25.06.2012
Marisa Soares
Espanha está a viver a maior seca desde 1912, o que levou o Governo a
decretar o estado de emergência para poder reduzir o caudal do rio
Tejo que chega a Portugal.
Segundo o jornal El País, nas últimas semanas foram encontrados
milhares de peixes mortos no rio, na região de Toledo. O cenário
descrito pelo diário espanhol é deprimente e deve-se, segundo as
autoridades espanholas, à seca e à contaminação da água.
O presidente da Confederação Hidrográfica do Tejo, um organismo do
Ministério do Ambiente espanhol, diz que o problema foi provocado por
fugas num colector no município de Toledo, e que as águas residuais
sem tratamento foram vertidas directamente para o rio.
O município, porém, responde com um vídeo e fotografias de peixes
mortos no rio antes de este chegar a Toledo. O presidente do
município, o socialista García-Page, atribui a culpa aos transvases do
Tejo para o rio Segura. "O Tejo está doente, e a água que tem está
suja", disse o autarca ao El País.
Segundo o diário, o Governo espanhol deve aprovar em breve um novo
transvase do Tejo para o rio Segura para os próximos três meses – até
agora, os transvases eram semestrais –, o que deve reduzir ainda mais
a quantidade de água que chega a Portugal.
Já em Março, as autoridades espanholas anunciaram que iriam reduzir os
caudais para o rio Douro, uma situação prevista na Convenção de
Albufeira, que gere os rios partilhados por Portugal e Espanha.
O PÚBLICO contactou o Ministério do Ambiente português, mas ainda não
obteve resposta. Neste caso, o Governo tem que ser formalmente avisado
da decisão espanhola.
A Convenção de Albufeira, em vigor desde 2000, prevê que em caso de
seca o país não seja obrigado a cumprir os caudais trimestrais e
anuais. Essa situação já aconteceu em 2005, ano em que se verificou um
episódio de seca excepcional em toda a Península Ibérica.
Quercus preocupada com qualidade da água
De acordo com Francisco Ferreira, da Quercus, Espanha terá comunicado
a Portugal já em Março a situação de excepção por motivo de escassez
de água, para as bacias hidrográficas do Minho, Tejo e Douro.
A partir do momento em que é declarada a situação de excepção, Espanha
deixa de estar obrigada a garantir os caudais mínimos trimestrais e
anual. No entanto, de acordo com o artigo 19.º do texto da Convenção,
quando os dois países entram num regime de excepção têm de se
coordenar de forma a garantir as necessidades para os usos
prioritários da água – como a rega, o consumo humano e os usos
ambientais.
"Tanto quanto sabemos, Portugal ainda não se articulou com Espanha na
definição destes caudais, e é importante fazê-lo com urgência porque
já há conhecimento da situação desde Março", afirma Francisco
Ferreira.
Outra preocupação dos ambientalistas é o facto de o texto da Convenção
se referir apenas à quantidade de água, remetendo a questão da
qualidade para a legislação comunitária. "As duas coisas estão
ligadas", considera Francisco Ferreira, sublinhando que "menos
quantidade de água significa menos diluição dos nutrientes, e isso
significa menos qualidade".
"Portugal já tem um problema no Verão, em que a zona do Tejo
Internacional fica toda verde por causa do excesso de nutrientes
[eutrofização]", lembra o ambientalista. "Com o caudal menor, podemos
ter um agravamento grande desta situação", alerta.
http://ecosfera.publico.pt/noticia.aspx?id=1551862
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