quinta-feira, 17 de maio de 2012

Leite de burra faz bem às exportações

11.05.2012
Filipe Carvalho e Miguel Carvalho exportam 99% da produção de leite de
burra em pó. A Ach Brito é o seu único cliente nacional.

Cada a vez mais raro e alvo de crescente procura, o leite de burra,
que apresenta grandes semelhanças com o leite materno humano, tem
aplicações possíveis na alimentação e indústria cosmética. Estas foram
algumas das frases-chave que Filipe Carvalho não conseguiu tirar da
cabeça a partir do momento em que as leu, casualmente, numa revista
com que matava o tempo numa longa viagem de comboio. A trabalhar numa
área comercial ligada à gestão de frotas automóveis, sentia-se a
precisar de mudar de vida e aquelas linhas impressas levaram-no a
pesquisar, fazer contas, pesar os riscos de um negócio que lhe parecia
claramente ter "patas" para andar. Decidiu avançar e, em 2008, nascia
a Naturasin – Criação de Gado Asinino, Lda, comprometida com a
preservação dos burros de Miranda, a única raça autóctone da espécie,
e com a afirmação de um projeto económico com potencial de
crescimento. E a verdade é que o leite de burra nacional – em pó
liofilizado como produto final – já chega a vários países europeus e,
sobretudo à Ásia, dando origem a sabonetes, cremes e artigos
similares. Destinos além-fronteiras que absorvem toda a produção
(99%), à exceção de uma ínfima parte reservada para a empresa nacional
de produtos de luxo Ach Brito.



Para Filipe Carvalho, a Naturasin significou retomar "o lado agrícola"
a que um dia quis dar seguimento, antes de enveredar pela Gestão de
Empresas. Mas com muito pragmatismo. "Na verdade, nunca tinha tido
terras ou animais, nem um cão sequer, e, portanto, percebi que
precisava de alguém que me ajudasse nesta área", conta o empresário,
enquadrando a associação com o zootécnico Miguel Carvalho. A escolha
do tipo de raça também é simples de explicar: "Por um lado, os
asininos de Miranda constituem a única raça autóctone portuguesa de
burros, o que dá direito a um subsídio superior; por outro, como foram
sempre bem tratados durante a sua existência são dóceis, não dão
coices, não mordem…".


O projeto deu os primeiros passos em parceria com a Escola Superior
Agrária de Coimbra, onde se realizaram os muitos estudos necessários
para adequar o produto aos fins traçados. "Só que, entretanto,
encontrámos um cliente, começámos a vender e precisávamos de faturar.
Daí termos avançado para a criação da empresa", explica o
empreendedor. Só a partir do final de 2011 é que ficou concluída a
construção da sala de ordenha na pequena unidade de transformação do
leite que hoje em dia labora em Coruche. A legalização do negócio
também foi demorada. No entanto, o problema que ameaça prolongar-se
mais é a falta de matéria-prima.


"Temos um total de cerca de 50 cabeças de gado asinino que inclui um
macho garanhão, mais de 20 fêmeas adultas e o resto são crias", indica
Filipe Carvalho. O que se traduz em cerca de 1500 quilos de leite de
burra em pó por ano, oferta insuficiente perante a procura. "Acabei de
percorrer quase todo o país e só conseguimos comprar uma fêmea da raça
autóctone!", lamenta o empresário, dando conta que os "censos" sobre a
espécie em Miranda do Douro apontam para a existência de apenas cerca
de 400 fêmeas reprodutoras, com uma idade média muito alta, perto dos
20 anos.


Assim, sendo quase impossível crescer na vertente leiteira, resta
investir em maquinaria, para aumentar a capacidade de transformação.
Em termos de apoios, a Naturasin tem beneficiado de dois fundos
externos (o de Jovem Agricultor e um outro do Proder), os quais, no
entanto "estão a terminar".



BI Empresarial



Promotores:

Filipe Carvalho, 46 anos

Miguel Carvalho, 39 anos



Formação:

Filipe Carvalho é licenciado em Gestão de Empresas pelo Instituto de
Novas Profissões e
Miguel Carvalho possui bacharelato em Engenharia Técnica de Produção
Agropecuária pela Escola Superior Agrária de Beja.



Área de atividade:

Produção de leite de burra. O produto final é o leite de burra em pó
liofilizado (a Naturasin produz 1500 quilos de leite de burra em pó
por ano).


Data de criação da empresa:

A empresa foi criada em 2008 mas só em novembro de 2011 reuniu todas
as condições de instalações.



Público-alvo:

Indústria cosmética.



Investimento inicial:

20 mil euros.



Estratégia de gestão:

"Estar focado nos objetivos da empresa, produzir o máximo ao mínimo
custo e vender com uma boa margem. A melhor dica é planear e seguir à
risca o orçamento sem nunca permitir desvios que possam pôr em causa a
continuidade da empresa".


Principais dificuldades sentidas:

"A principal dificuldade foi a legalização do negócio, já que as
burras não eram consideradas animais produtores de leite e conseguir
enquadramento legal para isso foi um processo muito difícil e longo",
diz Filipe Carvalho.



Sítio online:

www.naturasin.pt

http://aeiou.expressoemprego.pt/Actualidades.aspx?Art=1&Id=2827

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