segunda-feira, 21 de maio de 2012

O novo Barca Velha

Histórias

Haverá muitas formas de descrever um Barca Velha (BV); nós gostamos da
simplicidade dos números.
19 Maio 2012Nº de votos (0) Comentários (0)
Por:Edgardo Pacheco




Haverá muitas formas de descrever um Barca Velha (BV); nós gostamos da
simplicidade dos números. Desde 1952 que, vindima após vindima, se
tenta fazer Barca Velha. Mas só 17 vinhos atingiram esse patamar de
excelência. Em 60 anos só se declararam 17 Barca Velha. Raridade e
excelência, eis a matriz de um vinho, que chega agora ao mercado com
nova colheita: a de 2004, à venda por 100 euros a garrafa.


Este Barca Velha é um vinho num registo mais clássico, feito para
viver muitos anos em garrafa. Se o BV 2000 era finura, o 2004 é uma
boca impressionante. Muitos acham o Barca Velha uma extravagância.
Mas, pelo vinho em si, pela história que o suporta e pelo empate de
capital suportado por quem o produz, o preço é correcto. Nós damos
algumas pistas para se perceber o que defendemos e recordamos
histórias com 60 anos.

FERNANDO NICOLAU DE ALMEIDA

O Barca Velha nasceu da sabedoria e da teimosia de Fernando Nicolau de
Almeida. Amante dos vinhos de Bordéus, não se conformava pelo facto de
não se fazer no Douro um vinho de guarda, daqueles que se abrem 10, 15
ou 20 anos após a colheita. Nos anos 40 e 50, os vinhos de consumo do
Douro eram zurrapas, coisa inconcebível na opinião do enólogo da Casa
Ferreirinha. Depois de anos de experiência realizou o sonho com a
colheita de 1952. Para a história ficou uma frase que o técnico atirou
para os ajudantes que o acompanhavam na fermentação dos mostos na
Quinta do Vale Meão: "É desta, é desta". E só foi porque conseguiu
fazer o Barca Velha com... gelo.

GELO

Durante o processo de fermentação dos vinhos no Douro, o inimigo é a
temperatura excessiva. A partir de 30 graus, os mostos perdem-se. Na
década de 50 não havia sistemas de refrigeração. Mas Fernando Nicolau
de Almeida mandou vir de Matosinhos para o Vale Meão camionetas
carregadas de gelo. A viagem começava num dia à noite e terminava 24
horas depois. Lá na quinta engendrou um sistema que fazia que o
mosto, quando muito quente, pudesse ser arrefecido passando pelo gelo
através de uns tubos.

PROCESSO DE DECISÃO

Quando nasce, o vinho é apenas um Douro Especial. Só o tempo ditará o
seu destino: Barca Velha ou, caso não atinja tal patamar, a categoria
Reserva Especial Casa Ferreirinha. No tempo de Fernando Nicolau de
Almeida, muitas amostras de um candidato a Barca Velha eram provadas à
mesa, em sua casa. Reza a lenda que o criador do tinto ouvia com
reverência a opinião da mulher, Maria José Rosa Nicolau de Almeida.
Hoje, Luís Sottomayor - e já antes com José Maria Soares Franco -
continua de alguma forma o ritual. Ouvem a opinião dos mais próximos.
Contudo, a decisão final é sempre da equipa de enologia.

LUÍS SOTTOMAYOR

É o actual responsável pela criação do Barca Velha. Quando se lhe
pergunta por eventuais angústias no momento de decidir se uma colheita
é ou não Barca Velha, responde: "O vinho é o que menos me tira o sono.
Se dizem que determinado Reserva Especial merecia ser Barca Velha, eu
apenas posso lamentar alguma perda de dinheiro para a empresa. Agora,
se me dissessem que determinado Barca Velha não deveria ter passado de
Reserva Especial, isso deixar-me-ia preocupado. Mas, até à data, tal
nunca aconteceu".

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/outros/domingo/o-novo-barca-velha

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