altura, que se exigiu aos Estados-membros que tivessem legislação correspondente na área ambiental. Muitos países já tinham ou andavam lá perto. Se alguma área é usada para biocombustíveis tem que usar novas para produção de alimentos. Muita gente apoiou a alteração de directiva para parar a utilização de alguns biocombustíveis. Isto causou grande confusão em Bruxelas. Esta proposta gira em torno do fortalecimento da componente ambiental das energias renováveis. Mas não foi bem recebida por vários Estados-membros, nem pelo sector. A proposta era muito complexa.
Qual é a posição da BP?
A BP acredita que os biocombustíveis são um caminho sensato e de longo prazo a seguir. O transporte rodoviário tem que reduzir a dependência dos combustíveis fósseis, as emissões de CO2 e ter fontes renováveis de energia. Temos alguns dos nossos investimentos em biocombustíveis no Brasil, como a produção de etanol. Temos também instalações no Reino Unido e compramos também grandes quantidades de biocombustíveis na Europa. Juntamente com carros que são tecnologicamente mais eficientes, esta será a melhor maneira de reduzir as emissões de CO2 nos transportes. Mas também temos que ser honestos em relação ao ponto em que a economia europeia se encontra. O que é que os clientes podem suportar e aquilo que os políticos podem justificar ao cliente/contribuinte entre aquilo que estão a pedir e aquilo que estão dispostos a pagar como prémio para as renováveis.
É viável o cumprimento das metas de incorporação de biocombustíveis na gasolina e gasóleo impostas por Bruxelas?
Sejamos honestos. Todos os países estão em diferentes posições. Têm uma atitude diferente e há boas razões para essas diferenças. A França está confiante que pode atingir o objectivo dos 10% imposto por Bruxelas até 2020 [Portugal ainda não chegou aos 7%]. Mas a sua posição é muito diferente dos vários países do Sul da Europa, onde a produção dos biocombustíveis é menor e onde há menos terra arável disponível. Para países que não têm um sector agrícola tão forte há obviamente uma preocupação. Caso se estabeleça um objectivo muito elevado e se exige importações de biocombustíveis, então o que se está a fazer é escolher importar biocombustíveis, quando na verdade se podiam continuar a usar combustíveis fósseis nos automóveis. Até porque os combustíveis fósseis são cerca de 20% a30% mais baratos. Acho que é muito difícil um governo justificar uma meta de biocombustíveis se grande parte deles tiver que ser importado.
Quais são as matérias-primas mais promissoras para os biocombustíveis?
Uma das grandes surpresas dos últimos cinco anos veio dos óleos alimentares usados e das gorduras alimentares. Se olharmos para o Reino Unido, a grande percentagem de biodiesel é proveniente desses óleos alimentares usados. Vemos a longo prazo três grandes fontes de produção agrícola para biocombustíveis para fugir aos produtos agrícolas destinados à alimentação humana. É o caso dos desperdícios agrícolas, como palha e outros resíduos de culturas, resíduos florestais. Mas aqui há concorrência com a biomassa. A terceira utilização é o lixo das cidades.
Os biocombustíveis mais avançados continuam a exigir um grande investimento. Quando podemos esperar uma mudança?
Há três a cinco novas tecnologias diferentes que podem resultar. É o caso da utilização de palha para produção de etanol. É a mais fácil de transformar mas exige capital intensivo. Há outras tecnologias que podem usar resíduos de madeira. São tecnologias que podem funcionar mais que são dispendiosas e de capital intensivo. Há múltiplos problemas para que este negócio possa avançar. O primeiro é que as fábricas são caras. Na BP nos últimos 30/40 anos fizemos várias fábricas e diferentes tecnologias e sabemos que a primeira fábrica é sempre mais dispendiosa. A segunda já é 15% a 20% mais eficiente em termos de custo e a terceira e quarta ainda são melhores. Percebemos como se podem eliminar alguns problemas e optimizar equipamentos. O problema está na justificação da primeira fábrica. Ninguém quer dar o primeiro passo e preferem apostar numa tecnologia com resultados mais eficientes.
Como se quebra esse ciclo?
A única forma de se investir na primeira fábrica é ter uma regulação clara e duradoura. Temos que ter uma definição clara do preço a longo prazo (10 anos). A regulação que temos actualmente vai até 2020. Entrou em vigor em 2011, mas em meados de 2012 já estava a ser revista. Esse processo ainda não terminou, pois não há ainda uma decisão. Pelas informações que recebemos de Bruxelas é provável que não haja uma decisão sobre esta regulamentação nos próximos dois anos, o que significa que os Estados-membros têm 18 meses para a implementar. Em 2017/18 saberemos a regulamentação que teremos de cumprir em 2020, ano em que termina o prazo imposto pela Comissão Europeia. Isto dificulta o investimento. O sentimento geral é que a política energética é tão confusa que não se pode investir no sector. Pensamos que isto é uma vergonha porque há tecnologias que podem produzir bons biocombustíveis. As tecnologias são actualmente caras, mas podem tornar-se mais baratas. Este é um sector que necessita de uma visão política de longo prazo. O problema é que há eleições. Haverá em breve uma comissão em Bruxelas e ninguém pode prever o que pode acontecer num ciclo eleitoral. Sentimos uma grande mudança em Bruxelas nos últimos dois anos. A grande preocupação é o preço dos bombustíveis nas bombas. Temos um elevado nível de impostos na Europa.
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