06 Junho 2012 | 09:00
Carlos Teixeira
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OpiniãoPortugal: da biodiversidade à economia resiliente
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Só investindo na conservação da natureza e nos serviços dos
ecossistemas por ela gerados, o país estará a proteger o seu
território, construindo uma nova economia resistente.
Portugal é um país rico em biodiversidade. Hoje podemos talvez dizer
que nunca os portugueses tiveram este facto tão presente como o têm
hoje.
Se, por um lado, a maior parte da população portuguesa terá alguma
dificuldade em definir o conceito, por outro existirá uma percepção
latente de que a biodiversidade é importante para o país, conforme
pareceram ilustrar as últimas sondagens realizadas pelo Eurobarómetro
a este respeito.
As origens desta riqueza na Península Ibérica estão intimamente
relacionadas com o papel que este território desempenhou durante a
última glaciação, terminada há cerca de 14 mil anos. Nesse período, a
Península, sobretudo nas regiões litorais do centro e sul, funcionou
como refúgio para muitas espécies, cuja área de distribuição encolheu
face à incontornável presença do gelo que cobria a maior parte do
território Europeu.
Na actualidade, muita da diversidade biológica que existe em Portugal
reveste-se de um carácter único. Das suas cerca de 4000 espécies de
plantas, por exemplo, os Açores contará com 78 endemismos (espécies
que não existem em mais nenhum local do planeta), o continente com 150
e a Madeira com 157. Podemos encontrar igual riqueza nos animais. No
último Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal encontramos 512
espécies que incluem mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes de
água doce.
Esta realidade, que parece animadora, está contudo refém de uma
conjuntura pouco favorável. Com efeito, das 512 espécies de
vertebrados referidas, 42% estão classificadas com um estatuto de
conservação preocupante, ou seja, em perigo de extinção.
Um dos grupos mais ameaçados é o dos peixes de água doce. A destruição
e contaminação dos cursos de água que correm em Portugal, sobretudo a
partir dos anos 50 do século XX com a construção de grandes barragens,
ditou o declínio de muitas espécies.
Espécies como o lince-ibérico e o lobo-ibérico são emblemáticas no que
se refere ao estado actual de ameaça que afecta a nossa restante
biodiversidade.
Porém, um país com uma economia resiliente só poderá existir se
assentar uma parte significativa da sua estrutura económica naquilo
que de mais sólido, resiliente e único tiver. Em Portugal nada há de
mais único do que a sua natureza diversa, rica e fértil, tantas vezes
transposta para a cultura dos homens que dela dependem e que nela
habitam, ainda que imersos na teia urbana.
Num contexto internacional, em que competir com nações emergentes no
sector dos bens de consumo se tem tornado manifestamente impossível,
Portugal deve investir em sectores nos quais ainda seja possível
apostar em factores diferenciadores que mais nenhuma nação possa
oferecer.
Só investindo na conservação da natureza e nos serviços dos
ecossistemas por ela gerados e que podem alimentar sectores como o
Turismo, a Agricultura e a Investigação Científica, entre outros,
Portugal estará a proteger o seu território, construindo uma nova
economia tão resistente e resiliente quanto ele próprio.
*Biólogo e vice-presidente da Liga para a Protecção da Natureza
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=560915
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