04-05-2012
Os efeitos das alterações climáticas sobre a viticultura produzirão
custos de adaptação que não foram ainda estimados, dada a diversidade
de cenários que é colocada em cima da mesa para as próximas décadas.
Segundo o relatório "Opções de Adaptação para a Agricultura, Floresta
e Pescas" das Nações Unidas, os custos de adaptação na agricultura
podem aumentar até 10% em investigação e financiamento e 2% nos custos
de capital com infraestruturas, até 2030.
No caso concreto da Região Demarcada do Douro, é a ADVID - Associação
para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense, quem dirige o
'cluster' dos Vinhos da Região do Douro, estando a conduzir estudos
científicos no sentido de apurar as consequências das mudanças
climáticas para a viticultura regional e produção de vinhos.
A associação levou a cabo o seminário "Alterações Climáticas na
Produção de Vinho: Visão global e avaliação da situação na região do
Douro", onde estas questões foram debatidas.
Com efeito, espera-se que até 2050 a temperatura média anual sofra um
aumento entre 1,8º e 4,3º C, bem como a redução na precipitação anual
na ordem dos 15%, comparando com os valores atuais. Estes valores
podem ser particularmente gravosos numa região que em grande parte é
já considerada quente e seca.
Recorde-se que as exportações dos vinhos produzidos no Douro ascendem
a 350 milhões de euros, ou seja, mais de 50 das exportações nacionais
de vinhos (670 milhões de euros). Mas o Douro não será o único afetado
- segundo João Santos, da UTAD, modelos climáticos diferentes revelam
que, até 2070, certas regiões da Europa serão inaptas para a
viticultura, entre as quais a bacia do Guadiana.
5800 hectares em produção integrada
Para José Manso, presidente da ADVID, não existem "custos definidos"
para a região, por "estarmos a falar de cenários"; estes poderão ir
"dos mais catastrofistas, de um aumento médio de 6ºC em 80 anos, ou
mais amenos, de 2ºC". A necessidade de "traçar cenários com bases
sólidas" visa "antecipar para preparar o futuro com racionalidade",
disse à VE.
O modelo aplicado pela ADVID passa pela produção integrada na vinha.
Este assenta na gestão de toda "a cadeia que está a montante e a
jusante", incluindo solo, paisagem e água. A produção integrada visa
"juntar à proteção fitossanitária uma componente mais ampla, por forma
a racionalizar o processo e aumentar a eficiência de recursos".
Este modelo poderá mesmo, após um investimento inicial, contribuir
para a redução teórica de custos "entre 10 e os 50%", tendo em conta
"se a exploração é atualmente mais ou menos racional", sublinhou. Os
custos não estão quantificados, "e nunca haverá um valor exato, mas
estarão dentro de um intervalo" - por exemplo, os custos de instalação
de um sistema de rega "variam numa vinha a 100 metros ou a 400
metros", podendo oscilar "entre 1000 e 5000 euros por hectare,
incluindo automatismos, informática, bombagens, captação de água,
etc", disse.
José Manso referiu que "as novas vinhas já devem obedecer aos
princípios de produção integrada", mas "há necessidade de evoluir" no
caso de vinhas antigas. Por outro lado, "será obrigatório um registo
de compra e aplicação de produtos fitossanitários", que vigora já
"para as vinhas em produção integrada e agricultura biológica" e é
certificado por empresas externas.
A ADVID tem responsabilidades no apoio técnico de 5800 hectares dos
seus associados, a que se juntam 300 de agricultura biológica, uma
fatia relevante dos cerca de 45 mil hectares de vinha no Douro. Aquele
responsável sublinhou que a produção integrada deverá ser obrigatória
na região a partir de finais de 2014.
Quanto suporta o mercado?
Já para Gregory Jones, do Departamento de Estudos Ambientais da
Southern Oregon University (EUA), é difícil estabelecer uma previsão
de custos. "Sabemos que há limites climáticos, mas não sabemos se os
limites económicos à adaptação ultrapassam os limites climáticos". Na
sua opinião, "terá que ser feita uma análise mais profunda, até para
determinar quanto é que o mercado pode suportar".
Por outro lado, tratando-se de uma viticultura de montanha, como é o
Douro, em que os custos de mão de obra poderão representar 80% do
total dos custos de produção, "é consensual que o aumento de custos de
superior a 30% será incomportável, seja em vinha ao alto, seja em
socalcos", disse à VE. "E os riscos serão diferentes em função dos
produtores e regiões".
Marc Barros marcbarros@vidaeconomica.pt
http://www.vidaeconomica.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ve.stories/80904
Sem comentários:
Enviar um comentário