Economia
Há cada vez mais pessoas a dedicarem-se à apicultura no Ribatejo
O número de apicultores que estão a aparecer no distrito de Santarém e
na região de Lisboa e Vale do Tejo não pára de aumentar. Em tempos de
crise, existe cada vez mais gente que procura equilibrar os
rendimentos com a produção de mel. O peso que o sector representa na
economia local é cada vez maior e em Outubro chega ao mercado nacional
a marca "Mel do Ribatejo Norte".
Edição de 2012-08-02
Na Glória do Ribatejo, concelho de Salvaterra de Magos, todos se
lembram de ver Manuel Francisco a meter um peneirol na cabeça - um
pequeno saco com uma rede como viseira - e partir em direcção às
colmeias. No regresso trazia as mãos todas picadas. "Dói um bocadinho,
mas o meu corpo já está habituado ao veneno", conta a rir-se o
apicultor de 97 anos. Hoje já tem um fato apícola moderno, mas nem
sempre sobra paciência para o vestir.
Há mais de 70 anos que produz mel. Vendeu sempre aos glorianos que iam
bater à sua casa. Hoje continua a explorar 40 colmeias, mas já precisa
da ajuda dos filhos. Tira cerca de 200 litros de mel por ano. O amor
pelos seus enxames é tanto que tem à porta da sua casa quatro
colmeias. "Nenhuma me pica porque já conhecem o meu cheiro", garante.
Explica que o mel produzido na charneca gloriana, onde abunda o
rosmaninho, tem um sabor muito apetecível.
A apicultura tem atraído cada vez mais interessados na Glória do
Ribatejo, como João Monteiro, de 44 anos. "Há três anos meti-me na
apicultura e já tenho sete colmeias, mas penso em comprar mais. É um
passatempo, todos os dias gosto de ir ver os enxames", explica. Já
Alexandre Abade, de 47 anos, cresceu ao lado das colmeias do pai e de
momento tem 60, de onde retira cerca de 140 litros por ano. Vende à
porta de casa, mas garante que o dinheiro que ganha é muito pouco para
o tempo e o dinheiro que também gasta.
Estes são apenas três apicultores da Glória do Ribatejo que vendem o
seu mel directamente ao consumidor, como acontece com a grande maioria
de apicultores do distrito de Santarém e da região de Lisboa e Vale do
Tejo.
Número de apicultores dispara
Segundo dados oficiais de 2012 divulgados pela Sociedade dos
Apicultores de Portugal (SAP), estão registados no distrito de
Santarém 321 apicultores, 945 apiários e 14520 colmeias. No concelho
de Azambuza contabilizam-se três apicultores, seis apiários e 243
colmeias. Já no concelho de Vila Franca de Xira estão registados 16
apicultores, 26 apiários e 297 colmeias.
Estes números estão contudo muito longe de reflectir a realidade. A
grande maioria dos pequenos e médios apicultores não cumpre com a lei
e não se regista na Direcção-Geral de Veterinária, incorrendo numa
contra-ordenação punível com coima entre os 100 euros e os 3740 euros
ou os 44890 euros, caso se trate de pessoa singular ou colectiva.
Pedro Marques, da Cooperativa de Apicultores do Concelho de Mação,
contabilizou este ano 169 apicultores nos concelhos de Mação, Vila de
Rei, Proença-a-Nova e Sertã. Destes, 80 são de Mação. "Só na nossa
área de abrangência deveremos ter uns 700 apicultores. Não se registam
porque não querem cumprir com as normas e como não existe praticamente
fiscalização neste sector não sofrem as consequências", explica Pedro
Marques. O crescimento da actividade também é notório para Anabela
Mendes, técnica da Associação de Apicultores da Região de Leiria
(AARL), que tem associados na zona norte do distrito de Santarém -
Ourém, Alcanena, Torres Novas, Tomar, Ferreira do Zêzere e Barquinha.
"No espaço de dois anos, o nosso número de apicultores triplicou. O
sector está em crescimento e assume um peso cada vez mais importante
na economia local", repara.
Destaca-se o aparecimento de cada vez mais jovens que estão à procura
de encontrar uma profissão a tempo inteiro, como nota Anabela Mendes
na AARL. Mais céptico está Pedro Marques notando que "existe cada vez
mais gente atrás da ilusão do negócio do mel e arranca logo com 300
colmeias, sem conhecer muito bem todos os processos". Seja na procura
de rendimentos alternativos, seja como um passatempo, a apicultura
está a crescer em Portugal e a escapar à crise.
Marca "Mel do Ribatejo Norte" chega ao mercado em Outubro
A Associação de Apicultores da Região de Leiria resolveu relançar este
ano a marca "Mel do Ribatejo Norte" produzida pelos apicultores da
zona norte do distrito de Santarém. Trata-se de uma denominação de
origem protegida (DOP), ou seja, certifica que apenas os produtos
genuinamente originados em determinada região podem ser por eles
comercializados e assim denominados.
A atribuição deste denominação apenas certifica que o "Ribatejo é uma
zona com muito potencial no sector do mel devido à sua fauna e flora
rica", nota Anabela Mendes. É em Outubro que algumas lojas
seleccionadas da região vão receber os primeiros frascos deste mel que
também será exportado. "O objectivo principal não é produzir muita
quantidade, mas optar pela qualidade. Estamos no primeiro ano e
estimamos colocar no mercado quatro ou cinco toneladas", explica.
Mel conquista novos mercados na Europa
Segundo os dados oficiais deste ano da Federação Nacional dos
Apicultores de Portugal (FNAP) existem 17 mil apicultores registados
em Portugal. Dentro deste número existem 600 apicultores profissionais
que detêm mais de 40 por cento das 600 mil colmeias que estão
contabilizadas no país. Há cinco anos a média de colmeias por
apicultor era de 12 e agora situa-se nas 35. Devido à irregularidade
do tempo espera-se ter este ano uma quebra de 30 por cento na produção
de mel, o que corresponderá à produção de cerca de 12 mil toneladas de
mel.
O sector recebeu um apoio superior a 26 milhões de euros do PRODER não
só para a produção do mel como para os seus derivados. "Estávamos a
vender só para a Espanha e no ano passado chegamos a exportar 900
toneladas para a Alemanha", explica Manuel Gonçalves, que destaca
ainda os mercados de Angola, França e Bélgica. O preço do mel embalado
por quilo situa-se nos quatro euros.
http://semanal.omirante.pt/noticia.asp?idEdicao=&id=85148&idSeccao=9418&Action=noticia
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