1 DE JANEIRO DE 2014 - 20H02
O cultivo de cânhamo (Cannabis sativa), do qual se obtém o haxixe e a
maconha, pode ser uma opção para uso medicinal, alimentar e
industrial, como o têxtil, que atrairia importantes investimentos e
desenvolvimento no México, se for legalizado e regulamentado seu
cultivo e sua comercialização, afirmam especialistas.
Por Emilio Godoy, na agência IPS
"É uma alternativa de grande produção agrícola, pois cresce de todos
os lados e os usos atuais e potenciais representam uma oportunidade
inegável e muito atraente para o desenvolvimento econômico", disse à
IPS o cineasta e fotógrafo Julio Zenil, um dos promotores mais ativos
no México a favor da regulamentação da maconha, conhecida popularmente
como "mota".
Zenil, que no final da década passada importou roupa feita com tecido
elaborado a partir do cânhamo, escreveu junto com Jorge Hernández e
Leopoldo Rivera o livro La Mota. Compêndio Atualizado da Maconha no
México, que, segundo seus autores, trata de "desmistificar uma planta
cujo problema principal é a histeria e manipulação midiática que
ocorre diante de sua presença em nossa sociedade".
Esta planta, presente em quase todo o mundo, cresce em cerca de um ano
e pode alcançar sete metros de altura, sem necessidade de agroquímicos
e com capacidade de capturar grandes volumes de carbono. A casca do
talo desenvolve muitas fibras, e uma pequeníssima quantidade de
resina. Também se esclarece que o talo não é psicoativo e a fibra é
mais longa, mais forte, mais absorvente e mais isolante do que o
algodão. Seus usos incluem alimento, forragem, cosméticos, óleos,
têxteis, papel, cordas e biocombustíveis. Quanto à sua semente,
afirma-se ser muito nutritiva, contendo grande quantidade de ácidos
graxos, rica em vitaminas e é uma boa fonte de fibra dietética.
O esquema andidrogas mexicano está cheio de contradições. A Lei Geral
de Saúde permite no México a posse de cinco gramas dessa erva para
consumo pessoal, mas sua produção distribuição e venda estão
proibidas. A legislação do México também impede toda atividade ligada
à produção e transformação do cânhamo industrial, embora acordos que
mantém com outros países, como o Tratado de Livre Comércio da América
do Norte, vigente desde 1994 com Canadá e Estados Unidos, e o assinado
com a União Europeia, permitam o intercâmbio de vários de seus
derivados.
A Convenção Única de 1961 sobre Entorpecentes, a Convenção das Nações
Unidas Contra o Tráfico de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas,
de 1988, e o Convênio sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, não
restringem a produção de cânhamo industrial, mas censuram a plantação,
produção e o comércio da cannabis como droga. Alguns países também a
vetam ao confundi-la com a maconha, que é processada da planta
feminina da cannabis.
O cultivo "tem um lado econômico ao qual se deve dar atenção. Temos
que ver como fazer a regulação", disse à IPS o economista Pedro Aspe,
que foi ministro da Fazenda do governo de Carlos Salinas de Gortari
(1988-1994). O uso do cânhamo remonta há oito mil anos na antiga
China, onde era usado para produzir papel, embora também haja sinais
de sua existência em outras partes do mundo. Os conquistadores
espanhóis introduziram a planta no século 16 e, 200 anos depois,
impulsionaram sua plantação como fonte de matéria-prima.
Em 1920, o governo mexicano aplicou a primeira censura ao cultivo e
comércio da maconha, antes incluso na Lei do Imposto sobre Maconha dos
Estados Unidos, que marcou o início da proibição dessa variedade de
cânhamo. A plantação ilegal de maconha se concentra em Estados do
oeste e sul do México, produção destinada ao lucrativo mercado
norte-americano. O cânhamo é um dos mais versáteis e fortes produtos
agrícolas e é usado em mais de 2.500 produtos e subprodutos.
A empresa The Latin America Hemp Trading e a campanha para o Ano
Internacional das Fibras Naturais mediram, em 2009, o mercado mundial
de cânhamo para fibra em mais de 90 mil toneladas anuais, das quais a
China é responsável por 50%, a União Europeia por 25%, e o restante é
dividido entre Canadá, Chile, Coreia do Sul e Austrália, entre outros.
O ótimo rendimento da fibra de cânhamo passa das duas toneladas por
hectare, enquanto a média é de 650 quilos. Porém, o rendimento médio
da semente fica em uma tonelada por hectare, segundo dados revelados
para o Ano Internacional das Fibras Naturais, promovido em 2009 pela
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura
(FAO). No México se tolera a importação de sementes, cânhamo bruto,
fios e fibra para a elaboração de cordas.
Desde 2007, foram apresentadas pelo menos oito iniciativas no
Congresso mexicano e em parlamentos estaduais para despenalizar a
maconha, das quais ao menos três falam em aproveitamento industrial da
variedade. Essas iniciativas concordam que permitir e regular o
cultivo legal do cânhamo seria uma opção de desenvolvimento para
milhares de produtores rurais e estimularia a incursão em novas
indústrias, como papel, têxteis, alimentos, médicas, cosméticas ou
construção, entre outras possíveis.
Caso o México permita a plantação de maconha, um dos interessados em
investir em sua produção rapidamente é o empresário agrícola Guillermo
Torreslanda. "Temos que ter legislação. Se poderia ir copiando o que
foi feito em outros lugares e adequar às nossas condições. Se poderia
pensar em esquemas de produção, com apoio agrícola e financiamento",
disse o empresário à IPS. Torreslanda sugere esquemas de produção e
distribuição separados, para que não haja monopólios e se alimente a
competição.
"O caso do México é paradoxal. O comércio de produtos de cânhamo é
completamente regular, mas, como é legalmente impossível semear ou
obter algum benefício da planta, também é impossível criar uma
indústria normal do cânhamo", pontuou Zenil. "Em outras partes isto é
um autêntico programa de substituição de importações, e estão
conseguindo", destacou Aspe.
Fonte: Envolverde
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=10&id_noticia=232795
Sem comentários:
Enviar um comentário