Agricultores brasileiros se preparam para plantar a maior safra de
todos os tempos, que pode levar o Brasil a se tornar maior produtor de
soja do mundo
Agência Estado | 22/07/2012 13:55:22
Texto:
Eraí Maggi Scheffer, conhecido como "o rei da soja", está empolgado
com a próxima safra. Vai plantar em Mato Grosso 220 mil hectares do
grão, o equivalente a mais de 200 mil campos de futebol. A cultura vai
tomar espaço do algodão e das pastagens e a área plantada vai crescer
quase 24% em relação à safra anterior. "É uma alta expressiva. Todos
os agricultores estão animados."
AE
Grãos de soja são colhidos no serrado: um dos itens de destaque na
pauta das exportações brasileiras
Em meio a uma das mais graves crises da economia global, os
agricultores brasileiros se preparam para plantar a maior safra de
todos os tempos, que pode levar o Brasil a superar os Estados Unidos e
se tornar o maior produtor de soja do mundo. O motivo é o preço do
grão, que nunca esteve tão alto. A soja voltou a ser o principal
produto da pauta de exportação e está salvando a balança comercial do
País.
Na sexta-feira, o preço da soja bateu US$ 17,57 por bushel (27,2155
kg) na bolsa de Chicago, uma valorização de 15% desde o início do mês,
quando uma forte seca atingiu as lavouras nos EUA. Antes desse rally,
o recorde era de US$ 16,50 por bushel, marcado antes da quebra do
Lehman Brothers em 2008. No porto de Paranaguá (PR), a saca (60 kg) de
soja chegou a impressionantes R$ 85. Em Sorriso (MT), apesar de todas
as deficiências logísticas, os produtores recebiam R$ 73,5 por saca.
"Como não importamos praticamente nada, a soja é superávit na veia",
afirma Amaryllis Romano, analista da Tendências Consultoria. No
primeiro semestre, as exportações de grão, farelo e óleo atingiram US$
15,9 bilhões, mais de duas vezes o superávit do País, que vem
minguando por causa da queda dos preços do minério de ferro e da menor
demanda por produtos manufaturados. A participação da soja nas
exportações atingiu 13,6%, ultrapassando o minério, com 12,7%.
O rally da soja é consequência de uma das piores secas da história dos
Estados Unidos. Segundo Luiz Fernando Gutierrez, analista da Safras &
Mercado, a soja está na fase de floração e formação do grão nos EUA,
um momento crítico para a falta de chuva. Por enquanto, 4 milhões de
toneladas já foram perdidas. "Se não chover no próximo mês, as perdas
serão mais severas."
Os estoques mundiais do grão já vinham baixos desde o ano passado,
quando Brasil e Argentina também tiveram prejuízos por causa do clima.
Até agora, os três maiores produtores de soja perderam juntos 21
milhões de toneladas, quase 10% da produção mundial. "É uma quebra
importante. A China continua com uma fome danada e, apesar da crise, a
Europa também não deixou de comer", diz Fábio Trigueirinho, secretário
executivo da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais
(Abiove).
Como faltou produto, o preço disparou. "O pessoal está rindo sozinho",
admite Aroldo Gallasini, diretor-presidente da Coamo Agroindustrial
Cooperativa, de Campo Mourão, no Centro-Oeste do Paraná. "Em 20 dias,
mudou todo o cenário para a agricultura brasileira."
Supersafra
É nesse clima de otimismo que os agricultores começam a plantar a
safra 2012/13 a partir de setembro. Para a Agroconsult, a área
plantada de soja vai aumentar 10%, para 27,9 milhões de hectares. Se o
clima não atrapalhar, a colheita pode chegar 83 milhões de toneladas,
alta de 25% sobre a temporada 2011/12 e volume superior aos 80 milhões
de toneladas previstos pela consultoria para os EUA.
A Safras & Mercado estima a safra 2012/2013 em 82,3 milhões de
toneladas, quase igual aos 83 milhões dos americanos. "Se o clima
continuar ruim nos EUA, o Brasil pode ultrapassar e ocupar o posto de
maior produtor do mundo", diz Gutierrez. O Departamento de Agricultura
dos Estados Unidos (USDA) prevê uma safra de 83 milhões de toneladas
para os EUA e 78 milhões de toneladas para o Brasil.
Segundo Marcos Rubin, analista da Agroconsult, o forte crescimento da
produção de soja na safra 2012/13 será uma consequência da perspectiva
de rentabilidade do agricultor, que hoje é excelente. Além das
cotações internacionais recordes, o setor também é favorecido pela
desvalorização do câmbio, que elevou os preços recebidos em reais.
"É um bom momento, não há como negar. Os custos também subiram e boa
parte da safra atual já estava vendida. Mas, sem dúvida, teremos um
ritmo de crescimento chinês na próxima safra", diz Carlos Fávaro,
presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso
(Aprosoja).
A comercialização da nova safra está acelerada. Os agricultores
brasileiros já venderam, em média, 35% da produção que não foi sequer
plantada, porcentual superior a média de 10% desta época. Segundo
Cleber Noronha, analista do Instituto Mato-grossense de Economia
Agrícola (Imea), esse porcentual já chega a 65% em Mato Grosso.
Nos próximos anos, EUA e Brasil devem disputar a liderança global de
produção de soja no mundo, mas a tendência é que os brasileiros se
consolidem no topo porque, mesmo sem aumentar o desmatamento, o País
ainda pode elevar significativamente sua área plantada. O Brasil ainda
deve produzir outros "reis da soja" como Eraí Maggi Scheffer. As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
http://economia.ig.com.br/empresas/agronegocio/2012-07-22/soja-salva-balanca-comercial-brasileira.html
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