OPINIÃO
por PEDRO TADEUHoje24 comentários
Eu era tipo, se não acontecesse ter estado a trabalhar, para ir ao
Pingo Doce no dia dos 50 por cento de desconto. Mesmo a torcer o nariz
à oferta do senhor Alexandre Soares dos Santos - como qualquer tuga,
acredito no ditado "quando a esmola é grande, o pobre desconfia" - e
mesmo faltando às manifestações do 1.º de Maio (peço desculpa aos que
se sentirão desiludidos com isso, mas também já lá estive muitas
outras vezes e não vos vi por lá...).
Sou, portanto, um consumidor capaz de ser seduzido por promoções
fantásticas daquele género como, acho, qualquer pessoa normal. E, no
entanto, estou zangado com o que se passou.
Independentemente das possíveis ilegalidades em torno de um hipotético
dumping, da evidente provocação às comemorações do Dia do Trabalhador
ou de estas ações de marketing espetaculares indiciarem, muitas vezes,
pelo seu aspeto disparatado, desesperado e precipitado, graves
dificuldades das empresas que as lançam - e se uma empresa de
distribuição como a Jerónimo Martins ou a Sonae, da maneira como hoje
dominam e controlam o mercado, se vai abaixo, temo o pior no nível de
preços dos bens alimentares ou outros de primeira necessidade do País
-, o que mais me irrita é outra questão.
Esta promoção não foi uma corrida aos saldos para comprar fatos e
vestidos fora de moda ou uma sortida a lojas de eletrodomésticos para
trazer um televisor plasma como pechincha.
Da forma e na data em que foi montada, provavelmente
involuntariamente, colocou multidões a disputar caixas de ovos,
pacotes de leite, carne, peixe e uma ou outra garrafa de vinho bom ou
uísque de marca. Misturadas a necessidade dos mais afetados pela crise
e a ganância da natureza humana, parecia ter sido uma armadilha para
mostrar o lado pior que cada um de nós tem. Isto tem uma distância
enorme, mas também muito curta para uma cena na África da morte,
quando se lança a uma multidão esfomeada um saco de arroz.
O que me irrita é, no que leio a propósito deste assunto, este facto
parecer ter deixado indiferentes quase todos os que se pronunciaram ao
longo da última semana acerca deste caso.
Haja ou não haja ilegalidade, tenha o Pingo Doce direito a fazer as
promoções que lhe apeteça, comportem-se os consumidores como quiserem.
Antes de tudo isso, gostava de saber junto de todos os envolvidos e de
todos os espectadores o seguinte: é mesmo este país que querem? Um
país onde as pessoas passam a ir para as compras como quem vai para um
campo de batalha? Um país de miséria humana? Se não o querem, então,
por favor, quem tenha responsabilidades e poder não comece a
construí-lo.
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=2489528&seccao=Pedro%20Tadeu&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco&page=-1
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