publicado
12:19
03 março '11
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Os efeitos da instabilidade no Mundo Árabe trazem "ainda mais
incerteza quanto às perspetivas dos preços alimentares"
Mohamed Messara, EPA
Pelo oitavo mês consecutivo, os preços mundiais dos alimentos fixaram,
em fevereiro, um novo valor recorde com um agravamento de 2,2 por
cento, revela o índice publicado esta quinta-feira pela Organização
das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). A estrutura
admite que a escalada do preço do petróleo, alimentada pela
instabilidade no Mundo Árabe, venha "a exacerbar" uma "situação já
precária".
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"Motins de fome". É este o cenário internacional que a FAO receia
estar a ganhar forma no horizonte próximo, ao cabo de oito meses
consecutivos de agravamento dos preços dos alimentos. Na memória dos
responsáveis pela Organização das Nações para a Agricultura e
Alimentação perduram os acontecimentos ocorridos em 2008 em vários
países africanos, no Haiti e mesmo nas Filipinas, na sequência da
escalada dos preços dos cereais. E a FAO está a antecipar um novo
"aperto da oferta e da procura mundiais".
O índice de preços da Organização mostra um aumento de 2,2 por cento
em fevereiro, face ao primeiro mês do ano, para os 236 pontos. Este é
mesmo "o mais alto nível desde que a FAO começou a medir os preços
alimentares, em 1990". No caso dos cereais, a estrutura das Nações
Unidas regista uma subida de 3,7 por cento, para 254 pontos, nos
preços dos principais alimentos de base, nomeadamente o trigo, o milho
e o arroz. À exceção do açúcar, sublinha o relatório agora conhecido,
aumentaram os preços de todos os produtos, "em especial" os laticínios
e os cereais.
"Perante uma procura crescente e o declínio da produção cerealífera
mundial em 2010, estamos a contar com uma queda brutal dos stocks
mundiais de cereais, devido à diminuição das quantidades de trigo e de
cereais secundários", avisa a FAO. "Os preços internacionais de
cereais acusaram fortes aumentos, com os preços na exportação dos
principais cereais a aumentarem pelo menos 70 por cento desde
fevereiro de 2010", acrescenta.
"Mais incerteza"
De acordo com os últimos cálculos, a produção mundial de cereais em
2010 foi "superior em oito milhões de toneladas àquilo que foi
antecipado em dezembro último, mas continua ligeiramente inferior à de
2009". As estimativas de "utilização de cereais mundiais" para o
biénio 2010-2011, assinala a Organização, "foram revistas em alta de
18 milhões de toneladas desde dezembro", sobretudo por causa da
"utilização acrescida de milho para a produção de etanol nos Estados
Unidos".
Citado pela France Presse, o diretor da Divisão do Comércio e dos
Mercados da FAO, David Hallam, deixa ainda um alerta para a
possibilidade de os "aumentos inesperados dos preços do petróleo
poderem exacerbar a situação já precária dos mercados alimentares":
"Acrescenta ainda mais incerteza quanto às perspetivas dos preços".
Os preços do petróleo estavam esta quinta-feira a recuar nos mercados
internacionais, mas mantinham-se em níveis elevados. Isto depois de a
Liga Árabe ter confirmado que está a analisar uma eventual mediação da
revolta contra o regime de Muammar Kadhafi na Líbia. Após as 9h00, o
barril de Brent de Londres para entrega em abril rondava os 116,16
dólares por barril, uma quebra de 0,16 por cento face à sessão da
véspera. O barril de Crude de Nova Iorque, para entrega no mesmo
prazo, situava-se nos 102,03 dólares - menos 0,19 por cento.
"Fragilidades"
Em Portugal, o ministro da Agricultura argumenta que o país pode até
"aumentar a produção" em "todas as áreas" do setor. Todavia, debate-se
com "fragilidades do ponto de vista da ação climática" e não tem
"território suficiente para produzir todos os alimentos". É por isso,
diz António Serrano, que Portugal não pode aspirar a uma total
autossuficiência.
"Tudo aquilo que podemos fazer é redução das importações e é um
trabalho que temos de fazer com os diversos setores", sustentou o
governante, em declarações à agência Lusa. "Não é fácil passar de um
paradigma de dependência externa para uma autossuficiência, há muitas
áreas em que não podemos. Nós temos uma dependência de cerca de 40 por
cento. O nosso objetivo é reduzir essa dependência e essa dependência
está estabilizada desde 2004-2005", afirmou.
A Lusa recolheu também as opiniões de dois especialistas, o antigo
ministro da Agricultura Armando Sevinate Pinto e a presidente do
Observatório dos Mercados Agrícolas e das Importações
Agro-Alimentares, Maria Antónia Figueiredo. Ambos coincidem na ideia
de que o agravamento dos preços das matérias-primas recai sobre os
produtos importados e não favorece as exportações do país.
"Temos uma estrutura importadora dominada pelos cereais e oleaginosas,
que são quase 40 por cento e são exatamente os produtos de base que
têm sofrido mais aumentos no mercado mundial. E temos uma estrutura
produtiva e exportadora que não tem beneficiado da alta de preços
internacionais", avaliou Sevinate Pinto. Maria Antónia Figueiredo fala
igualmente de uma estrutura produtiva "muito vulnerável": "No caso dos
cereais, produzimos 25 por cento das nossas necessidades. No trigo,
produzimos 11 por cento. Qualquer aumento global de preços terá
implicações a nível nacional. No pão, por exemplo".
http://tv1.rtp.pt/noticias/?t=Precos-de-alimentos-a-escala-mundial-atingem-novo-maximo-historico.rtp&article=421189&visual=3&layout=10&tm=6
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