2012.06.27 (00:00) Distribuição
A recessão bateu à porta das grandes cadeias de supermercados, cujas
receitas já caíram este ano entre 3 e 5%. Consumo está em queda há 18
meses consecutivos, segundo o Banco de Portugal. Os números do consumo
são arrasadores, a queda faz-se sentir ininterruptamente desde
Novembro de 2010 e já está a afectar o retalho alimentar.
Os portugueses estão a poupar no supermercado: o encerramento de lojas
no comércio tradicional e de cadeias de supermercado são o reflexo
claro dessa realidade. Nos primeiros cinco meses de 2012, apurou o
Expresso, o volume de vendas conjunto das grandes cadeias da
distribuição registou uma queda inédita entre 3% e 5%.
Os sintomas da crise foram-se acumulando nos últimos tempos. Em finais
de 2011, a cadeia de supermercados AC Santos — que chegou a ter 21
lojas na Grande Lisboa — foi declarada insolvente. O grupo Sá encerrou
em maio a sua loja no Campo Pequeno e decidiu recentrar a actividade
na Madeira. O gigante Auchan anunciou o encerramento da sua loja em
Santarém em julho. O recuo nas vendas das grandes cadeias da
distribuição faz-se sentir em toda a linha. A abertura de novas lojas,
que ainda em 2011 era uma realidade, passou a ser praticamente
inexistente. O desinvestimento é notório.
"Estamos a viver a maior crise de que há memória no sector da
distribuição. Já fecharam dezenas de lojas depois do acentuar da
crise", constata Luís Reis, presidente da Associação Portuguesa de
Empresas de Distribuição (APED).
Ainda no início de 2011 os operadores do retalho alimentar afirmavam
que os consumidores estavam a transferir os gastos nos restaurantes
para a compra de comida nos supermercados, inclusive gourmet. Mas esse
tempo chegou ao fim.
Os impostos subiram, houve cortes nos subsídios de Natal e agora nos
de férias. Resultado? Se em 2011 os consumidores portugueses
conseguiram 'absorver' os cortes no seu rendimento mediante a compra
de produtos mais baratos dentro das mesmas categorias (ver texto ao
lado), em 2012 essa tendência já não é suficiente para anular o forte
impacto da austeridade no bolso dos cidadãos.
Nada como os números para explicar a crise. O consumo público e
privado caiu €1,5 mil milhões para €35,7 mil milhões entre o primeiro
trimestre de 2011 e o período homólogo de 2012, segundo o Instituto
Nacional de Estatística (INE). A quebra do consumo privado em 2011 foi
de 3,9% e a previsão do Banco de Portugal é que seja de 7,3% este ano.
Como a alimentação tem uma elasticidade menor do que o resto do
consumo, é natural que a descida seja inferior.
Mas admite-se que se se mantiver a relação entre o consumo alimentar e
o consumo global, a retracção em 2012 seja o dobro da verificada em
2011. Até porque os dados indicam que a quebra no consumo dá-se há 18
meses consecutivos — no retalho alimentar a série vai em 11 meses.
No ano passado, revelam dados da Nielsen, o cabaz de compras dos
portugueses sofreu já uma redução de €156 milhões no volume de vendas
do retalho alimentar em Portugal. Em 2012, com o aumento do desemprego
— já atingiu as 819 mil pessoas — e a quebra do rendimento, o corte no
cabaz de compras só pode ser maior.
A sucessiva aposta das cadeias da grande distribuição em descontos,
promoções e campanhas de fidelização de clientes tem tentado inverter
este cenário. Mas Luís Reis assume que é praticamente inexistente a
margem das empresas para continuar a acompanhar a tendência de perda
de poder de compra. "A margem da distribuição está nos 3%. Este
negócio tem uma margem muito reduzida, gera é muito volume. E não tem
muito mais espaço para não repercutir aumentos da produção e outros
custos", antecipa o líder da APED. E avança com um exemplo concreto
desse cenário. "A nova taxa de segurança alimentar vai provocar um
aumento dos preços. Não há alternativa. Ou paga o consumidor ou terá
de pagar o produtor", diz.
Em causa está a nova lei que impõe o pagamento de €5 a €8 por metro
quadrado a todas as lojas que tenham mais de 2 mil metros quadrados.
Uma taxa que o Governo justifica com a necessidade de financiar
controlos oficiais — como é o exemplo da segurança alimentar (ASAE) —
e que terá de ser paga por cerca de duas mil lojas.
Este é, aliás, um exemplo da pressão legislativa que o sector sente
que o poderá ameaçar mais. Nomeadamente pela esperada interferência
governamental nas relações entre a produção e a distribuição. "Essa
legislação deve defender o equilíbrio de forças entre as duas partes.
Mas também deveria equilibrar as forças entre os retalhistas e os
grandes produtores. A Sonae ou a Jerónimo Martins continuam a
sentar-se à mesa com produtores muito maiores do que eles, com muito
maior facturação e peso negocial", alerta. "É que 60% a 70% da cesta
básica do consumidor português é constituída por produtos de
multinacionais", diz Luís Reis.
Neste contexto, a APED entende que o Governo deve fazer uma "distinção
clara" entre pequenos produtores e grandes multinacionais. "A
distribuição tem ajudado esses pequenos produtores. Não por ser moda,
mas porque precisamos de produção local: sai-nos mais barato e mais
rápido se nos conseguirmos abastecer em Portugal", defende. Não
obstante, a própria APED admite que "há situações em que a
distribuição tem práticas criticáveis junto dos pequenos
fornecedores". "Estamos disponíveis para corrigir isso", garante Luís
Reis.
O gestor revela que a APED está a participar na criação de um código
de boas práticas no âmbito do Eurocommerce, para regular a relação
entre a distribuição e a produção, e cuja divulgação está prevista
para 4 de julho.
Desemprego a crescer
Outro dos efeitos já visíveis na crise que afeta o sector do retalho é
a diminuição do emprego gerado pelas empresas associadas da APED. De
2010 para 2011 houve uma quebra de 6 mil funcionários (ver caixa). A
situação vai deteriorar-se em 2012. "A média de contratação sem termo
em Portugal ronda os 68%. Ou seja, 32% são precários. A APED estava em
linha com o país. Mas em 2011 a média de contratos sem termo entre os
associados da APED subiu para os 72%. Está a haver uma recomposição
nos quadros das lojas e o que está a acontecer é que estão a sair as
pessoas que estavam com contrato a prazo", explica Luís Reis.
FONTE: Expresso
http://www.anilact.pt/informacao-74/5974-portugueses-estao-a-poupar-no-supermercado
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