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4 de Maio, 2012
Centenas de agricultores concentraram-se hoje no Príncipe Real, em
Lisboa, exigindo o aumento dos preços pagos aos produtores e medidas
legislativas para travar a «ditadura» dos donos das grandes
superfícies que «engordam» à custa de pagar mal.
João Dinis, dirigente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA),
que promoveu o protesto, afirmou que «está à vista» o desequilíbrio de
forças entre quem produz e quem comercializa, e que só é possível
«acabar com a ditadura comercial das grandes superfícies e dos seus
donos pela via legislativa».
Este é um dos pontos do «caderno de reclamações» que os agricultores
foram entregar na Assembleia da República e na residência oficial do
primeiro-ministro, em São Bento, e que a CNA considera ser a forma de
garantir escoamento à produção nacional para reduzir as importações e
salvaguardar a qualidade alimentar dos portugueses.
«Propomos alterações à lei existente e nova legislação para regular e
evitar os abusos imensos, colossais, que, impunemente, as grandes
superfícies e seus donos cometem», salientou João Dinis,
acrescentando: «se no dia 1.º de Maio foi possível uma grande cadeia
de distribuição vender os seus produtos a metade do preço normal,
imagine-se o que lucram».
O dirigente da CNA sublinhou que os hipermercados «poderiam pagar
melhor e a tempo e horas à produção e mesmo assim ter margem de lucro
para baixar os preços no consumo».
E condenou: «quem pratica esta ditadura que não queira aparecer como
Pai Natal em Maio, que faça isso todos os dias».
João Dinis admitiu que nem as grandes empresas como a Lactogal têm
poder negocial para enfrentar as grandes empresas de distribuição que
usam as marcas brancas como arma, condicionando a escolha dos
consumidores.
«Os portugueses acabam por ter de escolher aquilo que as grandes
superfícies já escolheram por eles. As marcas brancas pervertem o
direito de escolha», criticou.
A indignação fez-se sentir também no discurso que Albino Silva, da
Associação de Lavoura do Distrito de Aveiro, proferiu em cima do
estrado de uma camioneta que funcionou como palanque improvisado.
«Estas campanhas [promocionais] são feitas e nós sabemos o que custam,
porque vendemos a preços baixos para esses senhores engordarem. É a
nossa custa que o Pingo Doce está a dar os produtos praticamente de
graça, por isso dizemos aos consumidores que com estas atitudes acabam
com a nossa agricultura», gritou ao microfone, enquanto era aclamado
pelos agricultores que vieram de vários pontos do país para «fazer
ouvir alto e bom som a voz da lavoura e do mundo rural».
Os cartazes evidenciavam também o descontentamento dos agricultores
que escreveram 'Já basta de troikas' e 'Não à taxa Cristas', exigindo
à ministra que «cumpra as suas promessas» e pague aquilo que deve.
João Dinis diz que «o Governo deve à lavoura mais de cem milhões de
euros», incluindo seis milhões de euros relativos à sanidade animal e
«quase 80 milhões de euros» que correspondem a 20 por cento das ajudas
directas referentes a 2011.
«Justificava-se que já tivessem sido pagos até por causa dos prejuízos
da seca», declarou.
Depois de vários discursos indignados, os agricultores desceram até à
Assembleia da República numa marcha lenta, colorida pelos tons de
verde e vermelho das bandeirolas e animada pela música tradicional e o
som rural dos chocalhos.
Lusa/SOL
http://sol.sapo.pt/inicio/Economia/Interior.aspx?content_id=48553
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