Vamos morrer na praia?

Opinião
NICOLAU SANTOS
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Vamos morrer na praia?
Mesmo que nos próximos meses o Governo seja bem sucedido na redução da
despesa pública, corre o risco de morrer na praia devido aos elevados
juros.
Nicolau Santos (www.expresso.pt)
0:00 Quinta feira, 24 de Fevereiro de 2011
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Foi outra semana de loucos. O Governo está de nervos em franja. Depois
de saber que o PSD se ia abster na moção de censura apresentada pelo
Bloco de Esquerda, não teve tempo de soltar um suspiro de alívio. Na
reunião dos ministros europeus das Finanças, os titulares do cargo na
Alemanha, Holanda e Áustria passaram a mensagem que "os mercados estão
calmos" e que, por isso, não há razão para reforçar o atual fundo de
resgate até 2013, nem para o flexibilizar. Para ajudar à missa, o
governador do Banco de Portugal veio revelar que já estamos em
recessão.

Convenhamos que, no atual quadro, tem razão o ministro das Finanças,
Teixeira dos Santos, para ter ficado indisposto com o seu homólogo
alemão, Wolfgang Schauble. O bloqueio da Alemanha e dos países que
apoiam o seu pensamento (Holanda e Áustria) continua a animar o
nervosismo dos mercados, pelo menos no que toca aos países europeus em
dificuldades. E não se trata de um problema exclusivo de Portugal. Os
juros da Grécia, Irlanda, Espanha, Itália e Bélgica apresentam uma
tendência altista, fruto da intransigência germânica. A calma dos
mercados é para alguns países da zona euro mas não para todos, que
veem os seus problemas agravar-se com as elevadas taxas de juro que
têm de pagar.
E foi neste quadro - "Alemanha deixa Portugal nas mãos dos
especuladores", titulava o "Diário Económico"; "Estado paga hoje mais
para emitir Bilhetes do Tesouro", segundo o "Jornal de Negócios" - que
o Tesouro foi ao mercado colocar mil milhões de euros a 12 meses.
Esperava-se o pior. Contudo, embora a procura tenha sido abaixo da
última emissão (1,9 vezes a oferta contra 2,9), a taxa média ficou
surpreendentemente nos 3,98%, quando a generalidade dos analistas
esperava que se fixasse acima dos 4%.
Não é, contudo, motivo para nenhuma euforia. Os indicadores
macroeconómicos (crescimento, desemprego, procura interna,
investimento) vão continuar a degradar-se ao longo do ano. A execução
orçamental continuará a ser seguida ao milímetro e não bastam boas
notícias do lado das receitas, é preciso excelentes notícias vindas da
despesa, que até agora não são conhecidas. E começa a ser claro que a
Alemanha não cederá no fundo europeu enquanto os seus pares não
aceitarem um pacto de competitividade com condições de disciplina e de
coordenação económica muito apertadas para os países em dificuldades.
Voltemos à irritação de Teixeira dos Santos. O ministro está,
supõe-se, a fazer a sua parte, impondo um apertadíssimo garrote
orçamental à despesa pública. Mas o que se ganha aí está a perder-se
devido aos juros altíssimos que o país está a pagar para obter
financiamentos internacionais (mais 5000 milhões até 2013). Por isso,
mesmo que nos próximos meses o Governo seja bem sucedido na redução da
despesa pública, corre o risco de morrer na praia e ter de pedir ajuda
internacional. É que um fundo de resgate mais bem provisionado e
talvez mais flexível só daqui a dois anos. E 2013 é longe de mais para
nós.
Êxito do Inov Contacto
Por estes dias, Miguel Pedro, 26 anos, licenciado em Informática e
Gestão pelo ISCTE, deixa a enorme casa onde vive com quatro colegas e
dirige-se para a Companhia de Electricidade de Macau, onde irá fazer
um estágio de seis meses. Miguel Pedro e os colegas integram o grupo
de 550 jovens licenciados que foi selecionado entre 3 mil candidaturas
para estagiar em empresas de todo o mundo ao abrigo do Programa INOV
Contacto, uma iniciativa do Ministério da Economia, apoiado pela União
Europeia e gerida pela AICEP. O programa é tão estimulante que Miguel
Pedro fez algo impensável: desempregou-se de uma excelente empresa
portuguesa de tecnologias de informação para o poder frequentar. Ele
sabe que 40% das empresas convidam os estagiários para ficar; e que
80% dos estagiários conseguem arranjar emprego em empresas nacionais
ou internacionais.
Quando tanto se fala na geração "à rasca", esta é a prova de que
estudar continua a ser a melhor maneira de subir na vida. E quando
tanta coisa corre mal, é bom sublinhar o sucesso do INOV Contacto,
liderado por Maria João Bobone, e que foi considerado, em 2007, best
practice pela Comissão Europeia e escolhido como um case study pela
OCDE. Nem tudo é uma desgraça neste reino à beira-mar plantado.
O BPN, o contribuinte e a agência
A publicidade de página inteira reza assim: "Zero euros. É quanto a
nova imagem do BPN devia custar aos portugueses". Depois, em letras
pequenas escreve-se: "Segundo o ministro das Finanças, o BPN irá
sofrer uma refundação, que entre outras coisas passará por criar uma
nova imagem de marca para o banco (...) que irá ter um elevado custo
para os cofres do país. A Normajean, assim como todos os portugueses,
não quer ver nem mais um tostão mal gasto com o BPN. Por isso,
assumimos publicamente um compromisso que julgamos ser positivo para
todos: se for preciso, criamos a nova imagem do BPN à borla". Isto é
responsabilidade social. Mas é também publicidade e da boa - para a
própria Normajean. Diz o que todos os portugueses pensam. Faltou-lhe
acrescentar que se vai gastar dinheiro mal gasto: mesmo com nova
imagem, não há espaço para mais um banco no mercado português. E há
coisas bem mais importantes onde se deve gastar dinheiro e energia. Em
qualquer caso, fiquei apaixonado pela Normajean.
Portugal Fresh
As empresas portuguesas têm dificuldade em impor as suas marcas a
nível internacional. E mais dificuldade ainda têm em se associar para
promover as suas vendas no exterior. É por isso que importa salientar
o nascimento, em dezembro do ano passado, de uma associação que visa
dotar o sector hortofrutícola de uma marca-chapéu que potencie as
exportações do sector, que no ano passado já ultrapassaram os ¤800
milhões, mais do que as vendas ao exterior dos vinhos portugueses.
Portugal Fresh é o nome dessa associação de empresas, constituída com
o apoio do Ministério da Agricultura, e que tem por missão a promoção
internacional das frutas, legumes e flores de Portugal. O sector
representa já um volume de negócios da ordem dos €2,3 mil milhões
anuais, apresenta grande potencial exportador e emprega sobretudo
população jovem. Mesmo que a experiência não resulte, este é
seguramente o caminho. Mais: ao apostar no Portugal Fresh, fica também
claro que, na área agrícola, é nos hortofrutícolas e na fileira da
pasta de papel que somos competitivos e não nos cereais. O ministro da
Agricultura, António Serrano, é um gestor e não um agricultor. Tem por
isso o distanciamento necessário para tomar uma decisão que faz todo o
sentido.
Como foi que disse?
O presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público
(SMMP), João Palma, que conseguiu eleger seis dos sete vogais
magistrados para o Conselho Superior do Ministério Público, veio
afirmar que esta vitória se identifica "com as conceções e ideias que
o sindicato tem vindo a defender", nomeadamente a "necessidade de
preservação da autonomia dos magistrados do Ministério Público face ao
Governo e face à hierarquia". Desculpe, disse "preservação da
autonomia face à hierarquia"? O sindicato defende que os magistrados
do Ministério Público não prestem contas a absolutamente ninguém?
Curiosamente, os juízes alinham pelo mesmo bitola. No seu oitavo
congresso, o texto de apresentação do evento dizia: "Desde há alguns
anos que existe a intuição que o poder judicial nas democracias
descontentes do início do século XXI corre o risco de se vir a assumir
como verdadeiro poder". Correr, corre. Mas é de fugir a sete pés de um
país governado por justiceiros inimputáveis que ninguém elegeu.
http://aeiou.expresso.pt/vamos-morrer-na-praia=f633676