sábado, 5 de maio de 2012

"Não é sério que se diga que há margens de lucro de 50%"

APED

Dírcia Lopes com Lusa
04/05/12 14:48


Associação de Empresas de Distribuição rejeita estudo do Observatório
dos Mercados Agrícolas, por "não ser sério, nem rigoroso".

O Observatório comparou a diferença entre os preços de quatro produtos
agrícolas - cenoura, pera-rocha, maça e alface - e concluiu que as
margens de comercialização dos hipermercados atingem os 50%.

Num comunicado enviado às redacções, a APED afirma que a metodologia
usada é "incorrecta, inconsistente, e por conseguinte, leva a leituras
erradas e falsas dos seus resultados, o que lhes retira
credibilidade".


O Observatório foi criado pela Assembleia da República para publicar
informações que permitam analisar a evolução dos mercados agrícolas e
da balança agro-alimentar. Além de formular propostas de políticas de
controlo e fiscalização das importações e de promoção da produção
nacional.

A associação que representa marcas como o Pingo Doce ou o Continente
salienta que o estudo não incorpora "todos os custos que a
distribuição e outros operadores económicos da cadeia alimentar
suportam desde que o produto sai do produtor até às prateleiras das
lojas".

O Observatório avançou esta manhã que o caso mais flagrante onde as
margens da distribuição rondam os 50% é o da alface, com este produto
a render apenas 0,38 cêntimos ao agricultor e é vendido a 1,78 euros.
O OMAIAA revela ainda que a cenoura é comprada a 0,32 cêntimos e
vendida a 0,70 cêntimos. As maças são pagas a 0,59 cêntimos aos
agricultores, mas chegam às lojas a 1,34 cêntimos.

Em declarações à Lusa, a diretora-geral da APED - Associação
Portuguesa de Empresas de Distribuição, Ana Isabel Trigo Morais, disse
que a posição da entidade "é de rejeição destes dados da maneira como
estão trabalhados e das suas conclusões".

Isto porque os dados "não estão trabalhados, ao que nos parece, de uma
forma cientificamente credível, desconhecemos o universo destas
amostras e os dados que foram utilizados".

Em segundo lugar, "não é sério, não é rigoroso e não é transparente
que se publiquem dados desta natureza que confundem margens brutos com
margens líquidas e com lucros. É uma total inversão e utilização
abusiva de um conjunto de dados que foram apurados", salientou a
directora-geral da entidade que representa o setor dos hipermercados e
supermercados.

Ana Isabel Trigo Morais salientou que não é possível calcular margens
de comercialização através do preço de venda de um produto num
retalhista, fazendo depois uma subtração ao preço que o agricultor
vendeu o bem.

Toda a cadeia de valor e circuito desde a produção de um produto até
às suas prateleiras, adiantou, têm um longo caminho a percorrer e "há
um conjunto de consumos que são custos quer têm de ser suportados por
toda a cadeia, não só pelos retalhistas, mas também por todo o
processo de transformação", que inclui custos das embalagens, da
energia, da rede frio que garante a frescura dos alimentos, da
logística, dos recursos humanos.

Estes custos "estão absolutamente ignorados neste estudo", salientou
Ana Isabel Trigo Morais. Além disso, os produtos analisados são da
categoria "hortofrutícola", os quais sofrem "uma grande quebra entre a
produção e as lojas nos supermercados porque os produtos se vão
deteriorando".

O custo de quebra, ou seja, os produtos que se estragam ao longo da
cadeia, é também um fator que deve ser incluído para se deduzir a
margem. O estudo tem "falta de rigor e de transparência e logo não tem
nenhuma conclusão que se possa considerar legítima", salientou.

"Não é sério que se diga que há margens de 50 por cento. No final da
linha, o [estudo] vem é confundir, intoxicar a opinião pública com
informações que não são credíveis e prejudicando um sector que tem
neste momento tido a capacidade de transferir para o consumidor
propostas de valor adequadas ao contexto que as famílias estão a
viver", adiantou.

Ana Isabel Trigo Morais lamentou que "não haja um instrumento sério,
transparente e credível que não faça a monitorização". Por isso é que
"a APED esta a trabalhar com o Governo, nomeadamente com o ministério
da Agricultura e o ministério da Economia para a criação de um
mecanismo que produza dados estatísticos que sejam rigorosos e que nos
permitam criar indicadores", adiantou.

"Não podemos considerar este estudo sério sobre o que é cadeia" de
valor, salientou. "Lamentamos que o Observatório se tenha
disponibilizado a tornar público uma informação que é errada. É um
aproveitar muito pouco sério de um tema que tem andado muito na agenda
pública", concluiu.

http://economico.sapo.pt/noticias/nao-e-serio-que-se-diga-que-ha-margens-de-lucro-de-50_143852.html

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