quarta-feira, 6 de junho de 2012

Corrigir os erros de seis décadas

Diversidade Biológica

06 Junho 2012 | 09:00
José Miguel Dentinho
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É essencial para o planeta e para a humanidade, é fundamental saber
conservá-la e geri-la
Cidade do México| A pressão urbana das grandes metrópoles é uma das
maiores ameaças globais à biodiversidade.


A Convenção para a Diversidade Biológica, à qual pertencem 193 nações
do mundo faz 20 anos. Resultou da cimeira do Rio de 1992 e visava
impedir a perda de espécies. Mas será que adiantou alguma coisa?

Hoje, estima-se que o número de espécies que habitam a Terra varie
entre dois e 100 milhões. Por isso, e segundo Braulio Dias, secretário
executivo da Convenção para a Diversidade Biológica, não se consegue
ter uma estimativa precisa da perda de biodiversidade. É um facto que
não causa surpresa, devido ao grau de incerteza que os investigadores
enfrentam perante a realidade. Mas também significa que não se pode
precisar o número real de espécies que se estão a perder por unidade
de tempo.


No entanto, sabe-se que os factores que conduzem à eliminação de
espécies estão a intensificar-se devido ao crescimento da população do
planeta e do consumo dos recursos, a maior parte das vezes com base em
actividades não sustentáveis. Ou seja, continua a haver conversão do
uso das zonas florestadas para a agricultura e urbanização, aumenta a
poluição e as alterações climáticas intensificam-se.

A pressão urbana e a conversão de terras para a agricultura constituem
a maior ameaça global à biodiversidade do planeta. E não é um problema
actual. Basta pensarmos que, no final do século XIX, a floresta
portuguesa era quase insignificante e limitada à zona sul do país,
devido à exploração de madeira como fonte energética e como material
de construção e à conversão de terras para a agricultura. Mas os
planos de florestação, desenvolvidos desde essa data, permitiram que
hoje ela cubra mais de 30% do nosso território.

"Em rigor, as actividades de exploração de recursos naturais bióticos,
por si só, não constituem uma ameaça à biodiversidade", diz Paula
Sarmento, presidente do Instituto da Conservação da Natureza e da
Biodiversidade (ICNB). "O problema surge quando há uma
sobre-exploração dos recursos, que corre quando determinadas
populações de seres vivos são colhidas a taxas superiores à da sua
reposição", acrescenta. Também quando a actividade de exploração
implica a destruição do habitat onde elas se desenvolvem, impedindo a
sua renovação. O excesso de exploração de um determinado recurso
natural pode, assim, levar à extinção de populações de ser vivos ou
mesmo de espécies inteiras de animais e plantas.

Ou seja, a actividade humana, desenvolvida de forma não sustentável,
leva ao empobrecimento e ruptura dos serviços prestados pelos
ecossistemas. As consequências são sobejamente conhecidas. Em
Portugal, temos o caso do Bacalhau da Terra Nova, que quase levou à
extinção da espécie nas costas do Canadá, até pelo impacto que teve na
indústria da pesca longínqua nacional.

Além do empobrecimento paisagístico e de recursos naturais, a perda de
biodiversidade pode aumentar a vulnerabilidade à erosão e à ocorrência
de catástrofes naturais como cheias, deslizamento de terras e
incêndios. Também levar ao aparecimento de pragas, devido à mudança
das condições climáticas para circunstâncias que lhes são favoráveis.

A alteração dos ecossistemas naturais intensificou-se ainda mais nos
últimos 50 anos, com perdas por vezes irreversíveis de biodiversidade.
Mas esta é essencial.

Basta, entre muitos outros benefícios que proporciona à humanidade,
lembrar o efeito na mitigação de prejuízos das alterações climáticas
como a ocorrência de tempestades e cheias, pelo papel que tem na
estabilização do clima e do ciclo da água. É, por isso, que a sua
conservação e gestão sustentável é fundamental.






A Rede Natura 2000

A Rede Natura 2000 é uma rede ecológica para o espaço da União
Europeia. Tem, como finalidade, assegurar a conservação a longo prazo
das espécies e dos habitas mais ameaçados da Europa, contribuindo para
parar a perda de biodiversidade. Constitui o principal instrumento
para a conservação da natureza na União Europeia. Actualmente cobre
cerca de 18 % do território e tem contribuído para a protecção de
espécies ameaçadas e preservação de espaços verdes de lazer.

A legislação sobre a qualidade do ar e da água tem vindo a reduzir a
pressão sobre a biodiversidade e a população. Por outro lado, a
intensificação da utilização dos solos, a perda de habitats e a
sobrepesca impediram a UE de atingir a meta almejada de suster a perda
de biodiversidade até 2010.






Dados-chave

• A biodiversidade engloba todas as espécies de seres vivos existentes
no planeta. Desempenha um papel fundamental para a espécie humana,
pois cerca de 40% da economia mundial e 80% das necessidades dos povos
dependem dos recursos biológicos.

• Cerca de metade dos medicamentos mais prescritos nos Estados Unidos
e uma fracção consideravelmente mais alta nos países em
desenvolvimento derivam de compostos naturais.

• A biodiversidade é um sistema em constante evolução e mutação. A
meia-vida média de cada espécie é de um milhão de anos e 99% das que
surgiram sobre o nosso planeta já estão extintas.

• Projecções indicam que a biodiversidade deverá decrescer 10% até
2050, principalmente na Ásia, Europa e África Austral.

• Segundo dados da ONU, há quase 48 mil espécies ameaçadas em todo
mundo, 17 mil das quais estão em perigo de extinção.

• Estima-se que cerca de 2 milhões de hectares do solo terrestre, uma
área equivalente a 15% da sua superfície, estejam degradados devido à
actividade humana.

• Portugal, no enquadramento europeu, é considerado um país rico e
diversificado em flora e fauna. Possui um elevado número de espécies
endémicas, consideradas como relíquias do ponto de vista genético.

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