Comércio
02.05.2012 - 07:59 Por Rosa Soares, José Bento Amaro, José Manuel
Rocha, Ana Henriques, Mariana Oliveira
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Houve quem aproveitasse o 1.º de Maio para reafirmar que não cede à
tentação do comércio
(Foto: Nuno Ferreira Santos)
A cadeia descontava 50% a quem comprasse mais de uma centena de euros
e encheu os estabelecimentos do país. A ASAE vai agora analisar se
houve ilícito concorrencial do grupo de retalho comercial
A ASAE, Autoridade de Segurança Alimentar e Económica, está a analisar
a acção de promoção da cadeia Pingo Doce, que na terça-feira, ofereceu
descontos de 50% para quem realizasse compras superiores a 100 euros.
O objectivo, apurou o PÚBLICO, é verificar se as lojas do grupo
Jerónimo Martins (JM) incorreram em algum tipo de ilícito
concorrencial, nomeadamente, a prática de venda abaixo do preço de
custo dos produtos.
"Nesta situação, como em todas as situações semelhantes, a ASAE está a
fazer o seu trabalho e actuará dentro da sua competência se houver
indícios de alguma prática ilícita", afirmou ao PÚBLICO fonte oficial
do Ministério da Economia, que tutela a autoridade pública.
A promoção do Pingo Doce, que não foi precedida de uma campanha de
comunicação pública, acabou, mesmo assim, por gerar uma verdadeira
corrida às lojas do grupo.
Em dia feriado gerou-se o pandemónio nos supermercados de maior
dimensão, que foram varridos por multidões de compradores. Conflitos
entre clientes a tentar passar à frente de outros nas filas para pagar
obrigaram em Almada e na Quinta do Mocho, em Loures, mas também na Rua
Carlos Mardel, em Lisboa, à intervenção da polícia.
Famílias inteiras enfiaram-se dentro dos estabelecimentos a encher os
carrinhos. Quando foi anunciado o encerramento do supermercado de
Telheiras, ao final do dia, um funcionário temia o pior, perante
algumas dezenas de pessoas que ainda tentavam entrar: "Em Odivelas,
Benfica e na Belavista (Chelas) houve pancada e até facadas. Foi
preciso chamar a polícia de choque", contava. As autoridades não
confirmaram a informação, mas foram vários os casos de vandalismo com
laivos de saque e pilhagem, como no Monte Abraão. Em Sintra o IC19
teve de ser temporariamente fechado, porque as pessoas para o centro
comercial Forum eram tantas que o trânsito não escoava. Em Queluz
houve pessoas que foram para a porta do Pingo Doce logo às 4h da
madrugada, para apanhar vez.
"Isto é desumano. Isto é fazer pouco das pessoas", queixava-se uma
porteira de 70 anos, Alzira Gama, os tornozelos num trambolho depois
de sete horas em pé na fila do supermercado de Telheiras para pagar.
Acabou por se sentar numa das muitas cadeiras espalhadas pelo recinto,
que parecia ter sido saqueado em tempo de guerra, muitas das
prateleiras já vazias e mantimentos espalhados pelo chão.
"F... agora só a gamar!", dizia um rapaz de muletas perante a escassez
de mantimentos nas prateleiras à medida que as horas avançavam. Uma
assistente operacional da Câmara de Lisboa explicava que quando chegou
a Telheiras, ainda de manhã, já se havia esgotado o açúcar. "Primeiro
tentei ir ao Pingo Doce de Chelas, onde moro, mas a confusão era tal
que não consegui lá entrar. Depois vim para aqui, estou há cinco horas
na fila com o meu marido. Fomos tirando uns iogurtes da prateleira e
comendo. Pagá-los? O que custam não paga as horas de espera".
Muitos foram perdendo a vergonha e agarrando o que encontraram nas
prateleiras para entreter o estômago, apesar de o estabelecimento ter
zona de refeições, contribuindo para o acumular de detritos nos
corredores. Entre os boiões pagos e os comidos no momento, a
devastação na zona dos iogurtes foi total. Na zona dos champôs a
acumulação de nabos, presuntos e leite tornava impossível uma
orientação lógica dentro da loja. "Parece o fim do mundo!", comentava
um desempregado, perante as dezenas de pessoas a vasculhar em caixotes
de mercadorias como se fossem sem-abrigo. As zonas de bebidas foram
das mais afectadas pelo tumulto, por via das garrafas partidas, que
iam sendo paulatinamente levadas pelos funcionários da limpeza.
Supermercados houve que encerraram temporariamente a meio do dia, numa
tentativa de retomar a normalidade e repor os produtos levados em
barda. Uma cliente da loja da Penha, em Faro, Otávia Brito, contou à
Lusa que estava à espera que as portas reabrissem para ir fazer mais
compras, depois de já ter gasto perto de 700 euros, valor que, sem o
desconto, se cifraria em 1400."A mim não me apanham cá noutra. Por
amor de Deus!", dizia uma desempregada em Telheiras, os congelados há
muito derretidos dentro do carrinho de compras roubado no vizinho
Continente. Quem não conseguiu carrinho improvisou. Alguns arrastaram
pelo chão enormes pedaços de cartão com os produtos em cima.
O caos foi tal forma que a Jerónimo Martins se viu obrigada a
antecipar a hora de fecho dos estabelecimentos, das 20h para as 18h,
de forma a poder escoar "em segurança" os clientes."Para, até à hora
de fecho da loja, as pessoas poderem fazer os seus pagamento e poderem
sair", referiu à agência Lusa fonte do grupo de distribuição. com A.
H., J.B.A. e J.M.R.
http://economia.publico.pt/Noticia/asae-analisa-promocao-que-gerou-corrida-louca-as-lojas-do-pingo-doce-1544302
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