segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Investigadores protegem património vegetal agrícola de Santarém

02-12-2013 18:32
Jornalista: Lúcia Vinheiras Alves / Imagem e Edição: António Manuel
© TV Ciência
Tomate, pimento, pepino e melancia são algumas das espécies vegetais
que investigadores da Escola Superior Agrária de Santarém estão a
recolher e caracterizar para preservar e conservar as variedades
locais e tradicionais da região no Banco Nacional de Germoplasma
Vegetal.
O valor do património agrícola pode vir da riqueza da biodiversidade
existente, ou seja, da diversidade genética das plantas.

Uma diversidade que tem vindo a ser guardada e preservada. Este é um
dos trabalhos que envolve investigadores da Escola Superior Agrária,
do Instituto Politécnico de Santarém em colaboração com o Banco
Português de Germoplasma Vegetal.

Fátima Quedas, Professora-adjunta da Escola Superior Agrária envolvida
no projeto explica que «procuramos ir a locais onde a agricultura é
uma agricultura de subsistência ou de autoabastecimento e não para as
grandes regiões de agricultura comercial porque ai a tipologia de
variedades já é outra».


Fátima Quedas, Professora da Escola Superior Agrária do Instituto
Politécnico de Santarém
© TV Ciência
«Nos agricultores que têm as suas pequenas hortas às vezes é fácil
encontrar alguns que têm cuidado de manter variedades tradicionais e,
portanto, essa será a nossa fonte preferencial de material», explica a
professora e adianta que isso não significa que «às vezes também não
venha material que é comercial, mas esse é um dos despistes que
fazemos durante a fase de caracterização em campo dos materiais
colhidos».

Para além da recolha do material vegetal, os investigadores
desenvolvem outros trabalhos. «Há que acrescentar a este, outros
trabalhos, senão ficamos com um armazém de sementes perfeitamente
inútil», pelo que «o material tem de ser caracterizado, temos de
separar o trigo do joio, ou seja, avaliar desse material que chega ao
Banco qual efetivamente é biodiversidade local ou qual é
biodiversidade comercial ou qual é que é biodiversidade importada, que
também acontece», afirma a investigadora.

Para além de se fazer a separação, «é importante fazermos a
documentação do material, ou seja, caracterizá-lo morfologicamente,
isto significa no caso do tomate a forma das folhas, o tamanho dos
frutos, a forma dos frutos, a quantidade de frutos por cacho, etc»,
explica.

Para além da caracterização física e química, os investigadores
procedem a outros estudos.

«Há aspetos também para a utilização que são importantes como a
textura, outros que são importantes para o olho do consumidor como a
cor. Estas são características que recolhemos durante esta primeira
fase de caracterização e depois toda esta informação é remetida para o
Centro de Documentação do Banco Português de Germoplasma Vegetal»,
adianta.


© TV Ciência
Mas o estudo vai ainda mais longe. «Queremos ir mais além e queremos
que esta biodiversidade agrícola possa ter uma utilidade para os
agricultores locais e possa ser um produto a valorizar», afirma a
cientista.

Neste sentido, após a primeira fase de caracterização e da garantia
que o material de estudo «poderá ser material tradicional português,
vamos agora ver como é que ele se comporta do ponto de vista
agronómico, qual o tipo de características de produção que têm (se são
muito produtivas, se são pouco produtivas, se não mais ou menos
suscetíveis a doenças), no sentido de ver se há de facto materiais que
possam vir a ter êxito em termos de produção local e nesse caso os
materiais serão depois submetidos a inscrição como variedade de
conservação junto dos serviços competentes do Ministério da
Agricultura», explica Fátima Quedas.

Estas variedades são de produção localizada, pelo que poderão ser
interessantes para um mercado de proximidade, em que o produtor vende
diretamente ao consumidor ou tem apenas um ou dois passos no elo da
cadeia de abastecimento».

E são várias as espécies em estudo pelos investigadores da Escola
Superior Agrária de Santarém.

«O tomate é uma espécie importante, havia muitos acessos em coleção e
foram recolhidos muitos acessos já dentro do tempo de vigência do
PRODER e há material para caracterizar. O pepino concretamente nunca
foi trabalhado em termos de caracterização. A coleção do pepino do
Banco Português de Germoplasma Vegetal está toda por caracterizar e
por isso era importante», afirma.


© TV Ciência
O mesmo se passa com «o pimento, cuja caracterização que há até à data
é muito incipiente. Ou seja, envolveu meia dúzia de acessos e o
pimento é uma espécie muito rica, oscapsicum são géneros muito ricos
em biodiversidade. E depois a melancia porque o trabalho que tínhamos
feito no projeto anterior não ficou concluído, há mais material a
entrar e nós gostaríamos de continuar com ela também», afirma a
investigadora.

Estas são algumas das variedades agrícolas da região de Santarém que
caracterizam o património local em todas as vertentes, quer agrícola
quer gastronómica.

Uma riqueza que os investigadores estudam para melhor salvaguardar e
preservar para gerações futuras.

http://www.tvciencia.pt/tvcnot/pagnot/tvcnot03.asp?codpub=33&codnot=95

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