Por Ângelo Teixeira Marques
Numa manifestação em Vila do Conde, os produtores queixaram-se da
escalada dos factores de produção que pode levar o sector à "ruína"
Centenas de agricultores de vários pontos do país concentraram-se
ontem à porta da fábrica de lacticínios Lactogal, em Modivas, Vila do
Conde, como forma de protesto pelos preços baixos que são pagos à
produção. A manifestação foi convocada pela Associação de Produtores
de Leite de Portugal (APEOLEP), cujo presidente, Carlos Neves, defende
um aumento "de emergência" de cinco cêntimos por litro (para 38
cêntimos), para que o sector não caia na "ruína total".
Na manifestação ficou aberta a porta à criação de "um novo mecanismo
de fixação de preços", com o envolvimento dos vários agentes da
fileira.
"A indústria e a distribuição têm de se entender. Os produtores estão
a ser um elástico que, em muitos casos, já rebentou", realçou o
dirigente, que admite haver na produção a vontade de endurecer as
formas de protesto, caso as reivindicações não sejam atendidas.
"Há dois anos que os produtores andam a fazer apelos públicos,
manifestações, participam em reuniões na Assembleia da República e com
o Governo, mas o principal problema - o baixo rendimento dos
produtores - persiste. Eles falam, falam, mas não resolvem nada. Toda
a gente diz que está cheia de boas intenções, mas nós é que estamos
cheios de dívidas", clamou Carlos Neves.
"Leite mais baixo que o nosso, nem nos países do Terceiro Mundo",
"Exigimos respeito", "Quem nos acode" foram frases que se salientaram
entre os cartazes envergados pelos manifestantes, que fizeram questão
de, para já, manter o protesto num nível pacífico. "Hoje [ontem] é um
alerta. Mas, se ninguém nos ouvir, vamos endurecer a luta", não se
cansava de dizer aos jornalistas um produtor de Ponte de Lima que, tal
como muitos outros, se queixava dos elevados custos dos factores de
produção e dos combustíveis. As rações, corroboraram vários
manifestantes, "estão mais caras do que nunca", chegando a atingir "35
cêntimos" o quilo, enquanto o preço do litro de leite pago aos
produtores não vai além dos "32 ou 33 cêntimos".
A "viverem de pequenos subsídios" e mantendo "dívidas aos
fornecedores", muitos produtores antevêem a continuação da sangria no
número de explorações e, de forma simbólica, despejaram leite numa
sarjeta junto à fábrica da Lactogal. A escolha do local para o
protesto - intitulado "indústria e distribuição, salvem a produção" -
não foi inocente. "Os seus accionistas são cooperativas que têm muitas
responsabilidades junto dos produtores. E com a sua dimensão, [a
Lactogal] tem impacto na fixação dos preços nacionais", frisou Carlos
Neves.
Em comunicado, porém, a Lactogal desresponsabilizou-se dos motivos que
originaram a manifestação. "A Lactogal não tem qualquer
responsabilidade directa na formação dos preços nacionais, sendo,
aliás, uma prática corrente da empresa pagar aos seus fornecedores de
leite valores acima da média europeia, o que se mantém", lê-se no
documento, que esclarece serem as suas aquisições feitas "junto de
uniões cooperativas".
O comunicado não refere, porém, que a estrutura accionista da Lactogal
é composta precisamente pela Agros, pela Lacticoop e pela Proleite, ou
seja, uniões de cooperativas que compram o leite aos produtores. Em
2010, a Lactogal diz ter comprado 821 milhões de litros, o que
correspondeu a 45 por cento da produção nacional. A empresa encerrou o
ano com um volume de negócios superior a 681 milhões de euros.
http://jornal.publico.pt/noticia/03-03-2011/produtores-exigem-aumento-de-cinco-centimos-no-preco-do-leite-21466449.htm
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