sábado, 4 de agosto de 2012

Agricultura de conservação na orizicultura

03-08-2012


Fonte: Assor 2007


Realizada com sucesso noutras culturas, como o trigo e o milho, a
sementeira direta de arroz depara-se com alguns entraves. Há aspetos
de natureza prática que têm de ser ainda ultrapassados para que esta
técnica venha a ser uma opção interessante no cultivo de arroz.

Na conjuntura que enfrentam, os agricultores devem considerar todas as
formas de reduzir os custos da sua atividade, mesmo que isso implique
alterar práticas de trabalho a que estão acostumados desde há muito. A
sementeira direta, ao permitir saltar etapas, tem permitido reduzir
custos noutras culturas.


Numa iniciativa conjunta, a ASSOR e o COTARROZ desenvolveram uma
experiência de campo que visou comparar a sementeira direta e a
sementeira tradicional de arroz.
Convém esclarecer que entre a sementeira direta, em que é suposto
permanecerem no solo os restos da cultura anterior e as infestantes
mortas pela ação dos herbicidas de pré-sementeira, e a sementeira
tradicional, que inclui mobilização do solo em profundidade para
incorporar os sobrantes da colheita anterior, existem técnicas
intermédias comummente chamadas de agricultura de conservação. Além
dos cuidados com a mobilização do solo, essas práticas podem incluir o
"estabelecimento de culturas de cobertura entre culturas anuais
sucessivas".

A mobilização mínima, ou mobilização reduzida, não é propriamente
sementeira direta. Normalmente, nestes casos fazem-se intervenções
pouco profundas e é reduzido o número de passagens. Costuma ser feita
uma passagem com escarificador, e os resíduos são mantidos à
superfície. Alfaias como as charruas e as fresas estão completamente
afastadas deste tipo de intervenção. Estas práticas permitem verificar
uma melhoria do solo mas os resultados não são imediatos. Só começam a
ser visíveis ao fim de 4 ou 5 anos.

A ASSOR associa várias vantagens à agricultura que segue estas
práticas: poupança de tempo, de combustível, e de mão-de-obra, menor
manutenção das máquinas, e "a longo prazo, melhoria da produtividade
dos solos". Um solo com melhor estrutura e com uma fauna mais
preservada, tende a reter mais humidade e resulta num reforço do
equilíbrio biológico e da quantidade de matéria orgânica disponível
como nutriente para as plantas. Além disso há benefícios ambientais
que resultam do menor número de operações.

Mas vejamos então como decorreu a experiência com a sementeira direta.
Num canteiro foi mantido o restolho e não se fez mobilização de solo,
e no outro fez-se lavoura, gradagem e frezagem. Foi usada a variedade
de semente aiace em ambos os casos. No canteiro de sementeira direta
aplicou-se 110kg/ha de semente, e no outro 200kg/ha.

Verificou-se que os canteiros em cultura por sementeira direta tiveram
"uma produção cerca de 43% inferior à sementeira tradicional". As
rodeiras que ficaram da ceifa foram um fator a impedir melhores
resultados, já que sem nivelamento dos canteiros as condições para o
semeador trabalhar não foram as melhores. Além disso as rodeiras
impediram a "manutenção de uma lâmina de água uniforme". A palha e
resíduos deixados nos canteiros foram também prejudiciais. A palha
manteve-se à tona, danificando algumas plantas, e os resíduos
contribuíram para a turvação das águas, o que diminuiu a incidência de
luz e prejudicou a germinação.

A sementeira direta é amplamente usada no trigo e no milho e tem a
vantagem de preservar mais biodiversidade e de proteger o solo dos
efeitos de erosão. Contudo, no caso do arroz é preciso aperfeiçoar
ainda esta prática de maneio para ser possível manter os níveis de
produtividade. Pode ser uma possibilidade interessante para solos de
textura média, que tenham boa permeabilidade, e não tanto para solos
argilosos, de textura pesada.

Até que a sementeira direta aplicada ao arroz esteja mais apurada, uma
possibilidade alternativa é o recurso a técnicas de maneio
intermédias, que reduzam a profundidade de mobilização dos solos e o
número de passagens. Além dos benefícios para o solo, a agricultura de
conservação tem a vantagem de permitir uma redução das despesas, o que
não é de desconsiderar nos tempos que atravessamos.

http://www.abolsamia.pt/news.php?article_id=2686

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